Maurício
Andrés Ribeiro
Karma é uma
palavra do sânscrito que significa ação.
Toda ação
produz uma reação, toda ação produz um impacto e uma consequência.
Mais cedo ou
mais tarde boas ações produzem circunstâncias positivas na vida de quem as
pratica, enquanto más ações produzem sofrimento para quem as realiza.
Traduzindo tal
ideia em uma linguagem contemporânea, é como se cada indivíduo tivesse uma
conta ou cartão de crédito cármico, um “credicarma”, com seus créditos e
débitos, que se acumulam e que são pagos ou resgatados, cedo ou tarde,
imediatamente, no médio ou no longo prazo. No hinduísmo, Errou, pagou! Nesta vida ou em outras vidas. Não há indulgências,
não se compra a absolvição. Há quem tenha um karma pesado a pagar, já outros
tem um destino mais aliviado.
Karma é a lei
da causa e efeito aplicada à vida. Karma yoga é o yoga da ação.
As ações
podem ser motivadas seja por razões do
ego – a ego ação motivada pelo egoísmo, a ganância, a busca de poder; por uma
ética ecológica, a eco-ação voltada para cuidar do ambiente que sustenta a
vida; ou pela prestação de um serviço desinteressado , a seva, palavra do sânscrito
que significa serviço abnegado e que resulta de uma liberdade da alma de seguir o
próprio dharma. Seva ação, aquela que se
pratica no sentido de servir.
Uma ação pode ter uma motivação egoísta, ecológica ou de vontade de prestar um serviço. |
Num dos
textos sagrados hindus, a Bhagavad Gita, parte integrante do épico Mahabharata
(Grande Índia), Krishna, a divindade, estimula Arjuna, o guerreiro, a lutar e a
assumir seu próprio dharma, aqui entendido como missão ou tarefa: “Lembra-te
que é melhor cumprir a própria tarefa, ainda que seja humilde e insignificante,
do que querer fazer a tarefa de um outro, por mais nobre e excelente que seja.”[1]
Ao cumprir
seu dharma, o indivíduo liquida o débito do carma passado e obtém um crédito
para se libertar.
A Gita recomenda
que as ações sejam realizadas desinteressadamente. Sri Ramakrishna esclarece:
“Quando a Gita pede para realizarmos nossas ações sem qualquer pensamento sobre
o resultado, não espera que eliminemos todos os motivos como tais, mas que
eliminemos todos os motivos mundanos e que tenhamos o desenvolvimento de nossa
natureza espiritual como o único motivo para nossas ações”.[2]
Todo
indivíduo tem um dharma próprio, exigido pelas circunstâncias de sua vida -
positivas ou negativas - em que ele é compulsoriamente colocado pelo destino
para que equilibre ações passadas. Quem sabe o seu dharma torna-se
autoconsciente, conhece as ações que lhe cabe realizar nesta vida e procura
exercê-las virtuosamente. Ao cumprir a ação e a missão humanas a tarefa que lhe
cabe, o indivíduo ou a sociedade aceitam sua missão e reconhecem aquilo para o
que foram destinados.
Numa
interpretação livre, dharma é aquilo que uma pessoa ou uma coletividade ama, precisa,
ganha, tem habilidade e aptidão para fazer. É ao mesmo tempo a paixão, missão, vocação, profissão.
Descobrir
qual é o dharma, missão ou tarefa a cumprir em cada momento ou etapa é um
exercício de autoconhecimento que pode dar sentido a uma vida individual ou
coletiva.
Descobrir aquilo que dá sentido à vida é descobrir o próprio dharma. |
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