Maurício Andrés Ribeiro
Ao projetar filmes
realizados em 21 países, a Mostra
Animal ofereceu um painel das diversas formas de refletir sobre o
relacionamento humano com os animais. Esse é um tema essencial para a saúde e
bem estar do planeta, da nossa espécie e dos animais.
As imagens mais poderosas
dos filmes são as que captam o olhar dos animais. Seu modo puro e direto de
olhar o mundo expressa a verdade daquilo que sentem no momento: alegria, medo,
sofrimento, dor, relaxamento, tensão, energia vital, entrega, curiosidade.
Olhar nos olhos dos animais é um caminho eficaz para se conectar afetiva e
emocionalmente com eles. Há imagens comoventes e enternecedoras das relações que se estabelecem entre as pessoas humanas e
não humanas, com os sentimentos de compaixão, de sensibilidade humana.
O filme
“O abrigo” mostra o resgate, por amor, de
alguns dos milhares de cães abandonados depois da tragédia na região serrana do
Rio de Janeiro. O filme americano “O
Reino Pacífico: jornada rumo ao lar” mostra como uma mudança de percepção
transforma um grande empreendedor do agronegócio, insensível e brutalizado pela
atividade que o sustenta, num ativista
defensor dos animais. A trajetória dele em termos de consciência e ação lembra
a do agrônomo José Lutzemberger, que no início de sua vida profissional
trabalhou numa multinacional produtora de agrotóxicos e que depois evoluiu para
tornar-se um dos mais combativos ativistas brasileiros pelo meio ambiente. O filme mostra como o relacionamento das pessoas com os animais se endurece e
insensibiliza, torna-se anestesiado e desconectado à medida que se internalizam
condicionamentos culturais.
Qual a fronteira entre humanos e animais? |
O filme francês A.L.F.
retrata o drama dos ativistas da frente
de libertação animal que, em nome dos princípios de defesa dos animais
submetidos à vivissecção em laboratórios,
praticam ações que são consideradas terroristas.
Frente de Libertação Animal, o filme. |
Palavras muito usadas nos
filmes projetados são abolição e libertação. Durante muito tempo a escravidão
humana foi considerada um fato normal da vida e da economia. Precisou ocorrer
um forte movimento abolicionista para que os escravos fossem libertados. Os
novos abolicionistas pela libertação animal no século XXI ainda são poucos, mas
adquirem força politica a partir da sensibilização, da repulsa à escravidão
animal e da força de suas ideias. Vários filmes tratam da vida miserável dos
animais de produção, tais como raposas para a produção de peles, vacas
leiteiras, galinhas para a produção de ovos, elefantes para o transporte de
toras de madeira em desmatamentos, cães,
macacos e ratos em laboratórios de testes. Mostram imagens perturbadoras e
estarrecedoras sobre as situações em que
vivem e como são mortos. O filme americano “A testemunha” em sua sequência final
mostra os olhares chocados de cidadãos nova-iorquinos ao assistirem os filmes
sobre tais situações, exibidos num cine grátis nas ruas da cidade.
Outros filmes, como “A engrenagem”, produzido
pelo Instituto Nina Rosa ( responsável pelo clássico filme “A carne é fraca”) explicam com ciência as
cadeias produtivas da carne e os seus impactos ambientais e sociais. Artistas e
pessoas com projeção na mídia se expõem corajosamente e emprestam suas imagens
para defenderem as causas da proteção aos animais.
O cruel e insensível
relacionamento dos humanos com os não humanos tornou-se uma normose cultural e
social, ou seja, doença difusa que nem mesmo é percebida como tal. Por outro
lado, cresce em todo o mundo a percepção
de que esse tipo de relacionamento precisa ser superado, evitando a crueldade, os
abusos e maus tratos covardes. Os organizadores da Mostra Animal prestam um
relevante serviço ao promoverem o respeito animal e ao fomentarem um novo modo
de percepção e de consciência sobre a relação entre as pessoas humanas e as
pessoas não humanas.
Pets e "animais de produção" são tratados de modo distinto pelos humanos. |
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