Maurício Andrés Ribeiro
Cada tipo de ação implica em modos distintos de relação do ser humano com os demais seres vivos. |
A lei do karma é a lei da ação. Karma yoga é a yoga
da ação. Aquele que pratica uma ação recebe de volta uma reação; nesta ou em
outras vidas, para aqueles que creem na reencarnação. A intensidade e qualidade
da reação são função do tipo de ação praticada.
As motivações para a ação variam desde aquelas centradas
no auto interesse imediato – as ego
ações – até aquelas voltadas para motivações generosas, pela consciência ecológica
– as eco ações – ou aquelas de prestar um serviço abnegado e altruísta a outros: a seva.
Seva é uma palavra sânscrita para o ato do serviço altruísta ou abnegado.
Tal ato leva ao benefício coletivo, sem almejar resultados para o indivíduo que o pratica. Seva é um ato de compaixão pelos
outros e um modo de se desenvolver pessoal e espiritualmente. Diz a Yogapedia que “ Realizar o seva pode ser uma tarefa desafiadora,
pois pode gerar dificuldades pessoais para as pessoas que o fazem. Elas podem
descobrir suas próprias aversões a certos aspectos do trabalho. No entanto, por
meio da conscientização desses desafios, a seva pode ser uma ferramenta poderosa para as pessoas aprenderem mais
sobre si mesmas, suas personalidades e os padrões de comportamento ou
pensamento que já não os servem.” Trata-se da ação
desinteressada, sem expectativas quanto a seus resultados, de quem age para
cumprir o seu dharma ou, usando conceitos ocidentais, seu direito/dever.
Fritjof
Capra in Uma ciência para o
desenvolvimento sustentável escreve que “No decorrer deste novo século, dois fenômenos
específicos terão um efeito decisivo sobre o bem-estar e o modo de vida da
humanidade. Ambos se desenvolvem em rede e ambos estão ligados a uma tecnologia
radicalmente nova. O primeiro é a ascensão do capitalismo global; o outro é a
criação de comunidades sustentáveis baseadas na prática do projeto ecológico. Ao
passo que o capitalismo global é
composto de redes eletrônicas de fluxos de finanças e de informação, o projeto
ecológico mexe com redes ecológicas de fluxos de energia e matéria. A meta
da economia global, em sua forma atual, é a de elevar ao máximo a riqueza e o
poder de suas elites; a do projeto ecológico, a de elevar ao máximo a
sustentabilidade da teia da vida. “ Um desses caminhos tende a ser egocentrado
no seu interesse imediato, com consequências destrutivas sobre o que é de interesse
comum; o outro, o projeto ecológico, amplia a noção de autointeresse. Enquanto a eco-ação
focaliza o interesse da vida e de um planeta em condições de abrigá-la, a ego-ação
enfatiza o interesse particularista, privado, pessoal. Quando a consciência
focada no ego pessoal se amplia para a consciência ecológica, percebe-se que
somos parte do ambiente e o que ocorrer com ele ocorrerá conosco.
A
consciência ecológica ajuda a avançar de um egoísmo ignorante para uma forma
mais esclarecida de egoísmo. Com a
consciência ecológica, a noção de auto interesse se expande. Ecologizar o
interesse é uma atitude sábia para enfrentar a atual megacrise da evolução.
Há no planeta bilhões de indivíduos humanos, sintonizados em distintas
faixas da consciência, que é
condicionada por influências culturais, familiares, religiosas, do ambiente
humano, social, natural. À medida que se amplia a consciência, passa-se a
incluir outros aspectos no campo do interesse próprio. Percebe-se ou enxerga-se
mais longe.
Na egoação, a ganância e as motivações egoístas estão no foco e o restante torna-se um pano de fundo fora de foco. |
À medida que se evolui do estágio egocêntrico
para o etnocêntrico (o interesse do grupo racial ou social) para o mundicêntrico
(o interesse planetário) ou o ecocêntrico, o campo do auto interesse
se expande e torna-se mais inclusivo.
Sri
Aurobindo, em seu livro A Vida Divina, realça que o humano é um
ser em transição na evolução e que pode aspirar a se tornar algo mais. Ele propõe que se renuncie ao egoísmo que está na raiz da ação individual ou coletiva,
pessoal, nacional ou internacional e ao
ego que só pode pensar colocando-se como centro. Dissolver o ego que está na
raiz dos sofrimentos é para ele um
caminho pois “Quando o ego busca
liberdade, ele chega ao individualismo competitivo. Quando ele objetiva a
igualdade, chega antes à disputa, e então a uma tentativa de ignorar as
variações da Natureza; como a única maneira de fazê-lo com sucesso, constrói
uma sociedade artificial e mecânica. Uma sociedade que persiga a liberdade como
seu ideal é incapaz de alcançar a igualdade; uma sociedade que mire na
igualdade será obrigada a sacrificar a liberdade. Para o ego, falar de fraternidade é falar de algo contrário à sua
natureza.”
Dissolver
o ego, renunciar ao egoísmo, evoluir
para a ação ecológica e para o ato de seva, podem oferecer pistas para
distanciar a humanidade da megaencrenca em que se meteu em suas relações com o
planeta em que vive e que a sustenta . Esse caminho de evolução pessoal e
individual, que não dispensa as mudanças sociais e coletivas, cada vez mais se
encontra às vistas de todos.
Muito bom, Mauricio! Posso compartilhar?
ResponderExcluirBj
Bom que você gostou! Compartilhe à vontade!
ResponderExcluirAbraços
Muito bom. ...Alcançar a igualdade não é uma procura contrária à natureza? A liberdade não é alcançada com a diversidade?
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