terça-feira, 28 de junho de 2016

Como conheci a Constituição Planetária


 Em 1977 obtive uma bolsa do CNPq para estudar como pesquisador visitante no Indian Institute of Management em Bangalore, com uma pesquisa sobre Habitat e transferência de Tecnologia.[1]

No India International Centre, onde me hospedei em Nova Delhi, assisti a uma palestra sobre Sri Aurobindo e seu pensamento político e social, por A.B.Patel, que presidia uma ONG chamada World Union com sede em Pondichery. Fui encontrá-lo lá em dezembro daquele ano, ocasião em que ele me presenteou com uma Constituição para a Federação do Planeta Terra que acabara de ser publicada pela imprensa de Auroville.[2] A constituição planetária é um exercício de uma rede de organizações não governamentais federalistas que postula um novo estágio, pós Estados-Nação, para a evolução política da humanidade. Muitos sábios e pensadores indianos expressaram ideais supranacionais, entre eles Gandhi, Tagore, Jawaharlal Nehru, Sri Aurobindo.     

O Matrimandir – templo no centro de Auroville, India.

Auroville é a cidade-laboratório internacional, situada em Pondichery, e construída com o apoio da India e da UNESCO, inspirada nas ideias de Sri Aurobindo sobre a evolução humana.
Em Pondichery fiquei impressionado com a vastidão da obra de Sri Aurobindo em vários campos. Um ano depois, ao retornar da Índia, adquiri os 30 volumes de sua obra completa e estudei especialmente de seu pensamento político e social, suas ideias mundialistas e sobre a unidade humana. Para ele, os estados-nação e a democracia dos direitos não constituem o último estágio da evolução política da humanidade.
 A World Constitution and Parliament Association - WCPA, dirigida por Philip e Margaret Isely, reunia os federalistas mundiais que trabalhavam sobre a constituição planetária. Participei de encontros dessa associação em Miami em 1987 e em Troia-Portugal, em 1991 onde assembleias constituintes mundiais não governamentais propuseram emendas a esse documento.
Pierre Weil era um conhecido professor da UFMG e psicólogo. Ao saber de meu envolvimento com a pesquisa da paz e com o movimento federalista mundial, Pierre me convidou para apresentar um trabalho sobre o tema no I Congresso Holístico Internacional, no Centro de Convenções de Brasília, em abril de 1987.
Eu impulsionava o tema, em colaboração com o cientista político Jarbas Medeiros. Um dos números da revista Análise e Conjuntura da Fundação João Pinheiro, de maio/agosto de 1988, traz um conjunto de textos sobre o Federalismo mundial, entre eles um artigo de Pierre Weil sobre “A origem da fragmentação e suas soluções”. Naquele artigo ele dizia que “Quanto ao federalismo mundial, sou um dos que lutou e luta por ele. Sempre lutei por essas ideias. Mas aos poucos me dei conta de que isso era muito superficial. ”  Ele já se dirigia, então, para o campo da ecologia interior e conta que, em dúvida entre se associar a um movimento pacifista ou evoluir em seu próprio autoconhecimento, optou por fazer um retiro de três anos na Europa com um grande mestre tibetano, aprofundando-se no estudo de suas próprias divisões e conflitos e na descoberta da natureza da mente.[4]               
Traduzi para o português a Constituição Planetária e providenciei uma edição independente, publicada em nome da Fundação Cidade da Paz em 1991.

[1] O livro Tesouros da Índia para civilização sustentável, que publiquei em 2003, contém uma síntese dessa pesquisa e também um capítulo sobre o Federalismo mundial.
[2] A Constitution for the Federation of Earth. Auroville Press, 1977.
[3]Ribeiro, Mauricio Andrés. Ecological Security: a transforming concept.  IPRA Newsletter, vol. XXVII n.1, january 1989. Editor Clovis Brigagão, Rio de Janeiro.
[4] Weil, Pierre -  A origem da fragmentação e suas soluções, in Revista Análise & Conjuntura, v.3, n.2 maio/agosto de 1988. Belo Horizonte.

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