As águas se interconectam na natureza. Evaporam com o aumento de temperatura,
depois se precipitam como
chuva, neve ou granizo; escorrem nas águas superficiais, se infiltram no solo e brotam
em nascentes. As águas fluem em vasos comunicantes, aéreos, subterrâneos e
superficiais.
A
hidrosfera compreende as águas em estado sólido, líquido ou gasoso; águas
subterrâneas, na superfície ou na atmosfera. A gestão integral do ciclo
da agua vai além da gestão integrada de recursos hídricos superficiais e
subterrâneos e inclui também aquilo que se passa quando ela se encontra na atmosfera.
A gestão integral do ciclo da água demanda
compreender as interconexões entre os vasos comunicantes do que
ocorre quando ela escorre superficialmente, se infiltra nos solos e forma os
lençóis de agua subterrâneos e se encontra em estado meteórico, de vapor na atmosfera.
Isso deve
ser feito de preferência com números e séries históricas que deem embasamento às
propostas. A falta de dados e informações não deve ser um pretexto para a
inação, pois há princípios de prudência que precisam ser seguidos. A compreensão
qualitativa do que ocorre no ciclo da água indica o rumo que as ações de
planejamento e gestão devem tomar.
O
conhecimento sobre o organismo da Terra e os ciclos biogeoquímicos permite
compreender como fenômenos numa parte do globo afetam as demais. Assim, por
exemplo, o fenômeno do El Nino, o aquecimento das águas do pacífico, influi
diretamente sobre a distribuição de chuvas na América do sul, agrava secas no
nordeste brasileiro e provoca inundações no sul do país. É crescente o conhecimento
sobre a atmosfera, seu teor de umidade e o vapor d’água nela existente, sobre
evaporação, evapotranspiração (a evaporação a partir das plantas). Pesquisas que recenseiam as nuvens tais como o
projeto
Chuva, do INPE, permitem prever tempestades e simular
impactos das mudanças climáticas.
A transposição de água de
uma bacia para outra pode ser feita por meio de obras de infraestrutura de
engenharia que transportam águas superficiais. Também é feita pela natureza por
meio dos rios voadores, sendo a umidade do ar transportada pelas nuvens de uma
região a outra, de uma bacia para outra.
Trata-se de um modo natural de transposição, econômico, sem demanda de
energia. Esse modo está crescentemente influenciado por ações humanas ao
desmatar, ao criar aglomerados urbanos, ao interferir sobre o ciclo da água e
alterar os ciclos do carbono, do nitrogênio, do enxofre.
Os rios
voadores que se formam a partir da umidade evaporada na Amazônia são
essenciais para prover chuvas no centro-oeste e no sudeste brasileiro. O desmatamento
na Amazônia afeta a disponibilidade de agua no sudeste, e a atuação sobre o
desmatamento na Amazônia é parte integrante de uma gestão integral do ciclo da água.
Uma das formas de atuar sobre a água
atmosférica é o bombardeamento de nuvens para precipitar chuvas. A revista
Scientific American n.63, edição especial sobre água, tem uma matéria sobre o
tema “Invocando Chuva”, por Dan Baum, que mostra a semeadura de chuva por meio
de iodeto de prata Isso faz aglutinarem dentro das nuvens as pedras de gelo que
se derretem ao caírem para regiões da atmosfera em que a temperatura é maior,
formando chuvas ou tempestades de granizo, e nesse caso chegam ainda em estado
sólido na superfície. Em países onde isso vem sendo usado, há consequências
conflitivas. Na China por exemplo, isso gerou disputas entre províncias
vizinhas, pois nuvens bombardeadas num estado vieram a chover em outro, devido
aos movimentos dos ventos, subtraindo água de um deles em benefício do outro.
A
gestão integral do ciclo da água exige ir além dos tradicionais
instrumentos da gestão de recursos hídricos e usar instrumentos ligados a uma
compreensão mais ampla do ciclo da água e das consequências que o desmatamento
numa região pode trazer para a disponibilidade de água em outra região. Ela implica
em atuar sobre a demanda por produtos, sobre a economia para reduzir as
demandas excessivas de água que causam estresse hídrico, sobre a cultura e os
hábitos alimentares e de vida. Para se lidar de modo integral com a gestão do
ciclo da água, pode-se lançar mão tanto das geoengenharias e modos de
interferir com a produção de precipitação de chuvas, como reduzir demandas por
água nas diversas atividades econômicas, especialmente o consumo pelo usuário que
mais a utiliza, a agricultura irrigada.
Ela pode envolver a produção de água, a recarga de aquíferos por meio de
barraginhas e barragens subterrâneas. Pode envolver o controle da salinização e
das cunhas salinas, nos locais em que elas interferem com a água doce.
A visão
integral do ciclo da água ajuda se articular seu planejamento e gestão, numa perspectiva
de longo prazo.
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