A
abordagem psicológica yogue é baseada numa visão ampla do que é o ser humano,
com seus aspectos corporais, mentais, emocionais, espirituais. “Para cada
conceito psicológico em inglês há quatro em grego e quarenta em sânscrito”
observa A.K. Coomaraswamy[1],
apontando para a importância e profundidade da subjetividade na civilização
indiana.
A psicologia yogue cobre um espectro mais amplo da consciência e precisa de mais conceitos para descrevê-lo do que a rudimentar psicologia ocidental ( exceto a transpessoal).
A psicologia yogue cobre um espectro mais amplo da consciência e precisa de mais conceitos para descrevê-lo do que a rudimentar psicologia ocidental ( exceto a transpessoal).
O
sábio indiano Sri Aurobindo explicita as diferenças entre a concepção ocidental
e oriental do que seja a consciência: “A psicologia Yogue, como a moderna
psicologia, é uma ciência empírica no sentido de que ambas são conhecimento
baseado na experiência. Ambas empregam a observação e o experimento como seus
métodos fundamentais. Entretanto, o campo da psicologia Yogue é muito mais
vasto do que aquele da psicologia moderna, pois ele se estende para
experiências e fenômenos que estão além da percepção dos sentidos físicos ou
cognoscíveis pelo intelecto. ” [2]
Ramos
da psicologia ocidental, tais como a psicanálise, admitem a existência do
inconsciente individual ou coletivo ou do subconsciente, mas negam a existência
da supraconsciência ou da ultraconsciência. Nos primórdios do século XX, Sri
Aurobindo apontava as limitações de
conceitos e práticas psicanalíticas:
“Eles
(os psicanalistas) olham de baixo para cima e explicam as luzes mais altas
pelas obscuridades mais baixas; mas a fundação dessas coisas (experiências
espirituais) está em cima e não embaixo. O
supraconsciente é o verdadeiro fundamento, e não o subconsciente. Não é
analisando-se os segredos da lama de onde nasce a flor do lótus que explicamos
sua existência. O segredo da flor do lótus está no arquétipo divino que
floresce para sempre nas alturas, na luz. O campo auto-escolhido desses
psicólogos é, além de pobre, escuro e limitado; você precisa saber o todo antes
de saber a parte e o mais alto antes que possa entender verdadeiramente o mais
baixo.”[3]
Figura 17 – O lótus se alimenta do lodo abaixo e da luz
do sol acima.
Ken
Wilber exalta a contribuição pioneira de Sri Aurobindo como “o primeiro grande filósofo-sábio a
perceber profundamente a natureza e o significado da moderna ideia de evolução.
Assim, em Aurobindo, nós temos a primeira grande afirmação de uma
espiritualidade evolucionária que é uma integração do melhor da sabedoria
antiga e do mais brilhante do conhecimento moderno. ” Ken Wilber continua: “O
mundo permanece, para falar em termos bem gerais, dividido entre dois campos
altamente contendores: aqueles que acreditam nas antigas tradições de sabedoria
(e assim tendem a desconfiar completamente da noção moderna de evolução), e
aqueles que acreditam na visão científica moderna da evolução (que dispensa
completamente quaisquer noções do Espírito). Ambas essas visões são
terrivelmente parciais e fragmentadas, mesmo que ambas clamem ter o caminho
interno para a verdade. Mas como Aurobindo viu – provavelmente mais claramente
do que qualquer outro antes ou desde então – a narrativa científica da
evolução, que se baseia em nada mais do que a matéria suja e dinâmica e
sistemas de processos (por exemplo, a teoria do caos, estruturas dissipativas
longe do equilíbrio, autopoiese etc) não
pode nem começar a explicar as extraordinárias séries de transformações
que trouxeram a vida a partir da matéria
e a mente a partir da vida, e que está destinada a fazer nascer, do mesmo modo,
a mente mais alta, a supramente e a supermente: somente o Espírito pode
responder pelo deslumbramento que é a glória da evolução.” (WILBER, in
A.S.DALAL 2001)
[1] Citado por
RUSSELL, Peter. Acordando em Tempo –
encontrando a paz interior em tempos de mudança acelerada. São Paulo: WHH, Antakarana, 2006.
[2]
Sri Aurobindo, citado por A.S. Dalal in A Greater Psychology, Pg. 312
[3]
Sri Aurobindo, Letters on Yoga, SABCL vol. 24, pgs. 1608-1609, citado em
A Greater Psychology, Pg. 307.
Nenhum comentário:
Postar um comentário