Maurício
Andrés Ribeiro
Nascido
em Calcutá em 1872 em pleno domínio inglês, Sri Aurobindo foi educado conforme
os cânones dos colonizadores, pois seu pai não queria que ele tivesse qualquer
contato com a cultura indiana. Tendo vivido na
Inglaterra dos sete aos 21 anos, Sri Aurobindo estudou profundamente o
hemisfério ocidental, com sua história, cultura e política. Somente
após retornar a seu país aprendeu o sânscrito, o bengali e processou
esse conhecimento à luz da Vedanta, a milenar sabedoria das escrituras hindus.
Sri Aurobindo participou ativamente, no início do século XX, da luta
pela independência de seu país. Entre
11 de abril de 1907 e 23 de abril de 1907, durante 10 dias, Sri Aurobindo
publicou no Bande Mataram, o jornal
que então editava sete artigos, com menos de 40 páginas, com a teoria e conceito da resistência
passiva ou resistência defensiva. Gandhi foi o mais conhecido aplicador da
resistência passiva, método e prática pelo qual a India conquistou sua independência
em 1947, quatro décadas depois.
Preso pelos ingleses, que o consideravam a
pessoa mais perigosa da Índia por sua luta pela independência, Sri Aurobindo
mudou-se para a ex-colônia francesa de Pondicherry para escapar de novas
prisões. Lá viveu todo o restante de sua vida.
A cultura indiana que era desprezada pelos
colonizadores europeus e particularmente pelos ingleses. Florência Costa, em seu livro Os indianos, cita lorde
Macaulay que afirmou que: ”o conjunto
inteiro da filosofia e literatura indianas
não valia uma única prateleira de uma boa biblioteca europeia.” Winston
Churchill comentou que “Eles (os indianos) são um povo bestial com uma religião
bestial”. Nos clubes dos colonizadores, indianos e cachorros não entravam. (p 190) e 30 milhões de indianos
morreram massacrados pelos ingleses, no maior genocídio da
história.
No seu livro Os fundamentos da cultura indiana Sri Aurobindo observa que dois
eventos, o movimento teosófico e a atuação de Swami Vivekananda em Chicago, no
Congresso Mundial de Religiões em 1900, foram fundamentais para revalorizar a
filosofia e a cosmovisão indiana, desprezadas e menosprezados pelos europeus. Ele
rejeitava alguns métodos e doutrinas dos teosofistas como teocratas e altos
sacerdotes mas os aceitava como por seu trabalho pioneiro e dava um crédito ao
papel dos teosofistas que beberam em antigas fontes orientais: "A
Teosofia, com suas combinações compreensivas de antigas e novas crenças e o seu
apelo a antigos sistemas espirituais e psíquicos teve em todas as partes uma
influência para muito além do círculo de seus seguidores explícitos." A Índia
veio a abrigar a sede mundial da
Sociedade Teosófica, em Adyar, Madras, atual Chennai, perto de onde
posteriormente veio a se estabelecer, em Pondicherry, a cidade de Auroville,
inspirada pelo pensamento de Sri Aurobindo. A Índia é um país com grande
abertura para propostas abrangentes e compreensivas, como essas duas.
Por
ocasião da segunda guerra mundial, a Índia estava no auge da luta de décadas
para obter sua independência, que veio a ocorrer em 1947. Muitos indianos
propunham manifestar-se neutros ou verbalizar o apoio à Alemanha, inimiga da
Inglaterra naquela guerra.
Mas
Sri Aurobindo foi enfático em defender o apoio aos aliados, quando escreveu em
3.9.1943:
“Mesmo se eu soubesse que os Aliados iriam
fazer mau uso de sua vitória ou não observariam a paz ou, ao menos em parte,
estragariam as oportunidades abertas ao mundo humano por essa vitória, ainda
assim, eu poria minha força por trás deles. De qualquer modo, as coisas não
seriam nem uma fração de centésimo tão ruins como seriam sob Hitler. As vias do
Senhor estariam ainda abertas – mantê-las abertas é o que conta. Mantenhamo-nos
na realidade, no fato central: a necessidade de remover o perigo da servidão
negra e do barbarismo revivido que agora ameaça a Índia e o mundo, e deixemos
para mais tarde todos os problemas secundários e menores ou questões
hipotéticas que pudessem nublar o único, inteiramente importante, o trágico
problema diante de nós.”
Sri
Aurobindo identificava com clareza o
problema central dos problemas secundários e enxergava as forças que atuavam por detrás dos
atores em guerra. Para ele o problema central era derrotar o nazismo e diante
disso até mesmo a luta pela independência se tornava um problema secundário.
.
Saber fazer essa distinção entre o que é o problema principal e o que são os
problemas secundários é um pré-requisito para se tomar a posição e realizar a
ação correta.
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