A história da Terra pode ser representada
como uma espiral de crescente complexidade, da matéria, para a vida e para a
consciência. Durante bilhões de anos predominou a matéria; durante milhões de anos a vida. Atualmente emerge a consciência
e suas múltiplas manifestações na ciência, na tecnologia, na cultura, na vida
social. Uma consciência capaz de aprofundar o autoconhecimento e de refletir
sobre si mesma, sobre a vida e a matéria.
Representação gráfica da história da Terra como uma espiral. |
Estamos no estágio terminal da era
cenozoica, a era dos mamíferos. Cada era geológica pela qual passou o planeta é
subdividida em períodos e épocas. A época mais recente, o holoceno, cede lugar à época antropocena,
a dos humanos, assim chamada devido à relevância dos impactos exercidos por
nossa espécie e das marcas que deixa sobre o planeta.
Estamos
em transição para qual era na evolução, a partir da atual aceleração?
Na visão do biólogo de Harvard, Edward O. Wilson (1998), caminhamos ruma à Era Eremozoica, a era da solidão, na
qual o ser humano, tendo dizimado grande parte das demais espécies, viverá em
um ambiente biologicamente empobrecido. Espécies
continuarão a ser extintas, tornando o Homo
sapiens sapiens cada vez mais um ermitão e um biocida. A imagem de
astronautas, poucos indivíduos distantes no espaço cósmico e da possível vida em outros corpos celestes induziu a se
pensar no cenário da Era cosmozoica
na qual a vida humana e de outros seres espalha-se no cosmos. As
viagens espaciais, com a construção de estações orbitando em torno da Terra, a
transmigração e a possivel colonização de Marte, são aplicações dessa visão cosmozoica.
Ciência
e tecnologia são centrais no cenário da Era
Tecnozoica, vislumbrado por Thomas Berry (1999). O ser humano,
tendo se apropriado dos recursos da geodiversidade (minerais), dos vegetais e
animais (a biodiversidade), processa-os industrialmente e transforma-os em
objetos, coisas, máquinas (a coisadiversidade), e ao findar sua vida útil, nos
resíduos, parte deles recicláveis e reaproveitáveis.
O
cenário da Era Ecozoica foi proposto
por Thomas Berry e Brian Swimme em seu livro sobre a História do Universo,
lançado em 1992, ano da Conferência do Rio. Eles propuseram que nosso papel e o
de nossos filhos é alinhar nossa vida pessoal com a grande obra de gerenciar uma
árdua transição. “Todos nós
temos nosso trabalho particular. Temos uma variedade de ocupações. Mas além do
trabalho que desempenhamos e da vida que levamos, temos uma Grande Obra na qual todos estamos
envolvidos e ninguém está isento: é a obra de deixar uma era cenozóica terminal
e ingressar na nova Era Ecozoica na
história do Planeta Terra. Esta é a Grande Obra” (Thomas Berry (1999, p. 7). Essa tarefa implica fortalecer relações ecológicas harmônicas intra-específicas (sociais, políticas,
econômicas) e reduzir a importância de relações desarmônicas com o ambiente que nos nutre e com as demais
espécies.
Há
cenários que enfatizam o papel da consciência (noos, logos) mais do que o da
vida animal (zoo). Nos anos 1970, Daniel Bell, de Harvard, previu uma era do
conhecimento, que denominou Psicozoica,
a era em que predomina o psiquismo humano. O grande sábio indiano Sri
Aurobindo há um século antevia o advento da era subjetiva
em que a psique, os pensamentos, sentimentos e emoções humanos cada vez
mais influenciam o mundo exterior.
A era noológica e as eras zoicas |
A época antropocena pode ser o estágio inicial de transição para uma era da consciência, diferente das que as precederam, as eras da vida. Podemos estar no umbral da era noológica da evolução da história na Terra. A esfera da consciência é a noosfera, conceito que surgiu num seminário
dado pelo cientista russo, geólogo Vladimir Vernadsky
em Paris. Ele tinha como alunos o filósofo e matemático Édouard Le Roy e o padre,
teólogo, filósofo e paleontólogo Pierre Teilhard de Chardin que divulgou o conceito
de noosfera em seu
livro O fenômeno humano: “É verdadeiramente uma camada nova, a “camada
pensante”, exatamente tão extensiva, mas muito mais coerente ainda, como
veremos, do que todas as camadas precedentes, que, após ter germinado no
Terciário declinante, se expande desde então por cima do mundo das Plantas e
dos Animais: fora e acima da Biosfera, uma Noosfera.” (TEILHARD DE CHARDIN,
1966, pg.189). A raiz grega da palavra, noos,
significa o espírito e a consciência intuitiva. Refere-se à imaginação, ao
subjetivo, ao todo, ao pensamento flexível e complexo. Essa era da evolução
se baseia na acelerada evolução da consciência humana e não mais nos lentos
processos da evolução biológica. Nessa era, explode a noodiversidade. Na era noológica, a vida passa a ser governada pela consciência
ecológica, que compreende sermos parte integrante de um organismo vivo e
consciente; e entende que da saúde desse organismo depende nossa saúde e
sobrevivência. Nela, os seres humanos vivem em
um relacionamento mutuamente reforçador com a comunidade maior dos sistemas
vivos. A obra de construir essa era requer mudanças em todos os aspectos da
sociedade humana. O cenário da Era
Noológica exige consciência e ação na direção de uma evolução consciente e generosamente
projetada e construída.
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