A Califórnia convive
desde 2010 com uma severa seca.
Com pouca chuva e muita gente, o sul do Estado planeja há anos a conservação
e controle de uso da água. Formulou um plano estratégico para lidar com
a seca, aumentando a oferta de água e reduzindo a demanda, com o mínimo
prejuízo ao bem estar. No campo da redução da demanda, um dos importantes
instrumentos para a adaptação à seca e para conservar água está no campo da
jardinagem e do paisagismo.
Os subúrbios e
bairros residenciais das cidades americanas são conhecidos pelos extensos jardins e gramados verdes. Os
versos de Leminski em Verdura,
cantada por Caetano Veloso lembram que
eles têm carro
eles têm grana
eles têm casa
a grama é bacana.
eles têm grana
eles têm casa
a grama é bacana.
Os gramados verdes são altamente
consumidores de água. Num contexto de seca, a grama deixa de ser bacana. Valorizam-se
outros modelos de paisagismo, incentivam-se padrões estéticos de jardins com
novos conceitos cuja aplicação leva à conservação de água.
Assim,
o Estado da Califórnia instituiu programas de reembolso (grants, rebates) para os moradores que tiram a grama seus jardins e
quintais e a substituem por plantas que precisam de pouca água. Programas de
reembolso tais como o do Departamento de Água e Energia de Los Angeles, pagam aos
moradores uma quantia proporcional à área do terreno que foi ajardinada com
plantas adequadas, reduzindo a demanda de água. As propostas dos moradores são avaliadas e pré-aprovadas.
Funcionários do governo inspecionam as mudanças feitas e liberam os recursos do
reembolso aos moradores. Para que os reembolsos sejam feitos de modo correto
esse programa depende de confiança e de não existirem fraudes entre os
funcionários públicos e os moradores. Da mesma forma, as floras
comerciais, que produzem e vendem mudas para os jardins e quintais, recebem
incentivo econômico pela venda de plantas que ajudam a poupar água.
Campanhas de divulgação,
com folhetos em inglês e em espanhol, recomendam regar jardins de manhã cedo,
instalar irrigação por gotejamento, coletar e usar água de chuva e usar plantas
nativas tolerantes à seca.
Micro aspersão.
Substituição de gramados por jardins com plantas que demandam pouca água em
Encinitas e em La Jolla, perto de San Diego.
Os jardins no campus da
Universidade da Califórnia em Santa Barbara adotam cactáceas e outras plantas
que demandam pouca água para sobreviver.
O programa de redução da
demanda de água por meio do plantio de jardins é sustentado por uma base de conhecimentos
sobre botânica, paisagismo, clima e técnicas de uso da água na irrigação de
plantas. Universidades, centros de pesquisa e jardins botânicos produzem o
conhecimento necessário, aplicam-no em seus jardins e o divulgam em programas de
educação sobre as plantas e suas demandas de água. Pratica-se o uso ético e consciente da água e estimula-se outro padrão estético que
valoriza as plantas nativas, adaptadas a cada bioregião e ecossistema.
No Brasil, a arquitetura, o
paisagismo e o urbanismo têm muito a aprender para se tornarem hidroconscientes
e deixarem de ser hidroalienados.
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