Maurício Andrés Ribeiro
Yoga - Escola no Sri Aurobindo Ashram – Delhi
A presença da morte induziu à introspecção, a questionamentos do
modo de vida anterior. A
prudência recomendou hibernar, reduzir
as atividades vitais como os ursos e esperar o pior do surto passar. Isso
requer um espírito estoico, capacidade de esperar quieto sem se expor. Houve
mais tempo livre devido ao confinamento e ao isolamento físico. Ela abriu
lugar a uma vida mais meditativa, com poucos movimentos exteriores, mas com
muita atividade interior, psíquica, da
consciência. As quarentenas liberaram tempos que eram gastos na agitação e no
barulho. A vida contemplativa demanda intensa
atividade interior e trabalho consigo. Focalizada em questões do universo
mental e psicológico, lida com o intangível. Aumentaram as viagens para
dentro de si, a respiração
consciente e atenção ao agora,
o autoconhecimento, a observação dos sentimentos,
descobrir seu propósito e sentido na vida, seu
dharma. Nas quarentenas
houve tempo de repensar, revalorizar certas atitudes e
abandonar outras, mudar de vida e praticar exercícios.
Pode-se
alterar estados de consciência e evitar
ansiedades sem uso de químicos, por meio da meditação:
“Se
correr o bicho pega, se ficar o bicho come; se meditar o bicho some”. Práticas de meditação
reduzem o estresse, conduzindo a um estado de relaxamento em que são diminuídas
a frequência respiratória, a quantidade de oxigênio consumida pelo metabolismo
e a produção de gás carbônico na expiração. Ela exige equilíbrio emocional e
lucidez mental, centramento, capacidade
de dominar emoções, de fortalecer a subjetividade.
A
vida contemplativa reduz a pressão sobre os recursos no ambiente externo. O estilo de vida com baixa demanda sobre os
recursos naturais leva à economia
do necessário e à recusa ao supérfluo. Reduzir o quanto possível
a utilização de objetos de consumo, alimentos, vestuário, espaço, energia e
chegar à pura observação da vida, da
natureza e das coisas são metas que reduzem efeitos degradadores sobre o
ambiente. Mudanças de estilos de vida, com postura menos hiperativa, contra o
frenesi alucinante e a velocidade, a valorização da lentidão – slow food,
slow is beautiful – e a ênfase nos estudos reduzem o ritmo de emissão de
gases de efeito estufa e a devastação ambiental.
Há quem saiba aproveitar períodos de
isolamento para viajar para dentro de si em autoconhecimento. Na prisão
involuntária Graciliano Ramos escreveu suas Memórias do cárcere e Sri
Aurobindo escreveu suas Tales of prison life. Depois disso, Sri
Aurobindo se recolheu num quarto onde viveu as últimas décadas de sua vida, em
contato com poucas pessoas, meditando, escrevendo, interferindo nos negócios do
mundo à distância por meio da força de suas ideias. Bem aproveitado, um período
de confinamento, forçado ou voluntário,
pode gerar produtos valiosos.
Na
escala coletiva e global, a pandemia proporcionou oportunidade para uma
introspecção civilizatória.
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