quinta-feira, 7 de maio de 2020

Visão histórica sobre o IAB-MG


Maurício Andrés Ribeiro (*)

Outubro de 1943. A segunda guerra mundial está em seu auge e no Brasil os pracinhas se mobilizam para participar dela. Em Belo Horizonte, Juscelino Kubitschek, o prefeito municipal, contratou com Oscar Niemeyer o projeto do conjunto arquitetônico da Pampulha, que está em construção. Alberto da Veiga Guignard dirige e dá aulas na escola do parque municipal.

Nesse contexto um grupo de arquitetos resolve fundar o Departamento de Minas Gerais do Instituto de Arquitetos do Brasil, que se filia ao IAB Nacional, criado em 1920 no Rio de Janeiro. Em novembro procedeu-se à solenidade de posse da 1ª Diretoria do IAB-MG “Tendo o arquiteto Luiz Pinto Coelho, 1º. presidente da entidade, em seu nome e em nome dos seus companheiros de diretoria, afirmado a sua resolução no sentido de trabalhar com denodo e convicção no erguimento da classe em Minas Gerais.”.

Uma ata curiosa registra a posse da segunda diretoria do IAB-MG: “Aos 3 dias do mês de julho do ano de 1945 realizou-se no Salão do Instituto de Belas Artes, a posse da diretoria eleita do Departamento de Minas Gerais do IAB. A sessão revestiu-se de brilhantismo, contando com a presença de representantes das altas autoridades, da Sociedade Mineira de Engenheiros, da Associação Comercial, do Partido Comunista e de todos os sócios do Instituto de Arquitetos, professores, alunos do Instituto de Belas Artes e grande número de pessoas.”.

Em 1951, o arquiteto Sylvio de Vasconcellos propôs reformas nos Estatutos da entidade. Houve discussões acaloradas e quando aos poucos vão serenando os ânimos pode-se ouvir o presidente fazendo apelos no sentido de se evitarem discursos paralelos. O presidente é chamado de ditatorial, discricionário, denunciam-se “golpes” para a derrubada de emendas; Sylvio de Vasconcellos abandona algumas vezes a direção dos trabalhos, retirando-se para os fundos da sala e só volta a reassumi-la depois de grande insistência dos colegas. Ao final de dez páginas manuscritas de ata, encerrou-se a aprovação do novo estatuto do Departamento.

Em 1953, o III Congresso Brasileiro de Arquitetos “denunciaria a constante ameaça de outros profissionais trabalhando no campo da arquitetura, que realmente deveria ser exclusivo dos arquitetos.” O governador do Estado, Juscelino Kubitschek abriu os trabalhos e o prefeito Américo René Gianetti dissertou sobre os progressos dos arquitetos mineiros. Em 1959 Suzy Pimenta de Mello foi a primeira presença feminina na diretoria do IAB.

Em 1963 o IAB-MG organizou ida de arquitetos mineiros ao congresso da UIA em Havana, Cuba. De 1964 a 66 o IAB-MG passou por hibernação quase total, dadas as condições desfavoráveis para o trabalho de entidades da sociedade civil organizada.

Em 1966, 27 arquitetos inscreveram-se na 1ª premiação anual de arquitetura do IAB-MG e o crítico de arte Frederico Morais foi um dos integrantes do júri. .

Em 1968 o VII Congresso Brasileiro de Arquitetos realizou-se em Belo horizonte. A escola de Arquitetura o chamava de “Congresso de Comunistas”.

Em 1974, na gestão de István Farkasvolgyi, a prefeitura de Belo horizonte doou um terreno onde seria erigida a sede própria. Naquela década a crise alcançava o IAB até mesmo por falta de chapas a concorrerem às eleições.

Em 1977 o IAB elaborou manifesto ao governador do estado para neutralizar os impactos da mineração na Serra do Curral, entrou na discussão sobre as enchentes no Arrudas e participou da campanha pela anistia ampla, geral e irrestrita. Envolveu-se na luta pela conservação de grutas e abrigos com pinturas rupestres na área do Aeroporto de Confins; na denuncia sobre a remoção de favelados em áreas atingidas por inundações; na luta pela preservação da praça da Estação em Belo Horizonte. Eram temas frequentes as deficiências no mercado de trabalho, exercício da profissão, legislação profissional; a renovação de áreas urbanas, legislação de uso do solo, patrimônio cultural e arquitetônico, habitação, mobilidade e transportes. Havia articulação e parcerias com entidades ambientalistas, de designers, engenheiros, economistas. Nos anos 70 e 80 o IAB colaborou com revistas como Arquitetura e Engenharia, o encarte Vão Livre, no Informador das Construções, a revista Pampulha.

Nesses 70 anos, o IAB conquistou um espaço de expressão na imprensa e junto a entidades representativas do governo. A profissão de arquiteto sofreu grandes transformações e hoje há muitos escritórios, muitas escolas de arquitetura, muitos arquitetos assalariados no setor público.

Foi realizado um concurso para construir a sede do IAB no terreno doado pela prefeitura, na rua Mestre Lucas,70. Mas o projeto não foi construído. Uma sede provisória começou a ser construída e durante muitos anos o IAB funcionou num barracão de obras em frente e ao lado de uma frondosa árvore. A sede foi inaugurada no início dos  anos 80, com a colaboração de toda a diretoria da época e de arquitetos amigos que mobilizaram seus conhecidos e empresas para doarem móveis, serviços e materiais de construção. Naquela ocasião o IAB arrendava a sede em construção  para arrecadar fundos e concluir as obras. Cada recurso era usado para concluir a sede: o piso, o portão metálico, o mobiliário. Para sustentar os gastos correntes, o IAB convidou ONGS como a AMDA- Associação Mineira de Defesa do Ambiente; a associação de desenhistas industriais, o Sindicato de Arquitetos para se sediarem ali e compartilharem parte das despesas de manutenção do local. Essa parceria perdurou por vários anos, além de ter propiciado uma aproximação nos projetos comuns dessas entidades, de interesse da sociedade.

Em 1985 Belo Horizonte sediou no Minas Centro um memorável Congresso Brasileiro de Arquitetos organizado pelo IAB-MG.

No século XXI, com a crise climática, projetar o ambiente construído de modo ecologicamente responsável tornou-se mais um desafio. O projeto e a construção do habitat humano e toda a cadeia produtiva da construção civil demandam muitos recursos naturais e provocam impactos ambientais e emissão de gases de efeito estufa. O IPCC – Painel intergovernamental de mudanças climáticas identificou no campo do ambiente construído grandes possibilidades para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Um arquiteto ecologicamente e hidricamente consciente e responsável precisa projetar edificações que dispensem o uso intensivo de ar condicionado, que tenham baixo consumo de energia, adaptados do ambiente natural, num design que economize, que reaproveite a água e demais recursos naturais e que reduza a emissão de gases de efeito estufa. Nesse  século XXI, com suas catástrofes, pandemias, eventos críticos cada vez mais frequentes, o arquiteto precisa projetar tendo consciência sobre os impactos sociais e ambientais do seu projeto.

 (*) Arquiteto, presidente do IAB MG 81-82. Autor de Ecologizar, Tesouros da Índia; Ecologizando a cidade e o planeta, Meio Ambiente & Evolução Humana e coautor de A água fala. http://ecologizar.blogspot.com ecologizar@gmail.com  Este texto se baseia em Uma história para o IAB-MG, 1983.

 

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