HIDRATAR, O VERBO DA VEZ
O verbo
hidratar é usualmente empregado para tratar da saúde do corpo. Hidratar o
organismo é uma recomendação médica para evitar a desidratação que, em casos
extremos, leva à morte. A pele faz o contato entre ambiente interno e o externo ao corpo. Ao se ressecar em seu
contato com o ambiente externo, pode ser revitalizada com substâncias
hidratantes. Um idoso precisa hidratar-se
constantemente para manter sua saúde.
A água no passado foi tema de interesse científico de físicos, químicos e
de especialistas - hidrólogos,
hidrogeólogos, climatologistas, oceanógrafos. Hoje o tema se infiltra em todos
e em cada um dos segmentos da sociedade: nas organizações civis, nas
organizações religiosas, no âmbito do patrimônio e da cultura, nas várias
engenharias, na arquitetura e no urbanismo, na educação, nas artes, na área
tecnológica, na psicologia, na economia.
Todos e
cada um dos campos do conhecimento e da atividade humana podem ser hidratados e,
desse modo, revitalizados. Seguem-se alguns exemplos dessa hidratação desejável
e possível.
Hidratar a cultura - Dar
visibilidade e prestar atenção à água nas várias manifestações culturais é um
modo de hidratar a cultura. Ela se
encontra presente em manifestações diversas, no mundo e no Brasil. Está nas
artes – música, dança, artes cênicas, cinema, vídeo, artes plásticas, poesia,
literatura; está nas tradições religiosas e espirituais; está presente na
língua, nas palavras e nos nomes dos lugares. Hidratar o pensamento, as mentalidades, o sentimento, os discursos e as ações humanas é uma meta
unificadora para se alcançar um novo relacionamento amigável, atento, sensível e sábio com a água.
Hidratar a educação – Pode-se
infiltrar o tema para que permeie todos
e cada um dos campos do aprendizado. A água precisa ser focalizada na educação
das crianças, adolescentes, adultos, idosos, nas escolas e fora delas. Da
creche ao jardim de infância, no primeiro e segundo graus, nas universidades e
cursos de pós graduação de todas e cada uma das disciplinas escolares, em cada
departamento e faculdade universitária, no ensino técnico e profissionalizante,
em todos os ambientes em que se aprende, não só no campo do conhecimento técnico
e científico, mas também no campo da sensibilidade, da ética e dos valores.
Hidratar a sociedade - significa que cada segmento social, cada ator nas organizações da sociedade
civil e militar, internaliza o tema, dissolve sua hidroalienação, torna-se
hidroconsciente e aplica essa consciência nas suas ações cotidianas.
Hidratar a economia - Isso
implica em colocar a água como componente central das decisões econômicas e
considerá-la estratégica para aproveitar as potencialidades econômicas que
oferece. Quando falta, ela traz uma limitação séria à economia. Ela também traz
riscos à vida econômica quando falta ou quando transborda.
Hidratar a
política - implica em tomar as decisões políticas colocando-a explicitamente
como um fator central e prioritário. Escreve Apolo Heringer Lisboa[1]
que “A proposta é reconhecer e assumir na política
o papel metodológico da água, dos rios, bacias hidrográficas, ecossistemas e
biomas, que demarcam o território da Terra, na dimensão geoecossistêmica de
transformação da mentalidade. Reconhecer que o espelho d’água mostra a nossa
cara, que as águas trazem informações e as fazem fluir. Reconhecer e ter nas
águas os eixos de mobilização, de demarcação do território político e
econômico, de monitoramento da mentalidade, de eixo de transformação política
na visão geoecossistêmica com base na plataforma geológica.” Não
apenas a sua presença atual como a sua disponibilidade futura, para as próximas
gerações, precisa ser levada em conta nas decisões políticas, por meio da hidro política.
Hidratar os governos - significa priorizar nas decisões governamentais em todos os níveis
- do local ao regional, ao nacional e ao
internacional - os cuidados com a água, evitando seu uso predatório e
promovendo o cuidado e a proteção dela, como um bem de interesse coletivo e individual.
Hidratar as políticas
públicas - significa colocá-la entre os principais elementos considerados em toda
a qualquer política pública, de saúde, educação, segurança, habitação,
desenvolvimento urbano e regional. Hidratar os sistemas de gestão do
território, de desenvolvimento regional, energia e os sistemas de gestão ambiental e do saneamento. Hidratar a
agricultura, como se pratica na Austrália em projetos do Instituto Mulloon, que
conectam o meio ambiente, a agricultura e a sociedade e trazem vida nova às
paisagens.
Hidratar a segurança - significa valorizar a dimensão
hídrica da segurança, os riscos à segurança trazidos por rompimentos de
barragens ou pela escassez de água para abastecimento humano. Nas políticas de
segurança pública, devem-se priorizar os perigos associados a eventos críticos
de enchentes, secas e deslizamentos de encostas, e fortalecer ações
preventivas.
Hidratar as
iniciativas locais – as vizinhanças, os bairros, as
cidades, os municípios precisam colocar como primeira prioridade a garantia de
sua segurança hídrica. Suas leis de uso e ocupação do solo, planos diretores,
códigos de obras e de edificações, suas licenças ambientais e alvarás de
localização e de funcionamento precisam priorizar explicitamente proteção e a
conservação da água.
[1] LISBOA, Apolo A visão
geoecossistêmica da política e da vida; que tipo de política queremos e podemos
levar avante no contexto mundial brasileiro - 2015
https://www.facebook.com/apolohl
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