Maurício Andrés Ribeiro
(*)
Outubro de 1943. A
segunda guerra mundial está em seu auge e no Brasil os pracinhas se mobilizam
para participar dela. Em Belo Horizonte, Juscelino Kubitschek, o prefeito
municipal, contratou com Oscar Niemeyer o projeto do conjunto arquitetônico da
Pampulha, que está em construção. Alberto da Veiga Guignard dirige e dá aulas
na escola do parque municipal.
Nesse contexto um grupo
de arquitetos resolve fundar o Departamento de Minas Gerais do Instituto de Arquitetos
do Brasil, que se filia ao IAB Nacional, criado em 1920 no Rio de Janeiro. Em
novembro procedeu-se à solenidade de posse da 1ª Diretoria do IAB-MG “Tendo o
arquiteto Luiz Pinto Coelho, 1º. presidente da entidade, em seu nome e em nome
dos seus companheiros de diretoria, afirmado a sua resolução no sentido de
trabalhar com denodo e convicção no erguimento da classe em Minas Gerais.”.
Uma ata curiosa registra
a posse da segunda diretoria do IAB-MG: “Aos 3 dias do mês de julho do ano de
1945 realizou-se no Salão do Instituto de Belas Artes, a posse da diretoria
eleita do Departamento de Minas Gerais do IAB. A sessão revestiu-se de
brilhantismo, contando com a presença de representantes das altas autoridades,
da Sociedade Mineira de Engenheiros, da Associação Comercial, do Partido
Comunista e de todos os sócios do Instituto de Arquitetos, professores, alunos
do Instituto de Belas Artes e grande número de pessoas.”.
Em 1951, o arquiteto
Sylvio de Vasconcellos propôs reformas nos Estatutos da entidade. Houve
discussões acaloradas e quando aos poucos vão serenando os ânimos pode-se ouvir
o presidente fazendo apelos no sentido de se evitarem discursos paralelos. O
presidente é chamado de ditatorial, discricionário, denunciam-se “golpes” para
a derrubada de emendas; Sylvio de Vasconcellos abandona algumas vezes a direção
dos trabalhos, retirando-se para os fundos da sala e só volta a reassumi-la
depois de grande insistência dos colegas. Ao final de dez páginas manuscritas
de ata, encerrou-se a aprovação do novo estatuto do Departamento.
Em 1953, o III Congresso
Brasileiro de Arquitetos “denunciaria a constante ameaça de outros
profissionais trabalhando no campo da arquitetura, que realmente deveria ser
exclusivo dos arquitetos.” O governador do Estado, Juscelino Kubitschek abriu
os trabalhos e o prefeito Américo René Gianetti dissertou sobre os progressos dos
arquitetos mineiros. Em 1959 Suzy Pimenta de Mello foi a primeira presença
feminina na diretoria do IAB.
Em 1963 o IAB-MG
organizou ida de arquitetos mineiros ao congresso da UIA em Havana, Cuba. De
1964 a 66 o IAB-MG passou por hibernação quase total, dadas as condições
desfavoráveis para o trabalho de entidades da sociedade civil organizada.
Em 1966, 27 arquitetos
inscreveram-se na 1ª premiação anual de arquitetura do IAB-MG e o crítico de
arte Frederico Morais foi um dos integrantes do júri. .
Em 1968 o VII Congresso
Brasileiro de Arquitetos realizou-se em Belo horizonte. A escola de Arquitetura
o chamava de “Congresso de Comunistas”.
Em 1974, na gestão de
István Farkasvolgyi, a prefeitura de Belo horizonte doou um terreno onde seria
erigida a sede própria. Naquela década a crise alcançava o IAB até mesmo por
falta de chapas a concorrerem às eleições.
Em 1977 o IAB elaborou
manifesto ao governador do estado para neutralizar os impactos da mineração na
Serra do Curral, entrou na discussão sobre as enchentes no Arrudas e participou
da campanha pela anistia ampla, geral e irrestrita. Envolveu-se na luta pela
conservação de grutas e abrigos com pinturas rupestres na área do Aeroporto de
Confins; na denuncia sobre a remoção de favelados em áreas atingidas por
inundações; na luta pela preservação da praça da Estação em Belo Horizonte. Eram
temas frequentes as deficiências no mercado de trabalho, exercício da
profissão, legislação profissional; a renovação de áreas urbanas, legislação de
uso do solo, patrimônio cultural e arquitetônico, habitação, mobilidade e
transportes. Havia articulação e parcerias com entidades ambientalistas, de
designers, engenheiros, economistas. Nos anos 70 e 80 o IAB colaborou com
revistas como Arquitetura e Engenharia,
o encarte Vão Livre, no Informador
das Construções, a revista Pampulha.
Nesses 70 anos, o IAB
conquistou um espaço de expressão na imprensa e junto a entidades
representativas do governo. A profissão de arquiteto sofreu grandes
transformações e hoje há muitos escritórios, muitas escolas de arquitetura,
muitos arquitetos assalariados no setor público.
Foi realizado um concurso
para construir a sede do IAB no terreno doado pela prefeitura, na rua Mestre
Lucas,70. Mas o projeto não foi construído. Uma sede provisória começou a ser
construída e durante muitos anos o IAB funcionou num barracão de obras em
frente e ao lado de uma frondosa árvore. A sede foi inaugurada no início
dos anos 80, com a colaboração de toda a
diretoria da época e de arquitetos amigos que mobilizaram seus conhecidos e
empresas para doarem móveis, serviços e materiais de construção. Naquela
ocasião o IAB arrendava a sede em construção para arrecadar fundos e concluir as obras. Cada
recurso era usado para concluir a sede: o piso, o portão metálico, o
mobiliário. Para sustentar os gastos correntes, o IAB convidou ONGS como a
AMDA- Associação Mineira de Defesa do Ambiente; a associação de desenhistas
industriais, o Sindicato de Arquitetos para se sediarem ali e compartilharem
parte das despesas de manutenção do local. Essa parceria perdurou por vários
anos, além de ter propiciado uma aproximação nos projetos comuns dessas
entidades, de interesse da sociedade.
Em 1985 Belo Horizonte
sediou no Minas Centro um memorável Congresso Brasileiro de Arquitetos
organizado pelo IAB-MG.
No século XXI, com a
crise climática, projetar o ambiente construído de modo ecologicamente
responsável tornou-se mais um desafio. O projeto e a construção do habitat
humano e toda a cadeia produtiva da construção civil demandam muitos recursos
naturais e provocam impactos ambientais e emissão de gases de efeito estufa. O
IPCC – Painel intergovernamental de mudanças climáticas identificou no campo do
ambiente construído grandes possibilidades para reduzir as emissões de gases de
efeito estufa. Um arquiteto ecologicamente e hidricamente consciente e
responsável precisa projetar edificações que dispensem o uso intensivo de ar
condicionado, que tenham baixo consumo de energia, adaptados do ambiente
natural, num design que economize, que reaproveite a água e demais recursos
naturais e que reduza a emissão de gases de efeito estufa. Nesse século XXI, com suas catástrofes, pandemias,
eventos críticos cada vez mais frequentes, o arquiteto precisa projetar tendo consciência
sobre os impactos sociais e ambientais do seu projeto.
(*) Arquiteto, presidente do IAB MG 81-82.
Autor de Ecologizar, Tesouros da Índia;
Ecologizando a cidade e o planeta, Meio Ambiente & Evolução Humana e
coautor de A água fala. http://ecologizar.blogspot.com
ecologizar@gmail.com Este texto se baseia em Uma história para o IAB-MG, 1983.
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