Ecologizar
as crenças é aplicar os conhecimentos das ciências ecológicas e a sabedoria da
consciência ecológica àquilo em que se acredita. No campo ambiental, há muitos
interesses controversos: são polêmicos temas como a energia nuclear, organismos
geneticamente modificados, reciclagem de
resíduos.. O papel reciclado, por exemplo, pode por um lado reduzir o corte de
árvores; por outro, sua produção exige usar mais água, mais químicos para tirar
a tinta; seria ele ecologicamente mais amigável que o papel branco, quando se
computam os custos logísticos, as distâncias percorridas e a emissão de gases
de efeito-estufa durante o seu recolhimento? A energia nuclear, muito tempo
execrada pelos ambientalistas, tem sido resgatada por cientistas como James Lovelock, pelo fato de
não emitir gases de efeito-estufa.
O
temor, o medo, a busca da segurança se encontram na raiz de posturas
ambientalistas prudentes. A crença é, então, escudo de proteção contra riscos
ecológicos e ameaças. Assim, o movimento antinuclear se apóia no medo ao terror
e ao lixo atômico; o movimento contra os organismos geneticamente modificados
se apóia no princípio da precaução e na prudência ecológica, considerando
temerário apostar em novos produtos e processos cujos impactos não se conhecem
bem.
Nesse
contexto de informações incompletas, como diferenciar o consumo consciente do
consumo crente, ecoreligioso? A crença pode ser uma forma de auto-engano, de
preferir negar ou não ver algo que para outros é evidente. Desconstruir,
desmitificar crenças, desaprender, pode ser útil no caminho de aproximação do que seja mais verdadeiro. Há necessidade de
ciência, de informação abalizada e de conhecimento técnico para evitar
auto-enganos bem intencionados. A moral
e a ética tendem a desaguar em uma pregação que pode ser enganadora, dogmática.
A aceitação inquestionada, a fé, a crença, sem verificação ou consideração da
verdade científica e apoio em conhecimentos, levam a logros e descréditos.
Crenças ecológicas desinformadas levam a equívocos. Boa vontade, boa fé e boas
intenções desinformadas levam a atitudes
e comportamentos aparentemente virtuosos,
porém inócuos ou contraproducentes, além de pouco sábios.
Corre-se
a cada momento o risco de cometer equívocos, ter uma pseudoconsciência sem
ciência, enganar-se por falta de embasamento.
Nesse
contexto, algumas controvérsias são alimentadas por quem tem interesses
específicos, que trata de se movimentar para fazer prevalecer um ponto de vista
ou crença que o beneficie. Assim, por exemplo, uma empresa fabricante de
papinha de nenê pode propagendear que o aleitamento materno não é tão importante
assim. Ou que é substituível sem problemas e com vantagens.
Atualmente
há grande confiança na ciência e na tecnologia, sobre as quais são depositadas
expectativas de que dêem respostas verdadeiras e satisfatórias aos problemas
causados pelas ações humanas. Como ter conhecimento sobre temas especializados,
que necessitam de formação, capacitação, especialização? Num contexto de
especialização crescente, a confiança e a difusão responsável e sistemática de
informações tornam-se necessárias, pois não é possível conhecer a fundo cada
tema. Por outro lado, segmentos da sociedade manifestam desconfiança nos
cientistas e em sua capacidade de responder aos problemas; em parte porque,
seres humanos falíveis, estão sujeitos a serem instrumentalizados por interesses
econômicos. Nesse contexto, comportar-se
a partir de bons padrões éticos e técnicos torna os especialistas confiáveis e
lhes conferem credibilidade.
Há
crenças que não podem ser provadas, e que levam a ações boas e ruins. Uma
crença pode vir a mostrar-se verdadeira ou falsa. Enquanto ela não é comprovada
ou refutada, pode-se acreditar, ter fé e por ela pautar atitudes. Uma crença independentemente
de mostrar-se verdadeira ou falsa, tem,
assim, conseqüências práticas, ao influenciar comportamentos ecológicos ou
antiecológicos. Ecologizar as crenças é, portanto, uma forma de induzir
mudanças de comportamentos e de conduzir a uma crescente ecologização da sociedade.
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(*) Autor de Ecologizar e de Tesouros da Índia