Maurício Andrés Ribeiro
Para quem se pauta pela consciência e ética
ecológicas, cada papel que desempenha traz oportunidades para ecologizar a
vida.
Somos
seres humanos multidimensionais. A vida cotidiana é pródiga em oportunidades
de ação ecologicamente consciente. Cada um pode, a cada momento, dar sua
contribuição para reduzir a pressão sobre a natureza: na vida
pessoal, por meio dos hábitos alimentares, da educação dos filhos, dos hábitos
de consumo, das práticas frugais, nas
aspirações e desejos, internalizando a consciência ecológica e a ética
ecológica em seus pensamentos, emoções e ações, bem como em sua relação com a
sociedade e a natureza vivendo conforme os princípios da simplicidade
voluntária, da austeridade feliz, do conforto essencial, da frugalidade. Isso
implica em mudar desejos, paixões, necessidades, vontades; em suma, transformar
as consciências e as energias que movem a ação humana.
O ser humano desempenha vários papeis nos quais pode se ecologizar. |
O
cidadão pode exercer direitos e ser
corresponsável pela qualidade do meio ambiente; evitar sujá-lo; associar-se a
movimentos coletivos pelo ambiente e depurar o
próprio ambiente interior do corpo, da mente e das emoções. Cada um de
nós é um ser em evolução que na vida cotidiana respira, se alimenta, exercita o corpo.
A redução do
consumismo e do acúmulo de bens materiais reduz as pressões sobre a natureza. O
consumidor responsável reduz o volume e peso dos produtos
usados; evita desperdícios de água, de
energia, de alimentos. Na alimentação, reduz as proteínas animais que são mais
pressionadoras do ambiente do que os produtos de origem vegetal, do ponto de
vista da ecologia energética. Adota
valores pós-materialistas, que desassociem a noção de qualidade de vida da
posse material. Pode boicotar os produtos que tenham causado impactos
ambientais negativos durante sua produção e preferir aqueles que tenham o selo
verde. Pode selecionar os produtos que compra a partir de critérios ecológicos;
adotar estilo de vida de baixo impacto e baixa demanda de carbono. Pode tornar
mais leve o peso da pegada ecológica sobre o Planeta. Nessa perspectiva,
adotada voluntaria e conscientemente, ter à disposição menor quantidade de bens
materiais não significa desfrutar de pior qualidade de vida. O voto de pobreza
é uma opção ecológica radical, que reduz os riscos da ganância, da voracidade e
da ambição pelo acúmulo de patrimônio e de riqueza material.
O trabalhador
pode adotar processos de produção limpos:
gastar o mínimo possível de energia, de preferência renovável; reduzir o uso do
papel, para salvar árvores e florestas;
poupar água; reduzir a geração de resíduos. Na mobilidade para o
trabalho, praticar o transporte
solidário, compartilhando o mesmo veículo com outras pessoas ou usar a
bicicleta ou o transporte coletivo ajudam a economizar energia e, portanto, a
reduzir a poluição do ar, com ganhos para a saúde. O “home office”, trabalhar
em casa, elimina radicalmente esse tipo de gasto no deslocamento. A pandemia de
2020 induziu a esse tipo de trabalho.
O produtor e empresário, o acionista e o investidor podem transcender as preocupações com o lucro
financeiro, praticar a responsabilidade
socioambiental e distribuir de forma
justa os resultados do trabalho. Os fundos de investimentos éticos – que
aplicam recursos em empreendimentos não destrutivos – são uma opção dos
investidores conscientes e responsáveis.
O correntista pode
optar por bancos que não façam marketing enganoso e maquiagem ecológica. Os
bancos podem assumir a responsabilidade ecológica pelo destino que dão a seus
empréstimos e considerar os impactos por eles causados, bem como redistribuir
seus lucros em ações de solidariedade social e ambiental.
O contribuinte pode
influir no destino dado aos tributos recolhidos do trabalho e da riqueza que
ajuda a gerar, por meio de escolhas nos
orçamentos participativos, de doações e deduções fiscais.
O eleitor pode votar em
políticos que tenham compromisso ecológico e eleger candidatos que tomem
decisões, nas políticas públicas e na administração, conscientes dos desafios
climáticos e ecológicos.
O governante precisa ter visão de futuro e do interesse público, para
além de seus objetivos eleitorais imediatos. Precisa ser proativo e propor
normas e leis que estimulem o avanço tecnológico e induzam a adoção das
tecnologias limpas.
O jovem pode
informar-se, estar consciente, não se deixar manipular por propaganda ou por
apelos de consumo fácil, perceber as injustiças e lutar por ideais para além
dos interesses materiais básicos além de adotar estilo de vida que seja
amigável com a natureza e que ajude a proteger seu próprio futuro diante dos
riscos e das incertezas do mundo contemporâneo.
Mulheres, agricultores,
autoridades locais, bem como todos e cada um dos grupos da sociedade podem
ser sujeitos ativos de mudanças em seus campos de ação.
Essas são algumas das formas de se exercer a ação ecológica
no cotidiano. Ao final de cada dia podemos nos
perguntar: quais foram os ecopensamentos, os ecosentimentos e as ecoações,
pelas quais fiz a minha parte para me aprimorar, para melhorar minha qualidade
de vida e as das demais pessoas e da natureza?
Podemos
aplicar aos relacionamentos interpessoais os princípios da tolerância, ética,
honestidade, não violência e solidariedade.
Riquezas
intangíveis e imateriais são tão importantes quanto a prosperidade física e
material, pois cada ser humano tem seu corpo físico, material, e sua mente,
suas emoções, sua alma e seu espírito.
No dia a dia cada ação tem efeitos sobre a
natureza, da qual somos partes integrantes.
O somatório das atitudes de bilhões de seres humanos ajuda a construir
uma nova era na evolução do planeta. Somos seres em transição e uma espécie
co-gestora do rumo da evolução.
A
somatória de pequenas ações individuais (como as atitudes do beija-flor num
incêndio) é necessária para melhorar o todo, mas não é suficiente
para fazê-lo. No âmbito coletivo, ação relevante pode ser feita por meio da
participação em redes sociais, de associações locais, de vizinhança, regionais
ou globais, que lutem por melhorias e pela saúde do ambiente; ações para
levar as empresas e os governos a despertar para a gravidade dos problemas
ambientais e climáticos. As práticas da
democracia direta e da participação encontram novas opções com o uso da
internet, que permite pressionar os tomadores de decisão com mensagens por
causas ecológicas. A partir dos teclados de computadores, compartilham-se
ideias, também se constrói cultura e faz-se ação política sem sair de casa.
A magnitude
dos problemas atuais nesse estágio terminal da era cenozoica exige que tomemos
consciência de que cada um dos atos cotidianos, individuais ou coletivos tem
consequências diretas e imediatas e repercutem na direção que tomará a evolução
da vida na Terra. Fortalecer a unidade
humana para além das diferenças, bem como exercitar a solidariedade para além
da competição individualista podem facilitar a transição da atual sociedade com
suas várias normoses para uma sociedade mais saudável na relação com a natureza
que a sustenta.
Ecologizar
a vida, trazer as práticas de ecologia
integral para o cotidiano de cada um é um modo
harmônico de inserir o ser humano no ambiente em que vive e que o
sustenta. Aprender como fazer isso, aproveitando o conhecimento acumulado por
antigas sociedades e civilizações e agregando-lhe os conhecimentos
contemporâneos, pode ser vital para que o ser humano, um ser em transição, se
torne um cogestor consciente da evolução neste planeta.
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