quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

A noosfera na ecologia integral



As ciências naturais e biológicas estudam a matéria e a vida conforme as esferas em que se situam: a barisfera, a litosfera, a hidrosfera, a atmosfera, a biosfera.   
 










Figura 1 - A Noosfera penetrou muito além dos limites da biosfera.  Fonte: Pierre Dansereau (1999)
 Figura 2: Projeção interna e implantação externa da organização dos espaços. Fonte: Pierre Dansereau (s.d).

A noosfera é um conceito elaborado por Wladimir Vernadsky e pelo padre, teólogo, filósofo e paleontólogo Pierre Teilhard de Chardin, em seus estudos sobre o fenômeno humano. Escreve ele: “É verdadeiramente uma camada nova, a “camada pensante”, exatamente tão extensiva, mas muito mais coerente ainda, como veremos, do que todas as camadas precedentes, que, após ter germinado no Terciário declinante, se expande desde então por cima do mundo das Plantas e dos Animais: fora e acima da Biosfera, uma Noosfera. ” (TEILHARD DE CHARDIN, 1966, pg.189). Ela engloba a cultura, ideias, espírito, linguagens, teorias, pensamentos, emoções, sentimentos, informações, geradas ou captadas desde o início da vida.
No campo das ciências biológicas valoriza-se a biodiversidade. Quando têm sensibilidade socioambiental, ecólogos também se ocupam da sociodiversidade e da diversidade humana e cultural.  Uma visão integral da ecologia vai além de seus aspectos científicos, socioambientais e inclui as questões subjetivas, psicológicas, da mente humana.
Pierre Dansereau, numa abordagem pioneira à ecologia integral, incluiu a noosfera nos diagramas em que desenhou as interações entre a atmosfera, pirosfera, litosfera, hidrosfera, biosfera.  Considera a noosfera como um campo que influencia todos os demais. Para além da abordagem socioambiental convencional, ele integrou o espírito humano, a subjetividade e as questões psicológicas às ciências ecológicas. Reconheceu e valorizou a influência da consciência humana e das ações dela decorrentes sobre o rumo da evolução no planeta, o que se torna particularmente relevante no atual período antropoceno da história. (DANSEREAU, 2000).
Muito da ação humana decorre de como se percebe e compreende o mundo, das cosmovisões, do auto interesse e de motivações mentais e emocionais. Dansereau (1999) escreveu sobre as paisagens interiores, que ele denominou inscapes. Elas constituem o espírito de cada indivíduo de modo pessoal, em função de sua história, formações e interesses. Na figura 2 ele mostra como uma mesma paisagem é percebida de modo distinto por um caçador, um agricultor, um lenhador, um minerador, um engenheiro e um poeta, em função de sua história e atividade.
Além das diferenças nas paisagens interiores devidas à história pessoal e à cultura, há diferenças na percepção sensorial de um para outro indivíduo. Assim como a percepção visual enxerga a olho nu apenas o espectro visível, do vermelho ao violeta, e a percepção auditiva não capta os infra e ultrassons, há faixas do espectro da consciência em que estamos sintonizados e outras que escapam a nossa percepção.
O físico e psicólogo Peter Russell observa que
Ainda sabemos muito pouco sobre o modo pelo qual a percepção sensorial leva à consciência e sobre como as ideias surgem. Temos pouquíssimo entendimento sobre nossos sentimentos ou sobre as maneiras com que nossas atitudes afetam nossa percepção e nosso comportamento. E o ser interior, o aspecto mais profundo da mente consciente, permanece tão misterioso como sempre. Esta é a próxima grande fronteira, não o espaço exterior, mas o espaço interior. Nosso poder de mudar o mundo pode ter dado saltos prodigiosos, mas nosso desenvolvimento interior, o desenvolvimento de nossas atitudes e valores, progrediu muito mais lentamente. (RUSSELL, 2006).

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