Maurício
Andrés Ribeiro
Prática de exercícios de yoga em escola em Delhi auxilia na concentração e no aprendizado. O soft power indiano em ação. |
Durante muitos séculos o subcontinente indiano foi
invadido, colonizado e se transformou. As grandes navegações que buscavam um
caminho marítimo para as Índias, as invasões mongóis e muçulmanas e a
colonização pelos europeus impactaram as culturas e valores preexistentes.
A cultura indiana foi desprezada pelos
colonizadores europeus e particularmente pelos ingleses. O político Lorde Macaulay, que reformou o
sistema educacional indiano durante a colonização, afirmou que:
”o conjunto inteiro da filosofia e literatura indianas não valia uma única prateleira de uma boa
biblioteca europeia.” E Winston Churchill disse que “ Eles (os indianos) são um
povo bestial com uma religião bestial”. Falar e ensinar as línguas locais era
punido e a língua inglesa era incentivada. Nos clubes dos colonizadores,
indianos e cachorros não entravam.
A partir do final do século XIX
redescobriu-se o valor da sabedoria ancestral contida nos Vedas, as escrituras
sagradas. Vivekananda no Congresso Mundial de religiões em Chicago em 1893 e os
teosofistas (cuja sede mundial se instalou em Adyar - Chennai, no sul da índia)
tiveram papel importante nessa revalorização. Sri Aurobindo escreveu sobre a
renascença indiana e a força de seus
pensamentos e conceitos, que foram aplicados na política por Gandhi e pelos que
alcançaram a independência da Índia em 1947.
Na segunda metade do século XX a
influência da Índia se propagou no mundo por meio do yoga, da meditação, da
literatura, da ciência, da medicina, da alimentação, do cinema, do poder suave
da cultura (o soft power indiano). Nos
anos 60 os Beatles ali buscaram inspiração e a divulgaram; a Índia abrigou o
Dalai Lama depois da invasão do Tibete pela China e dali os conhecimentos
budistas se disseminaram pelo mundo.
Diversos gurus, uns mais e outros menos polêmicos e controversos,
criaram comunidades nos Estados Unidos e na Europa.
O poeta e prêmio Nobel
Rabindranath Tagore compreendia a importância de a Índia compartilhar sua
experiência com o mundo: “Ao encontrar a solução para nosso problema, teremos
ajudado a resolver também o problema do mundo. O que a Índia já foi, o mundo
todo é agora. O mundo todo está-se tornando um único país por meio das
facilidades científicas.”[1]
O grande laboratório social
indiano experimentou modos de solucionar cada questão que ali se apresentou,
recorrendo à sua riqueza imaterial. A independência política alcançada por
meios não violentos é o resultado mais conhecido. O adensamento demográfico, a
convivência entre os diferentes, a relação
com a natureza são questões enfrentadas pioneiramente na Índia há muito tempo. Vários
problemas foram solucionados, outros ainda estão sendo processados com
liberdade. No mundo que hoje passa por problemas similares recorre-se à
sabedoria indiana para buscar respostas.
Na primeira parte do século XXI, a
consciência sobre a emergência climática e sobre a atual crise na evolução
busca em cosmovisões como a indiana inspirações para produzir respostas
adequadas.
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