Maurício Andrés Ribeiro (*)
A realidade contemporânea,
alimentada pelas novas tecnologias de comunicação, pelo encurtamento das
distâncias e pela globalização da atividade econômica, fez surgir uma nova
consciência cultural e renascerem propostas de unificação política que
respondam aos novos desafios planetários, tais como aqueles trazidos pelas
mudanças climáticas e pela extinção da biodiversidade.
Várias personalidades compartilharam
a idéia de uma governança mundial como passo inevitável na evolução política
humana: Mahatma Gandhi, Teilhard de
Chardin, Nehru, Bertrand Russell, Churchill, Einstein, Sri Aurobindo, além de
tradições religiosas, como a fé Bahá'i. Eles consideraram necessário conceber e
construir instituições planetárias efetivas para dar conta dos múltiplos
problemas contemporâneos. A unidade política básica seria, nesse contexto, a
totalidade do Planeta Terra, sendo as demais escalas – continental, nacional, estados
ou províncias, municipal entre outras – consideradas como partes desse todo
maior planetário. A transnacionalização em curso na economia, no mundo
empresarial, nas comunicações e na cultura seria estendida, então, ao campo da
política e da administração publica.
Um esboço vigoroso de tais idéias
encontra-se no pensamento político e social de Sri Aurobindo, que escreveu
sobre a Federação planetária como a forma mais adequada de articular
politicamente o todo e as partes. Seu pensamento político e social está
expresso em três livros que tratam do ideal da unidade humana, unidade que se
estende aos domínios militar, econômico e administrativo. Sri Aurobindo conclui
que a proposta federativa é a melhor alternativa de organização política global,
entre todas as outras, como o império uno mundial ou a confederação das nações.
Nossa tarefa é ajudar a acelerar a evolução humana, dizia Sri Aurobindo, e a
crise atual é uma crise da evolução da espécie humana, que é uma espécie em
transição.
É uma incógnita se a situação política
planetária desembocará em um cenário de governo mundial, se evoluirá no sentido
da autonomia nacional crescente, se haverá a fragmentação das nações e o
desmantelamento da autoridade centralizada, o desgoverno ou o império do
terror.
A idéia de um governo mundial
suscita, por um lado, a visão assustadora de uma tirania burocratizada e
tecnocrática; outros vêm nele a perspectiva paradisíaca de um futuro de ouro
para a humanidade, compatibilizando a unidade na diversidade: um governo
central com autonomia das comunidades nacionais, regionais e locais.
A ecologia política para o século
XXI exige visão holística e integral, propositiva e prospectiva, pois, a partir
de um certo momento, os novos problemas e questões, tais como aqueles colocados
pelas mudanças climáticas e pela acelerada extinção de espécies na
biodiversidade, não podem mais ser resolvidos por estruturas institucionais e
políticas baseadas em idéias que se adequavam a situações anteriores. É
preciso, além de aprimoramentos incrementais numa estrutura, substituí-la por
outra mais adequada a partir de outros conceitos e paradigmas.
Durante o século XX, a
primeira tentativa de unir todos os países em prol de um interesse planetário
se deu por meio da Liga das Nações. Na segunda geração, surgiu a ONU. A maioria
das propostas de reforma da ONU procura atualizar a organização, mantendo,
entretanto, a mesma unidade política sobre a qual ela se fundamenta: o
Estado-Nação. Os governos nacionais em geral relutam quando se fala em abrir
mão de parcela de sua soberania em favor de uma soberania planetária.
Entretanto, na sociedade civil global há muitos movimentos que propõem tal
abordagem, dentro da visão de que os estados-nação, como existem hoje, são
pequenos demais para se tornarem objeto do pensamento global e grandes demais
como agentes de ações locais. No campo das organizações planetárias, alguns
propõem que a ONU seja substituída por uma nova organização mundial, composta
por duas câmaras: uma casa das nações e uma casa dos povos. Essa nova
composição evitaria as contradições entre os interesses econômicos e a proteção
ao meio ambiente, por exemplo, que fragilizaram o sistema da ONU. Torna-se
necessária uma instituição dos povos unidos, com representação mais forte da
sociedade civil, como parte dessa nova organização mundial de terceira geração,
que considere o planeta Terra como unidade política básica. Nesse cenário, a
ONU deixaria de ser uma coleção de Estados-Nação que lutam cada qual por seu
interesse e deveria focalizar o bem comum global.
Vários movimentos civis
trabalham pela transformação do quadro cultural e político. Movimentos
federalistas mundiais postulam mais responsabilidade para o nível local
(cidades e municípios) e, no outro extremo, para o nível planetário, com a
diminuição do poder e das atribuições dos Estados-Nação. Traduzidas em termos
institucionais e legais, as idéias do federalismo mundial inspiraram a
Constituição para a Federação do Planeta Terra, um exercício livre de
pensamento político, no qual a unidade deixa de ser o estado-nação individual e
passa a ser a Federação Planetária. Esse exercício imaginou propostas para o
desarmamento, para as dívidas dos estados-nação, para as questões climáticas e
ambientais e outras questões contemporâneas. Entre os dispositivos dessa Constituição
estão a criação de uma Agência para a prevenção das guerras e o
desarmamento.
Tais propostas mais estruturais exigem
ação permanente e continuada, com resultados a médio e longo prazos. Estaremos
assim pensando globalmente e agindo localmente em nosso lugar no cosmos, que é
o Planeta Terra.
A força de
idéias como a do federalismo mundial ou da associação livre de nações numa
unidade federada mais ampla vem gradualmente se materializando com os blocos
continentais regionais, a exemplo da União Européia, do Mercosul, das
associações asiáticas de países, tendo como impulso de origem questões
econômicas, políticas ou ecológicas. A unificação progressiva da Europa, com um
parlamento e uma Constituição Européia em discussão, evidencia um processo em
curso nesse continente pioneiro no laboratório político. Esse laboratório
evidencia também as dificuldades, os retrocessos e recuos anti globalização, com a xenofobia,
a aversão aos imigrantes, os novos nacionalismos defensivos.
Para aqueles que se
interessem em aprofundar-se no conhecimento sobre os movimentos federalistas
mundiais, existem na internet vários sítios sobre “soberania planetária”,
“federalismo mundial” e “governo mundial”. Destaca-se o da Coalizão por um
Governo Mundial Democrático, composta por uma série de organizações da
sociedade civil, abaixo relacionadas:
The American Movement for World Government
The Association to Unite the Democracies
Center for War / Peace Studies
Citizens for a United Earth
Global Citizens' Association
Home Rule Globally
One World Trust
Peace Research Institute - Dundas
Registry of World Citizens
Registry of World Citizens ~in Canada
The Universal Alliance
Weltbuergervereinigung e. V.
World Constitution and Parliament Association / GREN
World Federalist Association
WFA of Northern California
The World Federalist Movement
World Peace News
(*) Escritor e ecologista. Autor dos livros “Ecologizar” e “Tesouros da
Índia para a civilização sustentável”.
Muito importante, Maurício. Há um grupo que troca informações e textos há mais de dez anos: GTI - Global Transition Initiative. Muito bom.
ResponderExcluirMuito importante, Maurício. Há um grupo que troca informações e textos há mais de dez anos: GTI - Global Transition Initiative. Muito bom.
ResponderExcluirMuito importante, Maurício. Há um grupo que troca informações e textos há mais de dez anos: GTI - Global Transition Initiative. Muito bom.
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