Desde suas origens os seres humanos tiveram conexões com dimensões espirituais da realidade para além do mundo físico. A partir desse impulso criaram as várias tradições que influenciam as vidas de bilhões de pessoas no planeta.
A ecologia espiritual lida com as relações dos seres humanos com aquilo que considera sagrado: Deuses e deusas, santos, elementos da natureza, fontes de energia, entes abstratos. A ecologia espiritual enfatiza a conexão do ser humano com o ambiente, o respeito e o cuidado com a natureza, a importância da consciência e da responsabilidade ecológica.
Os artistas em todas as épocas se conectaram com a espiritualidade. Por meio de vínculos com as religiões estabelecidas, pintaram os deuses, santos e seres sagrados. Muitas pinturas de Leonardo da Vinci e do Mestre Athayde e esculturas do Aleijadinho e de Michelangelo mostram cenas da tradição cristã. Alguns artistas pintaram a relação com a natureza sagrada, o sol, os céus, as águas, as plantas e os animais; outros retratam a busca da centelha divina dentro de si e das pessoas humanas.
A busca pelo espiritual na arte está presente em toda a obra de Maria Helena Andrés, como escritora, artista ou ilustradora. Escreveu sobre isso em seus livros Vivência e Arte, Os caminhos da arte e Encontros com mestres no oriente. Como artista plástica, inicialmente desenhou vias sacras e pintou Madonas barrocas.
Estudos para Via Sacra - nanquim sobre papel 1953
Ela escreveu que “As madonas barrocas, ligadas à nossa tradição, foram uma porta entre a Terra e o Céu, entre a Guerra e a Paz. Elas me conduziram para novos caminhos.”
Madona Barroca, óleo sobre tela, 1966.
A partir da metade de sua vida, na década de 70, realizou várias viagens de estudo à Índia e abraçou uma perspectiva holística e integral. Pintou mandalas, que simbolizam a unidade cósmica. Ela escreveu: “Os meus quadros de Mandalas foram feitos para finalizar todas as fases. Mandala sempre representa um círculo em que todas as faces são iguais. É um símbolo de integração, e eu, naquela época, estava integrando todas as minhas fases, para começar a pintar em grandes espaços... Mandala é um símbolo cósmico muito usado pelos orientais em suas meditações. Os cristãos também adotam a forma circular, nos vitrais de Chartres, Notre Dame e vários outros.”
Criou tapeçarias com mandalas para a igreja de Nossa Senhora de Copacabana, no Rio de Janeiro, e painéis em azulejo com mandalas para igrejas na Serra da Piedade e em Diamantina.
Fez paralelos entre os templos, procissões e deuses indianos e os santos cristãos, em ilustração no álbum Oriente-Ocidente, integração de culturas.
ilustrações no Álbum Oriente-Ocidente, 1986.
Fez várias ilustrações sobre divindades hindus para o livro infantil Pepedro nos caminhos da Índia. Algumas dessas divindades são figuras de animais, como o elefante (Ganesh), o macaco ( Hanuman) , o boi (Nandi) naquela tradição que sacraliza a natureza.
Shiva, Parvati e Ganesha, o deus elefante removedor de obstáculos.
A deusa hindu Kali, ilustração para o livro "Pepedro nos Caminhos da Índia.
Sarasvati, deusa do conhecimento e das artes . Ilustração para o livro "Pepedro nos Caminhos da Índia".
Como ilustradora, desenhou divindades de várias civilizações e culturas: a Iemanjá das tradições africanas e Afrodite, da mitologia romana.
Figuras: Iemanjá e Afrodite -ilustrações para o livro A água fala, 2018.
Figuras geométricas, abstratas, são expressões da essência.
Maria Helena realçou a dimensão espiritual na arte construtiva, não figurativa, inclusive na tradição indigena brasileira e escreveu: “A arte construtiva propõe uma forma impessoal, sem fronteiras regionalistas, que congrega os irmãos desse planeta num todo espiritual, transcendente. Isso porque o seu processo exige disciplina e muita concentração. Exige limpeza, clareza e desligamento do mundo real para a construção de uma outra realidade artística...Isto significava mergulhar dentro de si mesmo em busca da ideia primordial que se transformaria numa forma nova, completamente desligada da figuração externa. “
"A pureza na arte concreta é imprescindível. Talvez seja ela a ponte que liga a arte à ciência, à matemática e à física, penetrando também no plano em que se encontram com o espiritualismo inato do ser humano. "
Na sua busca do autoconhecimento, escreveu que o Deus onipresente não está apenas acima de todos, lá no alto e bem longe, mas está dentro de cada um. Diversas tradições espirituais enfatizam a presença dessa centelha divina em cada ser humano.
Com a consciência da importância da unidade humana, escreveu que “O caminho das estrelas só poderá ser conquistado pelo homem realmente integrado e evoluído". Desenvolvendo sua própria criatividade, o homem se elevará do caos para a harmonia, da violência para a serenidade, da competição para a compreensão, da diversificação para a Unidade e do individualismo para a Totalidade.”
Muito bom, saber dos grandes talentos de Maria Helena Andrés!
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