segunda-feira, 10 de junho de 2019

A visão sociopolítica de Sri Aurobindo serve para iluminar caminhos na grande transição atual?



Maurício Andrés Ribeiro

Sri Aurobindo  dizia que muito do que ele havia visualizado e antecipado se cumprira durante seu período de existência. Assim por exemplo, as propostas de seus artigos sobre a doutrina da resistência passiva , de 1907, foram aplicadas e levaram à Independência da Índia quarenta anos depois, em 1947. A luta pela independência da Índia e a doutrina da resistência defensiva não tinham como propósito apenas a liberdade política ou econômica, mas também criar as condições para a liberdade do espírito e das ideias, especialmente na civilização indiana que ele valorizava como Nesse sentido, a renascença indiana, a disseminação dos valores e conhecimentos do poder suave da cultura indiana – yoga, inteligência espiritual, manifestações culturais etc. vem contribuindo para ajudar na evolução humana.
Em relação a outros temas que ele valorizou muito mais se realizou posteriormente nos séculos XX e XXI. O autoconhecimento e a importância da consciência foram impulsionados pelos  desenvolvimentos na psicologia e nas neurociências, nas ciências da computação, na inteligência artificial e na robótica, além dos campos subjetivos das ecologias, tais como a ecologia interior, ecologia profunda,  do ser, ecologia transpessoal, ecologia espiritual.
A unidade planetária foi impulsionada  quando as viagens espaciais, a visão do astronauta e a contemplação do planeta de fora dele ajudaram a consolidar essa visão da unidade para além das diversidades locais ou nacionais. Um dos aspectos que nos une , pessoas humanas e não humanas, é o de que somos todos terráqueos e ocupamos um mesmo lugar  no universo, esse planeta num sistema solar situado na periferia da Via Láctea.
O humano, um ser em transição na evolução.



Propostas sobre fraternidade, de vivência do espírito, de cooperação  vêm se realizando na prática por pequenos grupos emergentes, mas não ainda como tendência dominante na sociedade. Relações  fraternais  se realizam em várias situações nas artes nas ciências, na filosofia, na ação social. Em alguns casos são praticadas  de modo similar à caridade e assistência, em outros  casos resultam  de compaixão e solidariedade para com a casa comum. Em alguns casos é uma fraternidade antropocêntrica, em outros casos vai além da espécie e abarca uma visão eco ou biocêntrica,  tal como ocorre no movimento ecológico,  que considera os seres vivos, animais e vegetais, rios etc. como pessoas.
O autor ganhou em 2019 o prêmio
Templeton de Ciência e Espiritualidade
Do mesmo modo,  a espiritualidade se espalha por domínios das ciências, das artes, da filosofia, para além do âmbito das religiões onde foi por muito tempo confinada.  Uma espiritualidade laica, transreligiosa se manifesta em várias situações atuais.
As ideias visionárias de Sri Aurobindo estão se realizando à medida que as pessoas se transformam e como isso transformam o ambiente, que por sua vez as transforma. O homem é produto do meio, que por sua vez é produto do homem, numa interação mútua e recíproca. Atualmente cresce a prática e a consciência de que devemos ser a mudança que queremos ver no mundo, que a transformação individual é essencial para a transformação coletiva e mais ampla. Revoluções, mutações moleculares no nível dos indivíduos, estão acontecendo.
A crise evolutiva pela qual passamos, nesse estágio terminal da era cenozoica  traz novas pressões e desafios que nossa espécie precisa enfrentar, com o apoio dos recursos da ciência e da tecnologia e do autoconhecimento. O mapa do caminho traçado por Sri Aurobindo  traz pistas valiosas para nos orientar nessa etapa da história e da evolução  da espécie, que ele considerava uma espécie em transição, um ser ainda inacabado.


Nenhum comentário:

Postar um comentário