No século XXI há uma mudança no
patamar de consciência ecológica. Bilhões de seres humanos aprenderam que são
parte de uma espécie cujas atividades influem sobre o planeta e alteram o rumo
da evolução. Descobriram a existência da crise climática planetária e de seu
papel na evolução.
Nos últimos anos, houve um
crescimento vertiginoso na consciência sobre as questões ecológicas em diversos
públicos e segmentos sociais e nas práticas ambientais de indivíduos e
organizações. Antes periférico, o tema tornou-se central.
A conscientização ecológica é um requisito para superar a
atual crise ambiental e climática, pois dela podem decorrer mudanças de
comportamento e de atitudes sociais e individuais.
Relacionam-se a seguir dez
caminhos que promovem a expansão da consciência ecológica:
- Choques, catástrofes, colapsos e tragédias despertam indivíduos e sociedades de seu torpor e anestesia. A consciência ecológica é estimulada por tais desastres, que servem para questionar o modo de vida consumista, utilitarista. A pedagogia do susto acorda o cidadão e torna-o consciente das conseqüências ambientais negativas de seus hábitos de consumo e de seu estilo de vida. Por meio da dor e do sofrimento causados pelos desastres, pessoas e coletividades aprendem a importância de adotar práticas ecológicas, que previnam e evitem novos desastres. Exemplos: o derramamento de óleo na baia de Guanabara, no ano 2000 provocou mudanças de leis, de práticas empresariais; o susto causado pelo buraco de ozônio sobre a Antártida impulsionou acordos para controlar os gases CFC; as enchentes em Santa Catarina evidenciaram os riscos do inadequado uso do solo e do desmatamento de encostas; deslizamentos de encostas na serra fluminense provocaram mortes e prejuízos economicos; ilhas do Pacifico estão desaparecendo e suas populações têm que migrar; o risco associado às mudanças climáticas desencadeia esforços para compreendê-las e atuar de forma responsável. A percepção e a compreensão de riscos à saúde física e psíquica também despertam a consciência.
- Incentivos e desincentivos econômicos são forma eficaz de induzir mudanças de comportamento no sentido de adotar práticas sustentáveis e ecologicamente responsáveis. Exemplo: as leis de ICMS ecológico. A aplicação de multas e penalizações pode levar a mudanças de comportamento. O corte de crédito para quem não adota práticas sustentáveis é uma forma de fechar a torneira e dificultar tais práticas. Exemplo: resolução do Banco Central que cortou crédito para produtores rurais predatórios na Amazônia. A internalização de externalidades negativas, de custos econômicos, dói no bolso de quem produz os danos e ajuda a construir a consciência ecológica.
- A regulação é relevante, por meio da criação de normas e padrões inseridos em contratos, licitações, concorrências, que contemplem a sustentabilidade.
- Os sentidos - Os incômodos sensoriais são um forte motivador da consciência ecológica e motivam a mobilização social por melhoria das condições ambientais, a saúde e a qualidade de vida. A visão, audição, olfato, paladar, o tato, dão uma percepção sensorial do ambiente e alertam para as poluições. Exemplos: mobilizações pela despoluição do ar ou ações contra a poluição sonora em cidades.
- A tecnologia estende os sentidos e a percepção, permite penetrar em outras dimensões do universo, detectar problemas ambientais não perceptíveis sem a ajuda de instrumentos. A percepção sensorial é insuficiente se desacompanhada de conhecimento; pode-se enxergar e não compreender, pois o sentido sem o saber é cego: um leigo que tenha um câncer de pele e que se observe ao espelho enxerga apenas uma pinta; o saber do especialista decifra o risco e previne o agravamento do dano, ao extirpar as células cancerosas. Com sua luneta, Galileu demonstrou que a Terra girava em volta do Sol. Hoje, telescópios potentes revelam dimensões desconhecidas do universo; microscópios poderosos penetram nos mistérios do muito pequeno e ampliam a compreensão sobre os processos ecológicos.
- A ciência é um motor para expandir a consciência. O avanço do conhecimento científico expande a compreensão do universo e da psicologia humana, bem como dos riscos a que estamos sujeitos. A sociedade consciente e responsável do século 21 precisará cada vez mais de aporte de conhecimentos e de estar atenta aos temas ambientais para garantir sua saúde e qualidade de vida. Ainda que atualmente exista uma predisposição favorável à proteção ambiental, o déficit de saber e a ignorância dificultam a correta tomada de posição. Estamos afogados em informações, mas há uma escassez de sabedoria, observa o biólogo Edward O.Wilson, em seu livro Consiliência, que propõe a unidade do conhecimento.[1]A consciência da crise ecológica e climática foi expandida com a divulgação da Avaliação Ecossistêmica do Milênio, de autoria de um painel de cientistas sob os auspícios da ONU; bem como dos relatórios do IPCC – Painel intergovernamental de cientistas sobre a mudança do clima.
- A formação e educação em todos os níveis e faixas etárias, podem ecologizar cada uma e todas as disciplinas não só no campo do conhecimento técnico e científico, mas também no campo da sensibilidade, da ética e dos valores. A educação ambiental, a educação para a sustentabilidade e outras abordagens, buscam condicionar a consciência a valores ecológicos. As manifestações artísticas expandem a percepção por meio da sensibilidade estética, da criatividade e da imaginação e da emoção. O humor descobre ângulos inusitados para abordar questões ecológicas.
- A comunicação verbal ou escrita, interpessoal, social, a comunicação de massa, a TV, a internet, facilitam que bilhões de indivíduos tomem conhecimento da crise climática. Organizações da sociedade civil se valem da comunicação e da mídia para repercutir seus conhecimentos e pressionar governos. Gestores ambientais têm na comunicação uma ferramenta para se fortalecerem diante de áreas pouco sensíveis. Em 2007 relatórios científicos disseminados pelo cinema, provocaram um salto quantitativo na consciência humana sobre as mudanças climáticas.
- Ética ecológica – os valores ligados à solidariedade e à sustentabilidade são uma força que impulsiona a expansão da consciência ecológica. A espiritualidade intui dimensões supra-racionais da consciência, não detectadas pelos meios apenas racionais ou intelectuais. As crenças e valores morais e éticos podem impulsionar a consciência e induzir mudança de comportamentos. Assim, por exemplo, as tradições espirituais que acreditam na reencarnação tendem a induzir comportamentos ecológicos, no auto-interesse do ser, nesta e em suas próximas vidas.
- A meditação, a contemplação, técnicas que harmonizam e tranqüilizam a mente, permitem entrar em estados de consciência menos perturbados e dispersos, mais lúcidos. As abordagens e métodos de observação da realidade; de autoconhecimento e de reflexão, de controle da mente, são de grande valor para a expansão da consciência. No campo psíquico emocional ou mental, há práticas e exercícios que permitem expandir os limites humanos. Entre elas, as práticas de desenvolvimento da atenção e presença no agora, de criatividade por meio das artes e ciências, de meditação, algumas delas desenvolvidas por antigas tradições. A capacidade de concentrar a mente no essencial expande e aprofunda a consciência. A concentração é um método de condicionar a mente, concentrar a energia difusa e despertar poderes latentes. A necessidade, a demanda a crença e o desejo podem ser ecologizados e induzir atitudes e comportamentos ecológicos.
A combinação dessas abordagens de
aprendizagem por meio de vivências, do conhecimento sociocultural, de
incentivos econômicos, do controle social pode expandir a consciência ecológica
e induzir mudanças de comportamentos individuais e coletivos.
[1]
Consiliência é uma palavra que significa unidade de conhecimento, ou um salto
em conjunto do conhecimento. Estuda a concordância ou convergência de idéias e
conclusões a partir de diferentes origens e campos e que permite chegar a uma
mesma resposta através de diferentes caminhos. Outros esforços nesse sentido
vêm sendo empreendidos, como os de Ken Wilber, que escreveu Uma Teoria de Tudo
e elaborou um compreensivo esquema que denominou AQAL, por abordar todos os
quadrantes e todos os níveis da consciência.
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