Água subterrânea alimenta rios |
É crescente o número de municípios que sofre crises no abastecimento de água. Em
tempos de variabilidade climática e de imprevisibilidade no padrão de chuvas,
tais crises se tornam mais frequentes e graves.
Dispor de reservas de água capazes de abastecer as
necessidades humanas em periodos de seca é fundamental para a segurança hídrica
local. Prover água de forma segura e permanente demanda estocá-la, gerir bem o
estoque e distribuí-la de modo
eficiente. Estocada, ela se torna uma poupança valiosa. Para isso, a capacidade
de planejamento e gestão precisa ser aprimorada.
Ela pode ser
acumulada em reservatórios e barramentos de água superficial e distribuída por
meio de infraestrutura hídrica – dutos, canais, transposições. Há também a forma
mais natural de se estocar água: no solo. Ela chove, se infiltra e se acumula
nos aquíferos , de onde brota em nascentes e alimenta os córregos, riachos e
rios. Esse serviço hidroambiental é prestado gratuitamente pela natureza. http://www3.ana.gov.br/portal/ANA/videos/aguas-subterraneas-o-que-sao-aquiferos
Nas reservas subterrâneas, a água é filtrada no solo
não saturado que retém parte de suas impurezas. Ela se acumula nos aquíferos
freáticos de onde brota com qualidade muitas vezes melhor do que aquela que se
infiltrou. Sua quantidade também é preservada, pois há menor evaporação do que
nos reservatórios de superfície, especialmente em climas quentes e secos.
A proteção das áreas de mananciais e de recarga de
aquíferos permite que a água de chuva se infiltre no solo e os reabasteça.
No Brasil, há exemplos inspiradores da importância
de acumular água no subsolo para proteger mananciais. No século XIX, o
imperador Pedro II promoveu diretamente
o reflorestamento da Floresta
da Tijuca, que havia sido devastada para o plantio de café. Tal devastação
ameaçava o abastecimento de água da capital do país, o Rio de Janeiro. A intervenção do próprio imperador atesta a
importância estratégica do tema. Esse é um exemplo positivo do que pode ser
feito no Brasil em escala maior, para manter vivas as fontes de abastecimento. Entre as boas práticas atuais nesse tema,
destaca-se o Programa Produtor
de Água que paga por serviços ambientais os produtores rurais que deixam de usar
suas propriedades para outras finalidades e passam a priorizar a produção de
água. Vários municípios brasileiros têm adotado esse modo para proteger suas
fontes e uma condição essencial para tanto é que haja algum ator disposto a
pagar por esse serviço ambiental. Companhias de águas estaduais ou municipais
são grandes interessadas nos seus resultados. Outra iniciativa relevante é o
programa Cultivando
água boa, de Itaipu Binacional, voltado para a sustentabilidade hídrica, com ações
socioambientais. Esse programa conserva os solos, reduz erosão, reduz o
assoreamento e aumenta a vida útil do reservatório da hidrelétrica.
Há bons exemplos em iniciativas da sociedade civil
tais como a do Instituto
Terra, que promove o plantio de árvores numa região devastada pela pecuária no
vale do Rio Doce, com resultados expressivos em termos de retorno de nascentes
que haviam desaparecido.
Programas de construção de barraginhas também são eficazes para reter água de chuva e
permitir sua infiltração, ao invés de escorrerem em enxurradas.
Para a maior parte das 5500 cidades brasileiras e para
milhares de distritos e propriedades rurais a formação de estoques de água no
solo é uma solução ecológica natural, econômica
e factível tecnicamente.
Os
municípios têm competências legais para atuar sobre o que se faz com o seu solo
e dispõem de instrumentos tais como leis de ocupação do solo e os planos
diretores, que precisam ser formulados de modo hidroconsciente. Hidratar o
planejamento e a gestão municipal, ou seja, levar em consideração as questões
da água, é um imperativo para se prover fonte segura de abastecimento em tempos
de variabilidade climática.
A natureza tem uma ótima maneira de estocar água. Pode-se
trabalhar a favor das pessoas e da
natureza aproveitando os serviços que ela oferece. Isso implica reconhecer, valorizar
e proteger os serviços hídricos naturais prestados pelo ciclo da água e cuidar
para que sejam mantidos.
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