Maurício Andrés
Ribeiro
A liberdade é um
tema presente na vasta obra de Sri Aurobindo, que tratou da liberdade de
expressão e de opinião, da liberdade nacional e política e da liberdade
psicológica, interior e espiritual.
Sobre a importância da liberdade de palavra e de opinião e os limites da
autoridade dos governantes, ele
escreveu: “A todos os membros
de qualquer instituição
pública iniciada e administrada pelo povo de qualquer nação civilizada
é dada plena liberdade para
oferecer sua opinião sobre qualquer
questão, de acordo com regras
universalmente reconhecidas de todas as
instituições públicas. Nenhum
presidente tem a autoridade para
suprimir esta liberdade-este
direito natural de cada membro da sociedade.
O presidente é apenas um servo do
conjunto formado pelo ajuntamento
das pessoas que o
elegem. Há regras para regulamentar a sua conduta. Nenhum presidente
deve quebrar essas
regras. Ele não pode sufocar a liberdade de expressão e liberdade de opinião”. (848 Speeches 1907 – 1908)
Entretanto, a liberdade de expressão e de
opinião pode ser usada de modo indevido se for praticada com ódio, preconceitos, desrespeito pelos outros e por
suas sensibilidades. Nesses casos quem a
pratica precisa estar preparado para sofrer as reações daqueles que se sentem
ofendidos, como por exemplo aconteceu no caso islamofóbico do Charlie Hebdo,
jornal francês que publicou charges ofensivas contra símbolos religiosos muçulmanos e sofreu um ataque terrorista em
reação. Sri Aurobindo enfatizava a
importância de a liberdade ser praticada com amor : “É somente o amor que pode impedir o uso indevido da liberdade; é apenas
a Fraternidade que pode tornar a igualdade tolerável.” (548 - Epístolas/cartas do
exterior)Essa é uma observação valiosa para o mundo contemporâneo em que manifestações de liberdade se expressam sem respeito ou consideração para com os valores dos demais e atraem reações violentas.
No início do século XX, quando formulou a doutrina da resistência defensiva, que orientou a luta pela libertação da Índia em relação à dominação inglesa, ele focalizava a importância da liberdade nacional. “A liberdade é o primeiro requisito para a saúde e vida vigorosa de uma nação. Uma dominação estrangeira é em si uma condição, não-natural e se permitida, deve trazer outras condições insalubres e não naturais nas pessoas subjugadas que levará a decadência fatal e desorganização. A lei estrangeira não pode construir uma nação, — apenas a resistência à lei estrangeira pode soldar os elementos discordantes de um povo em uma unidade indivisível. Quando um povo, predestinado à unidade, não pode realizar o seu destino, a lei estrangeira é uma disposição da natureza pela qual a necessária e convincente pressão é aplicada para conduzir suas peças discordantes à concordia.” (Bande Mataram, Calcutta, April 27th, 1907)
Para ele, no contexto da luta pela independência indiana, a libertação política era um passo em direção à liberdade espiritual: “Pela nossa liberdade política, recuperaremos uma vez mais a nossa liberdade espiritual. Uma vez mais na terra dos santos e sábios queimará o fogo do antigo Yoga e os corações de seu povo serão levantados para as vizinhanças do Eterno”. (876 Bande Mataram)
Ele usava conceitos psicológicos e espirituais para definir a liberdade: “Estar consciente do self é liberdade. Self eu tenho e, tendo self, sou livre.” (620 Pondicherry, c. 1927 – 1947)
Para Sri Aurobindo, a consciência de ser uno com o todo, bem como a capacidade de superar o egoísmo e o auto interesse estreito, constituem formas de ser livre interiormente e espiritualmente.
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