quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

Maria Helena Andrés como professora e diretora da Escola Guignard


Maria Helena Andrés estudou na primeira turma da Escola Guignard nos anos 1940, foi professora e diretora  nos anos 1960 e nos anos 2020 tornou-se professora emérita.  Ela escreveu vários textos sobre Guignard como um mestre generoso, baseados em sua vivência cotidiana com ele. 

No texto a seguir ela narra um episódio dramático na história da Escola Guignard.


Atelier na Escola Guignard- Maria Helena Andrés

“Na década de 60 eu era professora da Escola Guignard e ali ocupava a cadeira de desenho de criação. A Escola estava situada no parque municipal de Belo Horizonte, nos porões do Palácio das Artes. Ali Guignard e Franz Weissmann lecionaram; mais tarde seus alunos os substituíram. A Escola era pobre, sem recursos, mas rica em talentos. Vários artistas saíram dali e seguiram mais tarde seu próprio caminho. 

          Eu era vice-diretora da Escola Guignard, Pierre Santos era o diretor.

          A Escola, situada no Parque Municipal de Belo Horizonte, sob o Palácio das Artes em construção, não vivia momentos de prosperidade econômica. Quando chovia, as salas se alagavam.

Passamos, naquela época, por momentos difíceis, mas sempre com a chama do entusiasmo nos conduzindo. Entusiasmo, significa “Deus dentro” e, realmente, éramos conduzidos por energias superiores.

          Um dia, Pierre convocou os professores para anunciar que a Escola acabaria por falta completa de recursos. Entregou-me a diretoria com a finalidade de resolver o problema. Levei o maior susto, mas não perdi o entusiasmo.

          Convoquei novamente os professores para uma tomada de consciência.

- “Vamos em frente!”

          Foi quando eu me lembrei dos ex-alunos de Guignard. Fui à casa de cada um deles para pedir ajuda. Expliquei o que estava acontecendo.Procurei vários ex-alunos e todos se prontificaram a dar aulas voluntariamente, sem nenhuma remuneração, até que a crise passasse.

- “Vocês vão nos ajudar a manter a Escola de pé!”

- “Quem estaria disposto a dar aulas gratuitas, sem receber nada?”

          A turma foi de uma solidariedade muito rápida, imediata.

- “Estamos prontos para colaborar”.

          Sara Ávila, Solange Botelho, Ione Fonseca, Wilde Lacerda, Lizete Meimberg, entre outros se prontificaram a dar aulas gratuitas para salvar a Escola. Foi assim que os artistas ganharam a solidariedade de seus colegas e professores de arte.

          Em seguida, reunindo a equipe de professores, fomos aos políticos para oficializar a Escola. Tomamos a decisão de procurar apoio no governo de Minas. Acenamos para os poderes públicos em busca de ajuda. Recorremos ao Dr. José Guimarães Alves, diretor da Imprensa Oficial, que imediatamente nos prometeu ajuda. Ele nos sugeriu anexar a escola à Imprensa Oficial e, por algum tempo, o Dr. Guimarães foi o nosso diretor. Lembro-me das reuniões improvisadas debaixo das árvores. Foi uma época tumultuada, cheia de imprevistos, mas também coroada de êxito. A solidariedade e o idealismo prevaleceram sobre a iminente derrota. Era necessário oficializar a Escola. A fim de legalizar o pagamento dos professores o novo diretor organizou um concurso público de Notório Saber ou Vênia Leandia. Todos fomos concursados e, de acordo com a lei, passamos a pertencer ao quadro de funcionários da Imprensa Oficial. 

          Esses acontecimentos foram fundamentais para o ressurgimento de uma Escola, que era considerada, desde a sua fundação, como a melhor Escola de Arte do Brasil, tendo à frente um dos maiores pintores brasileiros: Alberto da Veiga Guignard!

Na década de 70 pedi demissão da Escola Guignard para me dedicar às minhas pesquisas na Índia e preferi me aposentar pelo INSS.”


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