Maurício Andrés Ribeiro
Figura – Azulejaria portuguesa. Azulejos foram usados na arquitetura colonial brasileira. |
Em climas úmidos
protegiam-se as paredes exteriores com
beirais e varandas - que reduziam o desgaste causado pela água de chuva - ou
com azulejos que protegiam paredes e fachadas. O objetivo era evitar o contato excessivo da água
com a edificação. A proteção interna contra umidade excessiva provê higiene e
salubridade, evitando as doenças relacionadas com o ambiente interno úmido.
Azulejos em áreas úmidas como banheiros
e cozinhas e a ventilação natural e entrada de luz solar são recursos valiosos.
Telhados e
coberturas protegiam o interior das casas das indesejáveis goteiras durante
chuvas fortes. Para evitar que a água subisse por capilaridade pelas paredes as
casas eram projetadas suspensas do solo. Em muitas partes, palafitas foram
construídas sobre a água. No clima gelado do ártico os iglus dos esquimós são casas feitas de água em estado sólido, o
gelo que ali ainda é abundante.
Figura– A água presente nos jardins na arquitetura muçulmana. Taj Mahal. India. |
No planalto central
brasileiro isso também é necessário. Nos ambientes interiores, umidificadores
de ar são valiosos para melhorar o bem estar nos periodos secos. Em
Brasília, espelhos d’água umedecem o
ambiente.
No Japão rural, a relação
com a água orienta a escolha de áreas para se
construir: evita-se a construção em declives onde há enxurradas fortes e
evita-se construir nos fundos de vales úmidos e insalubres.
As
águas usadas têm diferentes qualidades, identificadas por cores: as águas
cinzas passaram pelo chuveiro e lavabo e podem ser reaproveitadas em usos que
necessitam menor qualidade da água; águas negras passaram pelos vasos
sanitários e podem ser diferenciadas: as águas amarelas receberam urina e as águas marrons receberam
fezes. Elas podem ser tratadas e reaproveitadas em usos menos exigentes.
Projetos de casas
autônomas procuram fazer com que se auto abasteçam de água. Biopiscinas são
crescentemente usadas, com o tratamento biológico da água. Em ecovilas,
sanitários secos e tratamento biológico de água são soluções adotadas
|
O abastecimento de
água por gravidade é valioso em contextos rurais em que não há energia elétrica
para o bombeamento. Quando escolheu o local para construir uma nova casa, meu
tio fazendeiro estendeu uma mangueira desde o ponto de captação de água e localização
exata da casa foi escolhida depois de verificar que a água ali chegava por
gravidade, sem necessidade de bombeamento.
Em contextos
urbanos modernos há relação entre gastos de água e de energia para seu
aquecimento. Assim, nos apartamentos construídos há 50 anos no início de Brasília
com aquecedor central, para a água quente chegar ao chuveiro, a torneira tem
que ser aberta para deixar escorrer a água fria, com desperdício.
O uso de torneiras
automáticas e eletrônicas, aeradores, reguladores, restritores de vazão,
dispersores em torneiras e chuveiros, vasos sanitários com duplo acionamento
por descarga permite reduzir o gasto de
água e as despesas na conta de água.
Coletores solares
para aquecer água economizam na conta de
energia e também reduzem o consumo de água, ao reduzirem as distâncias para a água
chegar quente aos chuveiros. Em novos
projetos, esse é um recurso valioso.
A legislação de
construções de Curitiba criou o programa de conservação e uso racional da água
nas edificações. Ver http://cm-curitiba.jusbrasil.com.br/legislacao/340030/lei-10785-03
. Isso reduz a conta de água a ser paga
e reduz o volume de água que escorre nas enxurradas. A água de chuva coletada é
usada para todos os usos não potáveis.
O arquiteto hidroconsciente
pode atuar em várias frentes: ao conceber o projeto inicial de modo integrado
com o projeto hidráulico e de uso de energia solar; ao especificar componentes
da construção que economizem ou reusem água, ao aproveitar água de chuva, ao lutar pela aprovação
de legislação municipal de obras que induza a economia de água, seu aproveitamento e reúso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário