Os principais dicionários da língua portuguesa
editados no Brasil não oferecem definições atualizadas sobre as ciências
ecológicas. Os dicionários Houaiss e o Aurélio focam seu significado na
biologia. O Caldas–Aulete menciona a ecologia humana, a ecologia vegetal, a
ecologia cultural.
Desde seus primórdios no século
XIX o conceito de ecologia extrapolou
suas origens nas ciências biológicas e enveredou pelos domínios das ciências
humanas e sociais. A Ecologia diferenciou-se em vários e novos campos de
atividade, que se reúnem num conceito de Ecologia
Integral, que inclui a ecologia do ser, a ecologia social e a ecologia
ambiental. Destacam-se, entre outros, os campos da ecologia política, social,
humana, cultural, energética, cósmica, pessoal, humana ou do ser; a
agroecologia, ecologia urbana, rural, industrial. Por serem recentes e
conhecidos, quando muito, pelos especialistas, esses termos ainda não foram
captados por aqueles que dicionarizam as novas palavras que circulam em nossa
língua.
A abordagem linguística da
ecologia precisa abrir-se às suas múltiplas facetas, da cósmica à energética,
da cultural à psicológica, penetrar nos domínios da ecologia do ser, integrando
ao campo a Psicologia, os processos cognitivos e emocionais bem como outras
Ciências Humanas como a Educação, a Antropologia e a Filosofia. Ainda falta
realizar um trabalho de integração, de forma que a visão mais abrangente das
ecologias seja colocada à disposição do leitor de língua portuguesa. A pobreza
conceitual das ciências ecológicas em português pode ser comprovada nas pesquisas
nos sítios de buscas na Internet, que costumam mostrar riqueza de conceitos em
inglês ou em espanhol.
Nossa sociedade dá mais valor à
economia do que à ecologia e isso se reflete na profundidade e grau de atenção
e detalhe com que define economia, em comparação com a ecologia.
Comparativamente, no Aurélio, o significado de economia é mais
preciso; no Houaiss o vocábulo economia
merece definições muito detalhadas (economia de escala, de guerra, de mercado,
de palitos, dirigida, doméstica, fechada, informal, invisível, linguística,
mista, política, popular, processual). O valor que se dá à economia, em
contraste com o que se dá à ecologia, é refletido no modo como essas palavras e
conceitos são dicionarizados. Trata-se
de uma valoração perigosa, como adverte Viveret: “Em grego, de fato, oikos nomos significa a organização, a
lei, a ordem da casa. A função da economia, portanto, seria cuidar de nossas
pequenas casas, aquelas que só podem perseverar em suas atividades se a teoria
da grande casa – nosso planeta ou nossa biosfera – for capaz de abrigá-las. Ao
mesmo tempo, é igualmente legítimo que a teoria da grande casa, oikos logos, ou, dito de outra maneira,
a ecologia, seja a teoria primordial, da qual a oikos nomos constitui um dos
pontos de aplicação. Assim, qualquer inversão que faça da ecologia o
complemento anímico simpático-marginal da economia será propriamente suicida
para a humanidade”. (Reconsiderar a riqueza, Pág. 14).
Quanto maior é o valor que uma
sociedade confere a um tema, mais detalhadas e precisas são as palavras que o
definem. Assim, por exemplo, os esquimós usam inúmeras palavras para designar o
branco e suas nuances, o que é vital para sua sobrevivência num ambiente gelado
e nevado. Do mesmo modo, há muito mais palavras em sânscrito para designar as questões
subjetivas se comparadas com as línguas grega ou inglesa, o que indica a sofisticação
e profundidade dos conceitos psicológicos e subjetivos na psicologia yogue: “Para
cada conceito psicológico em inglês há quatro em grego e quarenta em sânscrito.”
observa A.K. Coomaraswamy.[1]
É difícil tornar parte da cultura
de uma sociedade aquilo que não está escrito e não pode ser lido. Assim, é
necessário, para o aprimoramento cultural, ampliar o vocabulário e tornar
disponíveis palavras que possam ser lidas, compreendidas e que exprimam a
riqueza e diversidade de ideias, a noodiversidade.
Os grandes dicionários
tornaram-se lentos em incorporar conceitos emergentes de grande importância no
mundo contemporâneo. Tornam-se rapidamente obsoletos, incompletos,
ultrapassados. Dicionarizar as ecologias e ecologizar os dicionários são
necessários para que eles continuem a ter alguma importância no futuro. Caso
não sejam capazes de se atualizar com agilidade, serão superados pelos
mecanismos de busca na internet e pela Wikipédia, uma construção coletiva que
abrange um vasto campo de vocábulos cujo significado e definições são
aprimorados incrementalmente por milhares de pessoas. Usada com cuidado para
não induzir a erros, a Wikipedia é muito útil para o grande público que precisa
se inteirar do be a bá sobre todos os assuntos.
À medida que se aprimorar a qualidade do conteúdo que disponibiliza, sua
importância como difusora de conhecimentos só tende a crescer.
[1]
Citado por RUSSELL, Peter. Acordando em
Tempo – encontrando a paz interior em tempos de mudança acelerada. São Paulo: WHH, Antakarana, 2006.
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