quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Ecologizando a economia



Vivemos num pequeno planeta com limitada capacidade de suporte. O crescimento econômico ilimitado, baseado em consumo crescente de recursos naturais e produção de bens materiais pode produzir o colapso ecológico. A economia não pode continuar a fazer de conta de que não existem limites ecológicos na capacidade de suporte da Terra. 

Nos processos biológicos, muitas vezes o crescimento ilimitado constitui uma doença, como ocorre com a proliferação de células cancerígenas. O planeta não sustenta pressões ilimitadas e se defende por meio das mudanças ambientais e climáticas. Caso o modo de crescimento seja qualitativo, mais do que quantitativo e caso seja baseado em recursos renováveis, ele pode ser compatível com a capacidade do planeta por um maior período. Fritjof Capra e Hazel Henderson distinguem o crescimento quantitativo do crescimento qualitativo e defendem esse último.

Na relação da economia com as Ciências Ecológicas há a urgência de inverter posições. A economia é parte da ecologia, e não o contrário. A Ecologia é a teoria e a ciência primordial e a economia é uma de suas aplicações “A função da economia seria cuidar de nossas pequenas casas, aquelas que só podem perseverar em suas atividades se a teoria da grande casa – nosso planeta ou nossa biosfera – for capaz de abrigá-las” escreve Patrick Viveret, em Reconsiderar a riqueza, 2006. A economia precisa atuar considerando os processos, as potencialidades e limites ecológicos, para não agravar os colapsos ambientais e conseqüentes problemas sociais, o sofrimento humano, a produção de refugiados climáticos e os riscos políticos e à segurança.

Capra (2002), aponta que economia e ecologia têm metas distintas:
“Ao passo que o capitalismo global é composto de redes eletrônicas de fluxos de finanças e de informação, o projeto ecológico mexe com redes ecológicas de fluxos de energia e matéria. A meta da economia global, em sua forma atual, é a de elevar ao máximo a riqueza e o poder de suas elites; a do projeto ecológico, a de elevar ao máximo a sustentabilidade da teia da vida."

Para integrar as questões econômicas e ecológicas, é necessário o casamento entre as políticas ambientais e as econômicas. Economia e ecologia precisam caminhar na mesma sintonia e o sistema econômico precisa considerar as questões ecológicas. A Ecologia econômica é um dos muitos campos em que se desdobraram as Ciências Ecológicas desde os primórdios da Ecologia como um ramo da Biologia, no século XIX. Cabe ao campo da ecologia econômica:
• Promover a inclusão da economia na ecologia.
• Analisar os efeitos dos fenômenos ambientais e climáticos sobre os diferentes setores econômicos.
• Avaliar possibilidades econômicas e limites ecológicos dos ecossistemas.
• Avaliar criticamente modelos de desenvolvimento que desfiguram ecossistemas e colocam a vida em perigo.
• Conhecer os efeitos, sobre os recursos naturais, da pressão pela satisfação das demandas materiais.
• Desenhar modelos e indicadores para avaliar o uso econômico dos ecossistemas e dos recursos naturais renováveis e seus impactos sobre o meio ambiente natural e humano.
• Oferecer conhecimentos para conciliar demandas econômicas com a manutenção dos processos ecológicos vitais.
• Recuperar a ideia de fideicomisso, pela qual os cidadãos atuam como guardiões e protetores de ecossistemas, no interesse da evolução ecologizada, em nome dos cidadãos e as gerações futuras – hoje, governos e corporações representam interesses imediatistas e não representam as gerações futuras, os ecossistemas e as espécies não humanas. 

A natureza presta serviços ambientais ao reciclar nutrientes, produzir e purificar a água, fornecer oxigênio, sequestrar e reciclar o carbono, regular o clima e moderar o impacto de mudanças climáticas, manter e proteger a biodiversidade, reduzir perdas de solos e nutrientes, reduzir riscos de incêndios, contribuir para a beleza e a recreação. Caso não fossem prestados gratuitamente, teriam custo para a sociedade. A ecologia econômica propõe que sejam contabilizados e que sejam oferecidas compensações econômicas aos serviços naturais prestados pela natureza. 

Ecologizar a oferta é necessário porém insuficiente. Não basta a ecoeficiência, o aumento de produtividade, a redução de emissões de poluentes, as energias renováveis, o esverdeamento da construção civil, da produção de energia, do transporte, da agricultura. Isso é necessário, porem insuficiente caso não existam mudanças correspondentes no padrão de demanda e no comprometimento social e individual com atitudes e comportamentos ecologizados. Na economia, a formação da demanda tem um forte componente psicológico e cultural.

A crise climática oferece oportunidades para se redirecionar as demandas, as tecnologias e modos de produção em direção a uma economia ecologizada, de baixo carbono. Entretanto, para que essas oportunidades sejam aproveitadas, os tomadores de decisão, empresários, a sociedade civil e os governantes precisam ter uma mentalidade ecologizada. O déficit de formação, cultural, de percepção e de compreensão desses temas, precisa da Ecoalfabetização. Precisa conhecer o que são as ecologias, que se desdobram em muitos campos, a partir de sua origem nas ciências biológicas. 
Ecologizar a economia inclui ecologizar as crenças, os desejos, a educação e a cultura, internalizando os conhecimentos das ciências ecológicas nesses campos.



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