Pierre
Weil e eu publicamos em 1990 na revista Thot um artigo intitulado “ A paz no
espírito dos homens: o princípio básico da UNESCO está sendo esquecido. ” O
preâmbulo do ato que constituiu a UNESCO afirma que “ Se as guerras nascem nos
espíritos dos homens, é nos espíritos dos homens que devem ser erguidos os
baluartes da paz. ”
Naquele
artigo, examinamos como a dimensão da paz interior foi esquecida nos programas
de pesquisa e formação.[1]
Figura - A transmissão da arte de viver em paz. Fonte: Weil e Ribeiro, Thoth, 1990.
A
ecologia teve origem no campo das ciências biológicas. Durante o século XX se
expandiu para o campo das ciências sociais e para o campo das ciências da
subjetividade. Estudados de perto, os três grandes campos da ecologia incluem inúmeros
outros, cada qual com um corpo de conhecimentos a ele associado. O campo da ecologia da natureza se desdobra nas
áreas da ecologia vegetal, animal, de comunidades, da paisagem, cósmica,
magnética, planetária, energética. O campo da ecologia social se ramifica na ecologia humana, cultural, política,
urbana, industrial, econômica, jurídica, do trabalho. Por sua vez, o campo da ecologia interior se desdobra nas áreas
da ecologia do ser, evolutiva humana, da consciência, dos saberes,
informacional, da criatividade, mental, corporal, das emoções, sensorial,
médica, profunda, transpessoal, espiritual e enfatiza
o autoconhecimento.[2] A
combinação desses três grandes campos e seus desdobramentos conduz à ecologia
integral, a visão holística da ecologia, adotada pelo Papa Francisco em sua
encíclica Laudato Si em 2015.
A
construção da paz consigo mesmo e a abordagem da ecologia interior complementam
o enfoque socioambiental com que lida o gestor ambiental, ao enfrentar
conflitos. Pode-se adaptar o preâmbulo
da UNESCO ao campo das relações com a natureza: “Se a destruição da natureza
nasce nos espíritos das pessoas humanas, é nos espíritos das pessoas humanas
que devem ser erguidos os baluartes da preservação ambiental e da ética
ecológica”.
Pierre
Weil contribuiu com a ecologia integral ao aprofundar-se na ecologia interior.
Ele desvendou mecanismos psicológicos e elaborou um método para se alcançar a
paz com a natureza, social e consigo mesmo. Esse método é baseado no conhecimento das
emoções, do corpo e da mente e no suposto de que a paz interior é fundamental
para se alcançar a paz social e com a natureza. A partir da
compreensão da unidade com o todo e da consciência ecológica, ele acreditava ser possível reverter os
desequilíbrios e a destruição da paz. Na
teoria fundamental da UNIPAZ, ele expôs de forma didática os conhecimentos
sobre a ecologia integral que aqui sintetizamos em meia página. Ali ele
afirmava que “Todas as galáxias do universo são sistemas energéticos e que essa
energia assume três formas inseparáveis: informática (mente), biologia (vida) e
física (matéria); que o homem é parte integrante deste sistema energético,
sendo feito de matéria (corpo), vida (emoções) e informática (mente)
inseparáveis do todo. Em seguida ele se aprofunda nos aspectos subjetivos e da
ecologia interior. Constata que, na sua
mente, o homem se separa do universo e cria a fantasia da separatividade
(Homem-universo; Eu-mundo; Sujeito-objeto); que sua mente o separa da sociedade
e da natureza e se esquece de que a natureza, sociedade e homem são
inseparáveis. Mais ainda, a mente se considera separada da informática
(consciência) do todo; a mente individual se considera separada da mente do
universo (mentes que os hindus chamam de Atman e Brahman). O homem cria em sua
mente a fragmentação, o reducionismo; em sua vida, desenvolve emoções de apego,
raiva, ciúme, orgulho, medo, depressão e em seu corpo sente fome, carências
alimentares, tensões, respiração inadequada, doenças. Então, começa o processo
da destruição da ecologia do ser quando se gera um paradigma de fragmentação; e
porque se considera separado, gera emoções destrutivas no plano da vida, mais
particularmente o apego e a possessividade de coisas, pessoas e ideias que lhe
dão prazer; e por causa das emoções destrutivas surge o stress que destrói o equilíbrio do corpo. ” Pierre Weil explicou como o apego gera o medo
da perda e como o medo da perda produz estresse e doenças de origem
psicossomática.
[1] Ali foram apresentadas
as rodas da transmissão da arte de viver em paz, do processo global de
destruição e do despertar da paz no espírito dos homens, posteriormente
desenvolvidas por Pierre no seu livro sobre A
Arte de viver em paz.
[2] Para uma
descrição mais detalhada de cerca de 30 campos das ciências ecológicas, ver o
livro Ecologizar – volume 1, princípios para a ação, Editora Universa, 2009.
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