Maurício Andrés Ribeiro
O projeto Este rio é meu é uma das
iniciativas mais abrangentes e criativas que vem sendo realizadas de educação
escolar para crianças e jovens. O projeto estimula o protagonismo infantil e
estudantil, a partir de uma parceria da Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro,
por meio das Secretarias de Educação e de Meio Ambiente, com a OSCIP planetapontocom, dirigida pela
educadora Silvana Gontijo e com empresa patrocinadora. O projeto se iniciou com
ações no Rio Carioca, no programa educacional Cidades, Salvem
Seus Rios, que propõe uma abordagem educativa que envolve as escolas nos
cuidados com os rios locais e dá protagonismo aos estudantes.
O projeto traz o tema dos rios para os processos pedagógicos de modo inter e multidisciplinar e integrado. As coordenações pedagógicas das escolas mobilizam os professores das diversas disciplinas e estimulam a aprendizagem em torno do rio existente nas vizinhanças dessas escolas. Projetos foram desenvolvidos no rio dos Macacos, no rio banana Podre, no rio Carioca, no rio Faria-Timbó, no rio Acari, no rio das Pedras. Por serem rios urbanos que cortam áreas adensadas, muitos deles estão sujos, poluídos, canalizados e tornam-se destino de lixo e esgotos. Em cada escola o projeto se adapta às situações locais. Presta-se atenção ao rio e a percepção sobre ele ressalta seus problemas. A partir da constatação de qual é a relação das crianças e jovens com o rio urbano, são apresentados dados históricos e geográficos sobre ele. Em geral, o projeto realiza um resgate de história do rio, desenha uma linha do tempo e imagina qual o sonho dos participantes para o futuro do rio.
A alfabetização é baseada nas palavras
relacionadas com o rio, os animais, o
entorno e a cultura da comunidade. As crianças aprendem com os movimentos comunitários
existentes.
As pesquisas sobre o rio suscitam questões e
perguntas sobre o que é foz, mata
ciliar, tamanho da bacia, nascente. As perguntas são respondidas com
visitas dos alunos em campo e a reflexão das crianças sobre os rios e sua
situação. Realizam-se trabalhos sobre a variedade de situações encontradas: a
limpeza dos rios e a questão do lixo, sobre os peixes; pesquisa-se a
qualidade das águas e preserva-se a horta escolar.
Como o projeto se realiza
simultaneamente em várias escolas no município, elas se reúnem para trocar
experiências e aprendizagem. Promove-se a integração pedagógica entre escolas
vizinhas numa mesma bacia e que trabalha sobre mesmo rio. A arte é crucial, com
a apresentação de coral e músicas, bem como relatos sobre o trabalho. Produzem-se
histórias sobre o rio com linguagem própria, em inglês e em português. Compõem-se músicas sobre
o tema e são construídas maquetes da bacia hidrográfica. Criam-se jogos didáticos
com abordagem lúdica e informações são divulgadas em redes sociais.
A partir da consciência despertada, as
escolas se engajam na preservação e recuperação dos rios, promovem o envolvimento
das comunidades no entorno e assumem compromissos com o rio. Produzem-se vídeos para comunicar e leva-se o
resultado para os órgãos públicos tomarem providências. Há atuação junto às
comunidades, com panfletagem, entrevistas com moradores antigos, divulgação em
revista escolar, bem como gincanas de coleta de lixo, com parceria de empresa
recicladora.
Desencadeiam-se ações para promover melhorias nos rios vizinhos. Fortalece-se o sentido de pertencimento e de responsabilidade. Cartas são enviadas ao poder público, solicita-se ajuda e ações do município, tais como a colocação de caçambas para lixo e de placas de sinalização para identificar os rios urbanos. Foi proposto um projeto de lei municipal para sinalizar a localização dos rios subterrâneos e para conscientizar sobre a limpeza dos rios. As melhorias reais trazidas por tais ações realimentam o processo educativo.
A partir da água se pensa sobre a vida e
o cuidado do ser humano consigo mesmo e com
o próximo. É um processo de longo prazo e contínuo, um trabalho de
formiguinha com efeito multiplicador.
Os relatos sobre as experiências educacionais em várias escolas em que o projeto foi implantado mostram expressivos resultados positivos inesperados. A divulgação é amplificada pelo trabalho de comunicação sobre o projeto, que estimula a mídia a cobrir as escolas e publica periodicamente informações e matérias numa revista. Com isso os estudantes e suas realizações saem da invisibilidade. Eles são estimulados a compartilhar e a querer mostrar o projeto. Os professores recebem formação em mídia educação, o que os habilita para serem ativadores nos territórios em que atuam. Os estudantes aprendem a escrever ofícios, textos para divulgar em rede social, matérias jornalísticas e uma variedade de gêneros literários. Como as redações são feitas com um sentido prático e de ação, aumentaram a produção de textos e o interesse pela leitura e pela escrita.
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