“Não há a menor dúvida em minha mente que caórdicos
nós somos, caórdicos nós vamos permanecer, caórdico o mundo é, e caórdicas
as nossas instituições tem que se tornar. É o caminho da vida desde o começo do
tempo e o único caminho para um mundo sustentável nos séculos por vir, enquanto
a vida continua a evoluir para uma sempre crescente complexidade. ”
Dee
Hock,
fundador do cartão Visa
Caórdico é o
comportamento de sistemas autogovernados, organismos ou organizações que combinam
características ordem e de caos. Ele não
é dominado nem pelo caos nem pela ordem. É um princípio organizador básico da
natureza e da evolução.
O caórdico resulta da
interseção entre o caos e a ordem. É um espaço proativo, em que não se sabe a
priori o que vai ocorrer, aberto à diversidade, à capacidade de
auto-organização, à coragem para a inovação, a criatividade e a vida.
O espaço caórdico é um
espaço de aprendizagem, no qual se aproveita a sabedoria e a inteligência
coletiva, um espaço de liderança participativa e de inovação. Ele pode ser
criativo e alimentar-se das divergências, características distintas da ordem,
interconectada e convergente.
Ele supera a insegurança,
a ansiedade, o medo e mostra que ordem e
controle produzem mais do mesmo, de modo opressivo, inflexível, egocêntrico,
cortando possibilidades de inovação. Por outro lado, mostra que o chamos (o colapso,
o extremo destrutivo e agressivo do caos) fragmentado, leva à apatia e ao
desencorajamento.
A figura 1 sintetiza essa
ideia de dinamismo associada aos processos caórdicos.
O pêndulo da dinâmica da
realidade oscila entre o caos e a ordem. Em alguns momentos predomina o caos,
em outros prevalece a ordem. A psicologia humana, a sociedade e a natureza evoluem de acordo com
tais oscilações. Os sistemas vivos sociais, os processos psicológicos e de
funcionamento de organizações seguem um processo caórdico.
A momentos ultra caóticos
se sucedem momentos que clamam pela ordem e o controle. A recusa ao controle e
à ordem que procuram preservar o velho pode
levar a movimentos anárquicos, caóticos, abertos ao novo.
A teoria do caos postula
que uma pequena mudança pode levar a resultados de grande escala, como por
exemplo no efeito borboleta que ao bater as asas numa parte do planeta, pode
levar a ocorrência de furacões em outra parte distante. Uma micro mudança num
local pode induzir a ocorrência de macro mudanças bem longe dali.
Jared Diamond escreveu o livro
Colapso, em que descreve como algumas sociedades, a exemplo dos povos que
habitavam a ilha de Páscoa escolheram o fracasso, o chamos, o caos destrutivo. Ele mostra como outras sociedades, a
exemplo da japonesa ou a da ilha de Tikopia, no pacifico Sul, souberam aproveitar
o espaço de inovação e de criação entre o caos e a ordem e, com coragem e
lucidez, escolheram um caminho que as fez escapar do colapso e do caos
destrutivo.
Crises tais como desastres
naturais e crises econômicas podem levar a reações, paralisia e medo, mas podem
também levar à identificação e aproveitamento de novos recursos, abrindo espaço
para o novo.
A destruição criadora é
representada na mitologia hindu pela figura de Shiva, o deus da criação e da
destruição que, dançando, destrói o velho para construir o novo.
Figura: Shiva Nataraj, dançando destrói o velho e cria o novo.
A combinação de caos e
ordem pode gerar frutos criativos, abertos à inovação. O trabalho em rede,
coletivo, pode se mover entre o caos e a ordem. Espaços de fraternidade, a economia
colaborativa e solidaria, a micropolítica, as revoluções moleculares, a criatividade
artística, cientifica se realizam a partir do caórdico.
As organizações caórdicas
se baseiam em princípios e propósitos duradouros, claros. Elas se auto organizam e se autogovernam, mas são maleáveis
em sua forma e função; distribuem equitativamente o poder, os direitos,
responsabilidades e recompensas, combinam de modo harmonioso a cooperação e a
competição. Valorizam o sentido da vida, a missão, a tarefa que cada um tem o direito e
o dever de realizar. Mas direitos e deveres são ideias europeias Dharma é a concepção indiana que torna
direitos e deveres uma só coisa.
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