quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

As mandalas na arte de Maria Helena Andrés

 

As mandalas são uma constante ao longo de muitas décadas na carreira artística de Maria Helena Andrés.  Formas redondas e círculos estão presentes em sua obra diversificada e representam a busca por unidade e integração.

As mandalas têm diversos significados e podem representar a totalidade do universo, os corpos celestes esféricos e os átomos no microcosmo. Elas são usadas como ferramentas de meditação que auxiliam na concentração e na busca de insights espirituais. Do mesmo modo são aplicadas como instrumentos terapêuticos, para promover relaxamento e reduzir o estresse.  

As mandalas são representações simbólicas usadas por milênios no hinduísmo e no budismo.

No início de sua vida artística, Maria Helena desenhou vias sacras e temas ligados à religiosidade cristã. Mais adiante, pintou uma série de madonas barrocas. Significativamente, as maiores mandalas estão em locais religiosos. Grandes tapeçarias tecidas pelas artesãs do Artesanato Guanabara encontram-se na Igreja de Nossa Senhora de Copacabana, encomendadas pelo cardeal dom Eugênio Sales.  Na menor Basílica do mundo, num altar lateral da Ermida de Nossa Senhora da Piedade, em Caeté-Minas Gerais, o rosto de Cristo é circundado por uma mandala resplandecente em azulejos. Esse trabalho foi encomendado à artista pelo frei Rosário, que viveu e meditou muitos anos no alto da Serra da Piedade. Em 2023 foi inaugurado o retábulo da Igreja de Nossa Senhora Aparecida, em Diamantina, com um grande painel em azulejos encomendado por Dom Darci José Nicioli, arcebispo de Diamantina. Nesse painel, a imagem de Nossa Senhora é circundada por uma mandala azul.  Essa inserção de formas circulares em ambientes católicos esteve historicamente presente nas grandes catedrais, com seus vitrais e rosáceas.

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As mandalas presentes na obra de Maria Helena Andrés simbolizam a unidade e a integração.  Ela escreveu que: “As manifestações artísticas e os símbolos, transcendendo a palavra, captam de forma direta a integração dos diversos povos, fazendo sentir a sua origem comum, que é a origem do próprio ser humano sobre a terra.”

Tapeçarias na Igreja de Nossa Senhora de Copacabana, no Rio de Janeiro.

Maria Helena e o painel de azulejos na Basílica de Nossa Senhora da Piedade, em Caeté - Minas Gerais.


Uma grande pintura, intitulada Mandala no cosmos foi doada por Maria Helena à Unipaz – Universidade Holística Internacional- em Brasília, uma organização voltada para a cultura holística e para a ecologia integral, a partir da inspiração de Pierre Weil.

Os círculos e as formas redondas são criados pela artista e aplicados em uma diversidade de situações


Painel Mandala no cosmos, na sede da Unipaz em Brasília.1990


Maria Helena contempla o painel de azulejos na Igreja de Nossa Senhora Aparecida em Diamantina- Minas Gerais. 2023.

A partir dos anos de 1970, Maria Helena passou a visitar frequentemente a Índia e a estudar aquela civilização. As mandalas são frequentes em ilustrações para livros realizados a partir daquelas viagens, tais como o Álbum Oriente-Ocidente – integração de culturas e o livro infantil Pepedro nos caminhos da Índia.


Ilustração para o livro Oriente-Ocidente, integração de culturas. 1984.

Ilustrações para o livro Pepedro nos Caminhos da Índia. 1983

Para além da grande variedade temática, de técnicas e modos de expressão que estão presentes em sua obra artística, Maria Helena sempre buscou a essência para além das aparências, e valorizou a unidade, para além das diversidades. Ela escreveu que: “Realmente, cada vez mais, tomo consciência da interdependência ligando pessoas, natureza, ideias, sensações, sonhos. A nossa unidade com a natureza e o Universo vai se tornando cada vez mais uma realidade. Não somos separados, somos Um!” As macro ou mega identidades – Somos todos terráqueos – induzem a uma visão de união, unidade. 

As mandalas e as formas circulares remetem também à dimensão do cosmos, com as formas circulares do Sol, considerado como deus em muitas civilizações ancestrais e os corpos celestes esféricos; da lua cheia, do planeta Terra. Ela escreveu: “As ideologias separam os homens, porque são conceitos mentais. A mente, de posse da verdade, resiste à invasão de seus domínios. Mas a Verdade é Una, Indivisível, e, acima de tudo, brilha, sem fronteiras, como o sol do meio-dia, clareando a terra como um todo.”


Óleo sobre tela -1982

 

O menino e o planeta - aquarela -1983

A mensagem transmitida por Maria Helena Andrés por meio de suas mandalas está em sintonia com a ecologia integral, especialmente com a ecologia cósmica, a ecologia espiritual, a ecologia do ser. É uma mensagem valiosa para um mundo em transe climático, hídrico e ambiental, no qual a espécie humana enfrenta um momento crucial em seu processo evolutivo.

 

 

 

 

 


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