Maurício Andrés Ribeiro
Muitos estados e
municípios brasileiros expressam em seus nomes a importância da água: Rio Grande
do Norte e do Sul, Rio de Janeiro, Piauí; Entre Rios de Minas, Lagoa Dourada,
Arroio Grande, São Gabriel da Cachoeira.
A abundância da água
nessa terra foi reconhecida por Pero Vaz de Caminha em 1500 em sua carta ao rei
de Portugal: “Águas são muitas; infinitas. Em tal maneira é graciosa que,
querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa das águas que tem!”
Os povos indígenas que
viviam no território que viria a ser o Brasil reconheciam a importância da
água. Muitos lugares tinham nomes relacionados com ela: Uberaba, água que
brilha; Itororó, bica d’água; Pitangui, rio das crianças; Itamaraty, água entre
pedras soltas; Igarapé, caminho das canoas; Igapó, a floresta inundada nas
cheias.
As tradições
culturais indígenas, de origem africana e de matriz europeia sempre
deram importância simbólica e espiritual
às águas.
Os rios foram, desde o início
da colonização portuguesa, caminhos de entrada para o interior do país, na região
amazônica. O rio São Francisco – o rio da integração nacional - foi via de transporte de Pirapora até Juazeiro
e até o século XIX um de seus afluentes, o rio das Velhas foi navegável até
Sabará, cidade que integra a região metropolitana de Belo Horizonte.
Desde o ciclo do ouro, a água
foi usada na mineração. Ela afogou escravos na mina da Cata
Branca que desmoronou em Itabirito e continua sendo
importante insumo na mineração atual.
Em 1822, a independência
do Brasil foi proclamada às margens do córrego do Ipiranga em São Paulo. No
Império, Dom Pedro II foi motivado a recompor a floresta
da Tijuca, para recuperar as fontes de água que abasteciam o
Rio de janeiro.
Obras de infraestrutura
hídrica tais como aquedutos, chafarizes e canais estão presentes nas cidades
coloniais brasileiras. Monjolos, moinhos
de água, moringas, filtros de barro e outros objetos e máquinas lembram os
modos como se aproveitava e armazenava água desde a época do Brasil colônia.
A falta d’água e a seca eram fenômenos frequentes no nordeste. A grande seca de 1877-1880 levou à construção de açudes, como o do Cedro, no Ceará. Os poderes curativos e medicinais das águas foram explorados na crenoterapia praticada em estâncias hidrominerais.
No século XX a hidroeletricidade
foi um uso dominante das águas, o que levou a que elas fossem administradas
pelo setor elétrico, desde o Código de Águas de 1934 até a
lei das águas de 1997. A partir da segunda metade do século XX a
industrialização a usou intensamente como insumo na produção e para a diluição de
rejeitos.
A agricultura
irrigada se tornou grande usuária da água a partir da década
dos anos 70, quando o Brasil tornou-se grande exportador de commodities para um
mundo com muitas regiões em situação de estresse hídrico.
O Brasil que se urbanizou
intensamente a partir da segunda guerra mundial demandou cada vez mais água
para o abastecimento urbano. Os rios continuaram a ser usados para o despejo de
esgotos in natura.
A poluição das águas
prejudica especialmente aqueles usos que dependem de boa qualidade como os
esportes aquáticos ( vide os problemas durante as olimpíadas na lagoa Rodrigo
de Freitas e na baia de Guanabara), o lazer, devido à precária balneabilidade em
praias, cachoeiras etc; o turismo, que depende de boa qualidade das águas, o patrimônio cultural e natural (
Sete quedas ou Guaíra, foram inundadas
pelo reservatório de Itaipu) e a pesca,
que depende dos serviços ambientais e que é ameaçada pelas poluições e a má
qualidade da agua.
No século XXI, a crise hídrica atingiu o centro oeste
e o sudeste brasileiro. O mito da abundância das águas cede lugar a uma realidade
em se multiplicam que conflitos entre usos, entre estados e entre municípios.
No século XXI as mudanças
climáticas trazem a necessidade de estudar o tema da água num contexto de longo
prazo, dentro dos grandes ciclos da história natural e das eras glaciais e
interglaciais. Do colapso da ci vilização maia, da
cultura da ilha de Páscoa, de Fatehpur Sikri na India devido a escassez de agua
o Brasil pode aprender lições que levem a uma sociedade hidricamente mais duradoura.
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