Maurício Andrés Ribeiro
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Macacos num templo em Jaipur- India |
A relação dos humanos com os animais
está na raiz de várias pandemias.
O ciclo desse relacionamento inclui a
destruição das florestas onde habitam animais silvestres, sua captura e caça,
sua manutenção e criação em cativeiro, sua comercialização em mercados molhados,
seu abate em frigoríficos, o consumo de sua carne. Nessas etapas há ambientes e
situações favoráveis para a transmissão de vírus de uma espécie para outra,
inclusive para a espécie humana.
A destruição de
habitats naturais de animais provoca sua migração para locais habitados por
humanos e a contaminação de outros, disseminando doenças. Os vírus Nipah, da
Zika, Sars, Aids e Ebola se originaram em populações animais e depois
ultrapassaram a barreira das espécies.
No caso dos chamados animais de
produção (vacas, porcos, frangos), esse ciclo inclui sua criação intensiva em
confinamento. Ao tratar
com crueldade e desrespeito os animais em fazendas-fábricas, o ser humano
produz as condições para que zoonoses ou doenças de origem animal se voltem
contra si. Os frigoríficos, locais úmidos e fechados, refrigerados e
com congelamento, onde são abatidos tornaram-se locais de risco para a conservação
dos vírus.
Mercados em que se
vendem animais silvestres,
com crueldade e desrespeito aos animais com precárias condições sanitárias são
ambientes em que os vírus se multiplicam
e transmitem as zoonoses pelo contato próximo com os compradores. Em Pequim, um
novo surto na China se originou num mercado que vende carne
bovina e de cordeiros.
Pandemias,
saúde global e escolhas pessoais é um pequeno livro precioso escrito por
Cynthia S.Paim e Wladimir J. Alonso, numa linguagem de fácil comunicação e com
grande consistência. É um livro oportuno nessa conjuntura de pandemia. Ele trata
de modo abrangente do ciclo do abastecimento alimentar e seus efeitos sobre a saúde.
Considera o contato direto com vírus selvagens e com os animais considerados como
máquinas de produção extrema, na selva ou
nas cidades, como facilitador de ocorrência de pandemias. Trata da fabricação dos
organismos patogênicos, da fragilização diante dos patógenos e da
biossegurança. Aborda o transporte de animais vivos, a relação entre estresse
dos animais e a fragilização em sua imunidade. Aponta como o uso dos
antibióticos facilita a proliferação de bactérias resistentes. Trata dos impactos
econômicos e aborda a história da relação humana com os animais. Relaciona as
escolhas pessoais de hábitos alimentares com os riscos para a sociedade e como
a tecnologia e hábitos culturais de alimentação podem produzir um mundo mais próspero
e mais resiliente. Os autores constatam que quanto maior o consumo de carne,
maior o risco de novas pandemias.
A pandemia
explicita com clareza que o ser humano não se descolou da natureza, que é parte
integrante dela e que o que acontecer com ela repercute sobre os humanos. Ajuda
a dissolver a fantasia da separatividade que acredita que, por termos cultura e
fala, nos separamos da natureza.
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Prato vegetariano típico do sul da Índia |
Ela traz a importância de considerar conjuntamente a saúde humana, social e ambiental
para prevenir futuras pandemias. A prevenção de pandemias é mais barato do que agir depois que
ocorreu. Com a pandemia aconteceu uma expansão da consciência
sobre os diversos aspectos de uma saúde
integral: humana, dos animais, saúde ambiental, física, mental, emocional, espiritual. Como
efeito colateral da pandemia , expandiu-se a consciência sobre a relação que
existe entre as doenças que atingem os seres humanos e a destruição
de habitats naturais e do meio ambiente em que vivem várias espécies de
animais. A proteção das florestas pode ser um modo eficaz de evitar o
surgimento de novas epidemias danosas para a vida humana.
Um efeito
colateral da pandemia foi ampliar a consciência de que
mudar a relação com a natureza, com os habitats naturais de animais silvestres,
evitar desmatar, desocupar áreas já ocupadas e deixá-las regenerar e se
restaurar são algumas ações para prevenir futuras pandemias que se originam de
alterações nos habitats naturais.
Retirar-se de ambientes ocupados e
desmatados e deixar que se regenerem
naturalmente ou por meio de restauração humana é atitude prudente e sábia para
prevenir futuras pandemias. James Lovelock já escrevera que não precisamos mais
de desenvolvimento sustentável; precisamos de uma retirada sustentável.
Precisamos exercer a arte de sair de cena.
Mudar as
relações humanas com os animais silvestres ou domésticos que não são coisas,
são seres sensíveis e em algumas tradições são divindades sacralizadas. A Nova Zelândia reconheceu os animais como seres sencientes.
Reequilibrar
a relação com os animais é crucial para evitar futuras
pandemias, que podem surgir em regiões desmatadas como por exemplo na Amazônia.A prevenção de próximas
pandemias depende de uma mudança cultural e de consciência ecológica tornando
menos cruel e agressiva a relação dos
humanos com os animais, protegendo
habitats de espécies silvestres e reduzindo o carnivorismo.
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