Em
1977 obtive uma bolsa do CNPq para estudar como pesquisador visitante no Indian
Institute of Management em Bangalore, com uma pesquisa sobre Habitat e
transferência de Tecnologia.[1]
No
India International Centre, onde me hospedei em Nova Delhi, assisti a uma
palestra sobre Sri Aurobindo e seu pensamento político e social, por A.B.Patel,
que presidia uma ONG chamada World Union com sede em Pondichery. Fui
encontrá-lo lá em dezembro daquele ano, ocasião em que ele me presenteou com
uma Constituição para a Federação do Planeta Terra que acabara de ser publicada
pela imprensa de Auroville.[2] A
constituição planetária é um exercício de uma rede de organizações não
governamentais federalistas que postula um novo estágio, pós Estados-Nação,
para a evolução política da humanidade. Muitos sábios e pensadores indianos
expressaram ideais supranacionais, entre eles Gandhi, Tagore, Jawaharlal Nehru,
Sri Aurobindo.
O
Matrimandir – templo no centro de Auroville, India.
Auroville
é a cidade-laboratório internacional, situada em Pondichery, e construída com o
apoio da India e da UNESCO, inspirada nas ideias de Sri Aurobindo sobre a
evolução humana.
Em
Pondichery fiquei impressionado com a vastidão da obra de Sri Aurobindo em
vários campos. Um ano depois, ao retornar da Índia, adquiri os 30 volumes de
sua obra completa e estudei especialmente de seu pensamento político e social,
suas ideias mundialistas e sobre a unidade humana. Para ele, os estados-nação e
a democracia dos direitos não constituem o último estágio da evolução política
da humanidade.
A
World Constitution and Parliament Association - WCPA, dirigida por Philip e
Margaret Isely, reunia os federalistas mundiais que trabalhavam sobre a
constituição planetária. Participei de encontros dessa associação em Miami em
1987 e em Troia-Portugal, em 1991 onde assembleias constituintes mundiais não
governamentais propuseram emendas a esse documento.
Pierre
Weil era um conhecido professor da UFMG e psicólogo. Ao saber de meu
envolvimento com a pesquisa da paz e com o movimento federalista mundial,
Pierre me convidou para apresentar um trabalho sobre o tema no I Congresso
Holístico Internacional, no Centro de Convenções de Brasília, em abril de 1987.
Eu
impulsionava o tema, em colaboração com o cientista político Jarbas Medeiros.
Um dos números da revista Análise e Conjuntura da Fundação João Pinheiro, de
maio/agosto de 1988, traz um conjunto de textos sobre o Federalismo mundial,
entre eles um artigo de Pierre Weil sobre “A origem da fragmentação e suas
soluções”. Naquele artigo ele dizia que “Quanto ao federalismo mundial, sou um
dos que lutou e luta por ele. Sempre lutei por essas ideias. Mas aos poucos me
dei conta de que isso era muito superficial. ” Ele já se dirigia, então, para o campo da
ecologia interior e conta que, em dúvida entre se associar a um movimento
pacifista ou evoluir em seu próprio autoconhecimento, optou por fazer um retiro
de três anos na Europa com um grande mestre tibetano, aprofundando-se no estudo
de suas próprias divisões e conflitos e na descoberta da natureza da mente.[4]
Traduzi
para o português a Constituição
Planetária e providenciei uma edição independente, publicada em nome da
Fundação Cidade da Paz em 1991.
[1] O livro Tesouros da Índia para civilização
sustentável, que publiquei em 2003, contém uma síntese dessa pesquisa e também
um capítulo sobre o Federalismo mundial.
[2] A Constitution for the Federation of Earth. Auroville
Press, 1977.
[3]Ribeiro, Mauricio Andrés. Ecological Security: a
transforming concept. IPRA Newsletter,
vol. XXVII n.1, january 1989. Editor Clovis Brigagão, Rio de Janeiro.
[4] Weil, Pierre -
A origem da fragmentação e suas soluções, in Revista Análise &
Conjuntura, v.3, n.2 maio/agosto de 1988. Belo Horizonte.
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