Maurício Andrés Ribeiro
A perspectiva humanista, característica da modernidade,
coloca no centro a espécie humana, seus direitos, demandas e
desejos. A visão humanista reflete a perspectiva do ser humano
como o ápice da evolução.
Algumas tradições religiosas colocam o ser humano como
o coroamento da criação, com mandato para dominá-la. O historiador da
cultura Thomas Berry apontou as deficiências dessa cosmovisão: “Tanto
nossas tradições religiosas como humanistas são primordialmente comprometidas
com uma exaltação antropocêntrica do humano.”
A perspectiva humanista tem sido crescentemente
questionada, diante da constatação de que nossa espécie se tornou um grande
fator de pressão sobre a natureza e da devastação, ao dizimar habitats,
provocar a extinção de espécies e mudar o clima.
James Lovelock, autor da teoria de Gaia, é
crítico da visão humanista, que teria levado a sobre explorar o planeta e a
precipitar a atual crise hídrica, ecológica e climática. Ele considera que
“A humanidade, totalmente despreparada por suas tradições humanistas,
enfrenta seu maior teste”. Ele propõe que se priorize o bem-estar e a
saúde do planeta, Gaia, tendo em vista que sua existência saudável é
precondição para a vida humana e para todas as outras espécies.
A ecologia profunda, que tem uma abordagem
distinta do ambientalismo superficial, também rejeita o humanismo. Atribui
os problemas ambientais ao antropocentrismo, que procura preservar recursos
para o uso pelo homem e não pelo valor intrínseco da natureza.
As respostas para a crise ecológica atual devem estar
à altura das dimensões épicas das transformações pelas quais passa o
planeta. Isso inclui uma mudança de perspectiva semelhante àquela adotada
por Copérnico, que demonstrou que o sol, e não a Terra era o centro do sistema.
Galileu sofreu por demonstrar essa realidade. Somos mais periféricos do que
eles imaginavam, pois o sol é apenas uma estrela de quinta grandeza situada na
periferia de uma das milhões de galáxias no universo.
Cabe à educação transcender a perspectiva humanista e
adotar princípios e conteúdo que facilitem a transição para a era da evolução
consciente do planeta. Thomas Berry propõe um papel para a educação: “O
objetivo da educação não é treinar pessoal para explorar a Terra, mas apoiar os
estudantes numa relação íntima com a Terra e estabelecer um caminho mais viável
para o futuro.”
Para superar a atual crise hídrica e da evolução cabe uma perspectiva pós-antropocêntrica. Nela, o ser humano ecologizado e hidroconsciente deixa de ser uma presença devastadora, para tornar-se uma presença benigna diante do mundo natural. Ele pode tornar-se um cogestor consciente da evolução da Terra e de sua própria evolução.
Migrar de um ângulo de visão antropocêntrico e
humanista para uma perspectiva Gaiacêntrica, que coloca como ponto de partida a
saúde do planeta, demanda humildade e desprendimento. O Homo
sapiens não é o fim da evolução, mas é um ser em transição, como
definiu Sri Aurobindo. Esse ser poderá ser sucedido por um ser
trans-humano, pós-humano ou, numa perspectiva ecológica, eco-humano: o
homo ecologicus.
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