Cadeias
alimentares são as transferências de energia alimentar desde os produtores
básicos – as plantas –, para os animais herbívoros – consumidores primários –,
até os animais carnívoros que se alimentam dos herbívoros ou de outros
carnívoros. A
cada degrau que se sobe na cadeia trófica, há perdas de energia. As plantas
absorvem e metabolizam cerca de 1% da energia solar que sobre elas incidem. Os
animais herbívoros aproveitam cerca de 10%
da energia contida nos vegetais. Os
animais carnívoros ou os seres humanos que se alimentam de carne de animais aproveitam apenas 10% da energia
que eles absorveram dos vegetais.
O homem está entre
as espécies que absorvem energia de vários elos da cadeia alimentar e tem uma diversidade de dietas
alimentares, em função do ambiente em que vivem de seus hábitos culturais, de
seus valores espirituais ou religiosos. Há
seres humanos onívoros, carnívoros, frutívoros, vegetarianos, veganos etc e uma
combinação deles. O carnivorismo é o habito sistemático de comer carne e a defesa
de tal hábito. O carnivorismo se espalha pelo mundo de modo diferenciado. No
Brasil, na Argentina, no Uruguai, na Austrália, nos EUA e no Canadá se come
mais de 30 kg per capita de carne bovina por ano. À medida que aumenta a renda
média, tende a aumentar o consumo per
capita de carne, o que é ainda estimulado por campanhas de propaganda do
carnivorismo nas TVs, nos jornais, em revistas e na internet.
A
dieta alimentar baseada em proteínas animais, quando comparada a dietas
baseadas em grãos, hortaliças e proteína vegetal, tem elevado custo energético
e sua produtividade energética é baixa. A
demanda por alimentos que se encontram no alto da cadeia alimentar –
constituídos pelos produtos de origem animal – consome grande quantidade de
terra, água, recursos naturais e defensivos agrícolas; motiva os fazendeiros a
expandir as áreas destinadas a pastagens, provoca a destruição de florestas e
perdas de solo fértil. Os
impactos ambientais de uma dieta carnívora são maiores do que os de uma dieta
baseada em produtos vegetais.
No Brasil, pressão sobre as
florestas e desmatamento decorrem do plantio de soja para alimentar animais na
China ou da pecuária para exportar carne ou abastecer o mercado interno.
Várias
sociedades regularam suas dietas como estratégia para não romper a capacidade
de suporte do seu território e reduzir os riscos de colapso. A Índia é uma das
mais conhecidas, com o vegetarianismo e a sacralização dos animais. Diamond
(2005, p. 356) relata o caso da ilha de Tikopia, no Pacífico Sul, com 4,7km2 e
densidade de 309 pessoas por quilômetro quadrado, continuamente habitada há
quase três mil anos. Uma das estratégias para garantir a capacidade de
sustentação do ambiente foi a mudança de hábitos alimentares, eliminando
aqueles que implicam competição pelo uso da terra:
Uma decisão significativa tomada
conscientemente por volta de 1.600 d.C, e registrada pela tradição oral, mas
também atestada arqueologicamente, foi a matança de todos os porcos da ilha,
substituídos como fonte de proteína pelo aumento do consumo de peixe, moluscos
e tartarugas.
Tikopia e a India são
exemplos de sociedades que superaram o carnivorismo ao constatarem os
benefícios sociais que essas mudanças de hábitos alimentares trariam. Aquilo
que a Índia estruturou há milênios e o que os ilhéus de Tikopia decidiram há
algumas centenas de anos, pode ser uma decisão sábia de ser adotada globalmente
no contexto das mudanças climáticas e da atual crise da evolução. Uma das vozes
que defende esse caminho é Lovelock (Gaia-Alerta final, pg. 80) que
observa
“Nossos líderes, se
fossem todos excelentes e poderosos poderiam proibir a manutenção de animais de
estimação e gado, tornar compulsória a dieta vegetariana e incentivar um grande
programa de síntese de alimentos por indústrias químicas e bioquímicas; fazer
isso apenas restringirá a perda de vida a animais de estimação e gado. É
alentador que o presidente do IPCC, Dr. Pachauri, tenha recomendado uma dieta
vegetariana como um caminho a seguir.”
Atualmente cresce a
consciência e os alertas sobre esse tema. O biólogo Erlich (1999, p. 10) afirma que
“a capacidade de suporte do planeta seria aumentada se todos se tornassem
predominantemente vegetarianos”. O professor E. O. Wilson, de
Harvard, em seu livro “O Futuro da vida”
expressa as vantagens de renunciar ao consumo de carne: "Se todos
aceitassem uma dieta vegetariana, o atual 1,4 bilhão de hectares de terras
aráveis seria suficiente para produzir alimentos para 10 bilhões de
pessoas." O
vegetarianismo poupa espaço, recursos naturais e o meio ambiente, conseguindo,
com baixo uso de recursos naturais, um alto rendimento energético alimentar.
A mudança de dieta
alimentar é um processo cultural e encontra resistências em hábitos arraigados.
O prazer da mesa é um aspecto sensorial que produz apego e constitui um
obstáculo à aceitação de argumentos racionais, como os baseados na ecologia
energética, nas perdas de energia que ocorrem nas cadeias alimentares, nos
impactos ambientais devastadores associados ao consumo de carnes.
No
contexto da crise alimentar, climática, ecológica e hídrica, hábitos alimentares
de baixo consumo de proteína animal podem facilitar o acesso da população
humana a alimentos e ao mesmo tempo não
pressionarem excessivamente a capacidade de suporte do planeta. Superar o
carnivorismo é um passo em direção à
sustentabilidade no planeta. A mega crise da evolução
atual, da qual as mudanças climáticas são um dos aspectos, clama por evolução
da consciência humana que induza a mudanças de hábitos tão básicos e
elementares como o de se alimentar.
Quando grandes empresas produtoras de alimentos passam a disputar o mercado de hamburguer vegetal e de produtos de origem vegetal, isso é um sinal da força dos consumidores cuja tendência de adotar dietas menos baseadas em carne induz o mercado a oferecer novos produtos. Adeus carnivorismo!, parecem sinalizar parte dos consumidores responsáveis por sua própria saúde, pela saúde do ambiente e que demonstram ter compaixão para com os animais.
Quando grandes empresas produtoras de alimentos passam a disputar o mercado de hamburguer vegetal e de produtos de origem vegetal, isso é um sinal da força dos consumidores cuja tendência de adotar dietas menos baseadas em carne induz o mercado a oferecer novos produtos. Adeus carnivorismo!, parecem sinalizar parte dos consumidores responsáveis por sua própria saúde, pela saúde do ambiente e que demonstram ter compaixão para com os animais.
Duas paginas de propaganda de hamburguer vegetal publicadas por empresas concorrentes em O Globo em 6-8-2019 |
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