Maurício Andrés Ribeiro
A pandemia acelerou a consciência sobre as
deficiências da economia dominante hoje e exigiu de governos intervenções
vultosas para socorrer emergencialmente grande número de pessoas que ficaram de
um dia para o outro sem fontes de renda e
trabalho e mergulharam na piscina da pobreza e do risco de vida.
Além das medidas emergenciais, intensificou-se
a busca por alternativas e por novas ideias sobre como projetar e construir
novo modelo econômico socialmente mais justo e ambientalmente menos destrutivo.
A pandemia estimulou as mentes a imaginarem conceitos e modelos novos e a
colocarem em prática novas propostas.
O Fórum econômico mundial elegeu como seu tema
para 2021 O grande reinício (
The Great Reset)
depois da pandemia.
Renda básica universal e impostos sobre
grandes fortunas passam a ser considerados até mesmo por financistas e seus porta-vozes. Fundos internacionais alertam que
não vão investir em empreendimentos predatórios.
O FMI sinaliza que se deve levar à superação
do PIB como indicador econômico. Países propõem mudanças: a União Europeia aponta para a ecologização da economia.
Na
Nova Zelândia, desenha-se uma economia amigável para com o
clima e o ambiente.
Na Costa Rica se aplica a economia
regenerativa na qual o básico é transformar os valores políticos e o modelo
mental.
O Vaticano propõe nova abordagem para definir o que é
essencial para a economia depois da pandemia, repensando o sistema financeiro,
combatendo a desigualdade, propondo renda básica universal e o uso do dinheiro público para o bem comum e
para regenerar a economia.
Estudos afirmam que a pandemia acelera a história e tornará o mundo diferente do que
foi, com menor presença norte-americana, mais desordem e mais desafios globais,
menos dependência da China e da Índia para as cadeias de suprimento de
equipamentos de saúde e medicamentos,
por meio de produções em muitos outros países, bem como maior resistência a
imigrantes, possíveis portadores de vírus perigosos.
Enfraqueceram-se as ideias de progresso e
desenvolvimento enquanto crescimento do PIB, bem como
sua substituição por indicadores de bem estar tais como IDH, SPI e outros, (inclusive
alguns específicos para a saúde, a educação)
e reforçou-se a necessidade de pensar na escala temporal da
evolução e na inserção da história humana na história natural.
Fritjof Capra é um pioneiro do pensamento holístico
ecológico e mantem um centro de ecoalfabetização na California. Ele escreve que o vírus é uma reposta do
planeta, Gaia, às agressões que os
humanos estão impondo com a devastação ambiental resultante da ganância. O
vírus traz lições que precisam ser aprendidas no campo dos valores e da ética e
mostrou que em pouco tempo pode-se melhorar o ambiente. Ele aponta para a
importância da consciência das novas gerações e das mulheres no poder, da redução
de injustiças e da cooperação. Ele critica a obsessão com o crescimento
econômico num planeta limitado e questiona o PIB.
Desenvolveu-se a consciência de que as questões
econômicas e ecológicas devem ser
tratadas conjuntamente e que os ganhos de investir na proteção da
natureza e no pagamento por serviços ambientais podem ser maiores do que
aqueles que se obtêm com sua destruição, que ainda têm tido incentivos. Isso
tem dado origem a uma safra de novos ecologistas capitalistas voltados
para reduzir a pressão sobre o planeta.
Houve redução da ecoalienação, e expandiu-se
a consciência de que somos parte integrante da natureza, não nos descolamos
dela. Emergiu uma
questão de fundo, conceitual, uma abordagem pré-ecológica, com o equívoco de
considerar que "somos animais que escapamos da natureza" . O coronavirus está aí para mostrar que não é
assim.
Os holandeses estão aplicando em Amsterdam a doughnut economics (economia do donut) onde o anel
externo é o limite ecológico e o anel interno são as necessidades sociais. Essa
concepção não focaliza no crescimento, mas a prosperidade e bem estar das
pessoas.
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Um novo paradigma econômico alternativo ao crescimento e focado na prosperidade e bem estar. |
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Na economia donut o espaço seguro e justo para a humanidade se encontra entre o alicerce social e o teto ecológico. |
Estamos num momento de mudança, no qual um
velho paradigma com seu peso e inércia tenta sobreviver, enquanto novos
paradigmas procuram se expandir, angariar apoiadores e se firmar. Há uma fase de transição em que o velho e o
novo coexistem, até que o novo se
imponha. Assim por exemplo, a aplicação
em larga escala da economia donut depende dela ser melhor conhecida e que mais políticos, jornalistas e outros venham a defendê-la,
da experiência piloto em Amsterdam mostrar
bons resultados, de outras cidades-laboratório a experimentarem, de
haver maior motivação e interesse para estudá-la em escolas, universidades,
cursinhos e virtualmente nas redes sociais; de seus postulados serem desejados
como habilidades dos economistas no setor público e nas empresas, de questões
sobre essa proposta conceitual serem colocadas em concursos públicos, de que eleitores votem em políticos que defendam a proposta.
Com o tempo, vencendo desconfianças e
resistências, superando obstáculos na implementação, um novo paradigma
econômico pode vir a substituir aquele
que já se mostrava obsoleto e cuja decrepitude foi escancarada pela
pandemia.
Mesmo com essa boa vontade que se vem pintando no universo econômico mudanças substanciais, é preciso ficar atento porque as potencias nacionalistas vão continuar defendendo o Neoliberalismo Estados Unidos e Inglaterra não terão nenhuma afinidade com essas propostas.
ResponderExcluirAtenciosamente Antônio de Paiva Moura
Não por acaso está acontecendo essa pandemia.
ResponderExcluirA ganância obscurantista em curso revela o modelo falido neoliberal.
É urgente, ações estão sendo recomendadas para salvar o planeta e o ser humano, q com esperança e fé, caminha para uma evolução dígna em princípios fraternos.