terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Diversidade de percepções sobre nossa espécie: a importância do autoconhecimento para a construção do amanhã.


Maurício Andrés Ribeiro

                                            
“Oh homem, conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo e os Deuses. ”
 Inscrição no oráculo de Delfos

O autoconhecimento em termos individuais é domínio de filósofos, psicólogos, teólogos, artistas, médicos, curadores. O autoconhecimento em termos coletivos ou sociais é domínio dos sociólogos, cientistas políticos,  economistas, antropólogos, cientistas sociais. O autoconhecimento em termos da espécie é domínio de biólogos, ecólogos, naturalistas etc.
Ao refletir sobre si mesmo, o ser humano formulou definições para expressar as qualidades da espécie à qual pertence. Elas espelham como nos vemos em nossas características e nossos papéis individuais, sociais e como espécie. Cada uma delas corresponde a uma parcela da realidade acerca desse ser multidimensional, com suas grandezas e misérias. Algumas definições enfatizam nossos defeitos e expressam uma visão crítica e autocrítica; outras realçam nossas virtudes. Umas têm conotação humorística; outras percebem potencialidades, uma visão ideal ou um desejo de quem as formula. Várias delas focam nas qualidades da consciência e outras em diferenças biológicas ou genéticas.  Algumas enfatizam o pensamento (Descartes: Penso, logo existo); outras nos descreveram como animal racional, enfatizando a razão. Aristóteles nos enxergou como animais políticos. Hobbes retomou a sentença latina de Plauto que realçou nossa característica predatória, reforçada por Freud (“O homem é o lobo do homem”). Explicitou-se nosso caráter falível (Errar é humano). Fomos designados como Homo demens (“O homem é esse animal louco cuja loucura inventou a razão”, disse Cornelius Castoriadis); como o Homo moralis e o Homo honestus, um primata que coopera e que se comporta com valores éticos; como o Homo sportivus e o Homo ludens, pelas características lúdicas, que compartilha com outros animais que gostam de brincar (Johan Huizinga). O Homo corruptus é uma espécie parasita. Temos capacidade de autorreflexão e de saber-nos ignorantes: o Homo idioticus que se deixa enganar e ao mesmo tempo é capaz de fazer humor e de se enxergar criticamente. O Homo noologicus, é aquele que sabe das consequências de seus atos. Joël de Rosnay, ao explorar as perspectivas para o terceiro milênio, define o homem simbiótico, um ser associado simbioticamente ao organismo planetário que surge com sua própria contribuição e de cuja associação harmônica decorrem benefícios para ambas as partes.
Lista de designações do gênero homo:
Homo habilis
 Homo faber
Homo cepranensis
Homo antecessor
Homo floresiensis
Homo gautengensis
Homo georgicus
Homo naledi
Homo rhodesiensis
Homo rudolfensis
Homo neanderthalensis
Homo heidelbergensis
Homo ergaster
Homo erectus
Homo bellicus
Homo complexus
Homo corruptus
Homo cosmicus  
Homo deletabilis
Homo demens
Homo ecologicus
Homo economicus Homo empaticus
Homo honestus
Homo donatus
Homo idioticus
Homo literatus
Homo lixius
Homo ludens
Homo moralis
Homo noologicus
Homo perfectus
Homo planetaris
Homo proteus
Homo ricus
Homo sacer
Homo sapiens
Homo sapiens idaleti
Homo sapiens sapiens
Homo sapiens global
 Homo sapiens local
Homo superpredator
Homo scientificus
Homo simbioticus
Homo sportivus
Homo stressatus
Homo sustentabilis
Homo tecnocraticus 

Concepção védica sobre o ser humano e seus componentes: o físico, o vital, o mental, o espiritual.
Há ainda outras designações que procuram nos definir como espécie, o significado e o sentido do que estamos fazendo aqui. Entre elas ressalta a de Sri Aurobindo que define os níveis físico, vital, mental e espiritual e  nos situa no processo da evolução (“O homem é um ser de transição. Ele não é final.”“O homem ocupa a crista da onda evolucionária. Com ele ocorre a passagem de uma evolução não consciente para uma evolução consciente.” Ele também realça as potencialidades humanas (“Todas as possibilidades do mundo estão esperando no homem como a árvore espera em sua semente.”) Na concepção védica sobre o ser humano, o corpo físico é um veículo, os cavalos são ser vital com sua energia, emoções e sentimentos, o cocheiro é o ser mental e o passageiro é o ser psíquico-espiritual.
Caminhar em direção ao autoconhecimento não somente como indivíduo ou coletivo, mas como espécie, pode ser crucial para se dar respostas às complexas questões de um planeta em convulsão e em dinâmica transformação.
Cada uma dessas percepções aborda uma faixa do espectro em direção ao autoconhecimento humano. Autoconhecimento que é essencial na atual época antropocena da história que aponta para cenários possíveis de novas eras para o planeta e para a espécie: depois da era paleozoica (da vida animal antiga), a mesozoica (dos dinossauros), e da cenozoica (dos mamíferos),  o que o amanhã nos reserva? O cenário da era eremozoica (E.O Wilson), da era tecnozoica ( Thomas Berry), da era cosmozoica, em que habitaremos no espaço cósmico?; da era ecozoica (Thomas Berry e Brian Swimme), da era ecológica ou da era noológica? Ou outro cenário possível? A era psicozoica (Daniel Bell); a era subjetiva ou a  era espiritual, de Sri Aurobindo, em que o universo interior será melhor conhecido e a dimensão espiritual será mais presente, refletindo assim em mudanças no ambiente exterior?



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