Estudantes de ciências humanas da
UnB me convidaram para dar uma aula no curso de Holismo que ali frequentam.
Estavam interessados em questões econômicas e eu preparei uma apresentação
sobre ecologia e economia.
Depois de uma hora de aula, houve
diversas perguntas: como mediar conflitos em torno de acesso a recursos
naturais?; o que é economia de baixo carbono?; a questão do antropoceno.
Esquematizei a relação entre o
meio ambiente e o sistema econômico: recursos naturais são extraídos,
transformados na produção industrial ou artesanal, consumidos; parte deles é
reciclada no próprio sistema econômico e outra parte é devolvida ao ambiente na
forma de rejeitos e degradação que alteram o estado geral do ambiente.
Falei sobre como uma população de
7 bilhões de pessoas, com aspirações de consumo material crescentes, pressiona a
capacidade de suporte de um planeta limitado. Expliquei sobre a pegada ecológica,
o indicador de sustentabilidade que mede a pressão humana sobre a biosfera e
que estima que, a continuar a tendência de crescimento econômico material, precisaremos
de vários planetas. Essa pressão pode levar a aumento de conflitos associados ao acesso
a recursos naturais, a crises, colapsos, catástrofes e desastres e a uma necessidade
crescente de se desenvolver uma cultura de paz, para reduzir os riscos de violência.
Fiz referência a Jared Diamond,
que em seu livro Colapso afirma que
“fatores ecológicos, mais frequentemente que guerras ou política, determinam o
sucesso e o fracasso dos povos. ” Ele encadeia problemas como mudanças climáticas,
que produzem secas e sobrecargas no ambiente, levam ao esgotamento de recursos
e da capacidade de suporte, o que por sua vez agrava tensões sociais, leva a empobrecimento
econômico e induz a conflitos políticos e guerras. A guerra na Síria é um
exemplo desse encadeamento de problemas ecológicos e climáticos, sociais,
economicos, políticos e bélicos.
Como exemplos de colapsos,
mencionei o Mar de Aral, que praticamente secou depois que o planejamento agrícola
hidroalienado na região desviou as águas dos rios para usá-las na irrigação da
cultura de algodão. Também mencionei a ilha de Páscoa, onde disputas por status
social entre tribos que construíam as grandes estátuas, aceleraram a devastação
florestal, a redução das fontes de água e levaram ao empobrecimento econômico e
ao declínio social. Como exemplos positivos, falei do Japão,
que resolveu no passado os seus problemas florestais e faz uso econômico das florestas
sem destruí-las e preservando os serviços ambientais que elas prestam ao conter
erosão e proteger mananciais de agua. Esse exemplo é citado por Diamond, que também menciona a ilha de Tikopia, no
Pacífico Sul, onde a estratégia para garantir a capacidade de sustentação foi a
mudança de hábitos alimentares, eliminando porcos que “atacavam e estragavam as
plantações, competiam com os humanos por comida, eram um meio ineficaz de
alimentar seres humanos (são necessários nove quilos de vegetais comestíveis
para produzir apenas um quilo de porco) e acabaram se tornando uma comida de
luxo para os chefes”. (Colapso,
p.356)
Em seguida falei sobre o desastre
de Mariana e a reação que despertou entre acionistas engajados na Austrália,
que desejam que as empresas não produzam apenas lucros imediatos, mas que tenham
responsabilidade ecológica e social. Falei sobre as companhias de seguros, o
ramo das atividades econômicas diretamente envolvido nas consequências econômicas
das catástrofes.
Coloquei a questão
econômica num quadro de visão de longo prazo, evolucionária, escapando das questões
conjunturais, que atraem muita atenção, mas que desviam o foco da consciência
de que a economia é parte da ecologia e que a economia não pode continuar a
fazer de conta de que não existem limites ecológicos na capacidade de suporte
da terra. Citei Patrick Viveret que, no livro Reconsiderar a riqueza, publicado pela Universidade de Brasília,
afirma que o cuidado com a casa menor – a oikos nomos da economia, precisa estar
inserido no cuidado com a casa maior, a oikos logos da ecologia. Mencionei as várias
crises que se superpõem sob o quadro geral da crise da evolução: a crise da evolução da espécie, a ecológica, a hídrica, a social, a cultural,
a civilizatória, a da consciência,
a energética, a econômica, a política bem como as crises subjetivas,
pessoais, no relacionamento interpessoal.
Muito mais havia a falar sobre as motivações
desejos e paixões humanas que impulsionam a economia, sobre o consumo e o consumismo.
E também sobre as respostas que vêm se multiplicando, com a opção pela
simplicidade voluntária; e a economia colaborativa e solidária, tanto na escala
de uma família, em que os filhos cuidam da saúde e bem-estar de sua mãe, como
também em escala planetária, supranacional, nos cuidados com a saúde da mãe Terra. Mas o
tempo da aula se esgotou e tais aspectos ficaram para ser abordados em outra ocasião.
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