Da história pessoal à do
universo, há várias formas de narrar os fatos e suas versões. Realçam-se alguns
aspectos, em função de interesses e desejos, ao passo que se desvalorizam
outros. A narrativa histórica é seletiva, recorta alguns fatos, dá menos
visibilidade a outros.
Conhecer a própria história
pessoal faz parte das anamneses psicológicas e ajuda a pessoa a se situar no
mundo. A história pessoal remonta ao DNA das arvores genealógicas, aos
antepassados, às encrencas familiares não ou mal resolvidas. A história de uma
organização, de uma empresa, de uma cidade traz referências sobre o que precisa
ser valorizado histórica e culturalmente.
As histórias dos países também
precisam ser recontadas. No caso brasileiro, de uma versão tradicional de
narrativa histórica centrada no ponto de vista a partir da Europa, outros
pontos de vista, são relevantes: o dos
negros, dos indígenas e de outros povos que ajudaram a moldar nossa história.
Outra sociedade que tem uma longuíssima história é a India. Refletindo sobre
ela, o prêmio Nobel de literatura Rabindranath Tagore faz uma observação sobre
a diversidade étnica e cultural daquele pais, fruto de sua história de invasões
e colonizações: “Temos que reconhecer que a história da Índia não pertence a
uma raça em particular, mas a um processo de criação para o qual várias raças
do mundo contribuíram – os drávidas e os arianos, os antigos gregos, os persas,
os maometanos do oeste e aqueles da Ásia central. E por fim, foi a vez dos
ingleses nessa história, trazendo-lhe o tributo de suas vidas; não temos o
poder nem o direito de excluir esse povo da construção do destino da
Índia." Tagore expressa sua convicção
numa história maior: “Há somente uma história - a história do homem. Todas as
histórias nacionais são meros capítulos da história maior. ”
Para além da história do homem –
com toda a diversidade de percepções do que seja o gênero Homo, a da espécie se
embrenha na história natural, com suas explicações evolucionistas, com o
criacionismo bíblico cristão e os demais mitos de criação de outras tradições
ancestrais. Na história natural também se multiplicam polêmicas que opõem
visões cientificas a visões religiosas.
Para além da história da vida na
Terra, há a história do planeta, do sistema solar, das galáxias, do universo,
estudada por Thomas Berry e Brian Swimme. Na pág. 81 do livro “The Universe
Story” eles dizem que “A educação em todos os níveis seria entendida como
conhecedora da história do universo e do papel humano na história. O curso
básico em qualquer colégio ou universidade deveria ser a história do universo.
”
Berry continua (Pág. 71): “A
Educação e a religião, especialmente, deveriam despertar nos jovens uma
consciência do mundo no qual eles vivem, como ele funciona, como o humano se
encaixa na comunidade mais ampla da vida, o papel que os humanos preenchem na
grande história do universo e a consequência histórica dos desenvolvimentos que
moldaram nossa paisagem cultural e física. ” (BERRY, T. – The Great Work, 1999.) Eles
concluem que “A
missão histórica de nosso tempo é reinventar o humano – no nível da espécie,
com reflexão crítica, dentro da comunidade de sistemas de vida, num contexto de
desenvolvimento temporal, por meio da história e da experiência de sonhos compartilhados.
” (Pág. 159)
Ecologizar e expandir a abordagem à história é uma
necessidade nesse período antropoceno no
qual se multiplicam e intensificam crises ecológicas e climáticas.
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