No Brasil, importante contribuição
sobre a ecologia do ser, na forma conceitual e de disseminação prática, foi
realizada pelo psicólogo Pierre Weil. Ele deixou um legado de idéias e conceitos
em seus livros e publicações. Criador da Unipaz, disseminou vários núcleos que
dão continuidade a seu trabalho.
Conheci Pierre Weil quando ambos
morávamos em Belo Horizonte. Os conhecimentos e a experiência de Pierre, que
lidava com a construção da paz e as esferas da consciência me ajudaram a
compreender aspectos da ecologia do ser. Essas eram abordagens complementares
ao enfoque socioambiental com que eu lidava, como gestor ambiental, ao
enfrentar conflitos em área urbana. Os dirigentes de órgãos ambientais
vivenciam freqüentes conflitos de vizinhança, conflitos pela destinação de uso
de áreas, conflitos devidos a exploração de recursos naturais e sua disputa
entre diversos usuários. Em cidades, o barulho causa sérios dramas, conflitos
de vizinhança, stress mental com a perda do sono durante a noite. Provoca
tragédias, tais como a ocorrida com o dono de bar com música ao vivo,
assassinado por um vizinho que não conseguiu manter o controle emocional diante
da poluição sonora. Mediar e prevenir conflitos são parte integrante do oficio
do gestor socioambiental.
Na teoria fundamental da UNIPAZ,
instituição que espalhou sementes em uma rede de unidades no Brasil e no
exterior, (ver, por exemplo, http://www.unipazrj.org.
A arte de viver em paz e as três dimensões da ecologia e da consciência. Fonte: Weil e Ribeiro, Thoth, 1990. |
br/index.htm e www.unipazgoias.org.br) ele expunha de forma didática os conhecimentos sobre a ecologia integral que aqui sintetizamos em meia página. Ali ele afirmava que “Todas as galáxias do universo são sistemas energéticos e que essa energia assume três formas inseparáveis: informática (mente), biologia (vida) e física (matéria); que o homem é parte integrante deste sistema energético, sendo feito de matéria (corpo), vida (emoções) e informática (mente) inseparáveis do todo. Ele constata que, na sua mente, o homem se separa do universo e cria a fantasia da separatividade (Homem-universo; Eu-mundo; Sujeito-objeto); que sua mente o separa da sociedade e da natureza e se esquece que a natureza, sociedade e homem são inseparáveis. Mais ainda, a mente se considera separada da informática (consciência) do todo; a mente individual se considera separada da mente do universo. O homem cria em sua mente a fantasia da separatividade, a fragmentação, o reducionismo; em sua vida, desenvolve emoções de apego, raiva, ciúme, orgulho, medo, depressão e em seu corpo sente fome, carências alimentares, tensões, respiração inadequada, doenças. Dentro do homem a sua mente (informática) se separa das emoções (vida) e do corpo (matéria). Então, começa o processo da destruição da ecologia do ser. Na sua mente, a fantasia da separatividade gera um paradigma de fragmentação; e porque se considera separado, gera emoções destrutivas no plano da vida, mais particularmente o apego e a possessividade de coisas, pessoas e idéias que lhe dão prazer; e por causa das emoções destrutivas surge o stress que destrói o equilíbrio do corpo.”
Pierre Weil desvendou mecanismos
subjetivos e psicológicos e elaborou um método para se alcançar a paz com a
natureza, social e consigo mesmo. Esse
método é baseado no conhecimento das emoções, do corpo e da mente e no suposto
de que a paz interior é fundamental para se alcançar a paz social e com a
natureza. A partir da compreensão da unidade com o todo e da
consciência ecológica,
acreditava ser possível reverter os desequilíbrios e a destruição da paz.
Em artigo que juntos escrevemos sobre a paz no
espírito dos homens, (Revista Thot, n.53, 1990) constatávamos que estava sendo
esquecido o princípio básico da UNESCO, que se encontra no preâmbulo de seu ato
constitutivo: “Se as guerras nascem no espírito dos homens, é no espírito dos
homens que devem ser erguidos os baluartes da paz.” Na perspectiva da ecologia
do ser, podemos afirmar que se a guerra
contra a natureza e a devastação ambiental nascem no espírito dos homens, é no
espírito dos homens que devem ser erguidos os baluartes da proteção e do
cuidado com a natureza.
Pierre dizia que quando nos defrontamos com um
problema enorme que nos sentimos incapazes de resolver, a atitude de colocar-se
diante de uma questão ainda maior faz a anterior parecer pequena. Essa postura
leva a transcender, a superar-se e exercer a coragem além dos limites de suas
capacidades.
No atual contexto em que percebemos os limites de
recursos físicos e materiais da natureza planetária, expandir os limites e
explorar as potencialidades do ser – corporais, mentais, emocionais,
espirituais – pode ser uma postura adequada para lidar com a crise climática e
ambiental.
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