Maurício Andrés Ribeiro
Com a pandemia, as viagens internacionais de
turismo, diversão, lazer e recreação sofreram forte impacto, devido aos riscos sanitários
nos cruzeiros marítimos e as dificuldades para entrada em diversos países. O
vírus reduziu drasticamente o viajismo, o consumismo na forma de viagens, e impactou o
turismo. Cruzeiros, voos de baixo custo e resorts, do turismo de massa,
foram paralisados.
O turismo geriátrico pelo qual
multidões de idosos abonados se deslocam freneticamente pelo mundo para olhar
de perto atrações e patrimônios, sofreu uma freada brusca com o coronavirus.
Milhares de pequenos empreendedores, donos de
pousadas, pequenos comerciantes voltados para atender aos turistas e à
população flutuante e sazonal perderam suas fontes de renda.
Os residentes em lotais de atrações turísticas
desenvolviam uma tendência à turismofobia, a aversão ao turismo. O
turismo de massa pressiona a
infraestrutura das cidades turísticas e costuma matar
a galinha dos ovos de ouro, a atração de que se
alimenta. A pandemia reduziu os impactos ambientais negativos de grandes fluxos de
pessoas acima da capacidade de suporte e de carga dos locais visitados que pressiona os recursos naturais.
O turismo de massa gerou a turismofobia nas populações residentes em locais de grande atração. |
Aos consumidores de viagens e à indústria do
turismo que tira seu sustento delas, o coronavirus trouxe a tarefa de encontrar
maneiras de serem realizadas com menores externalidades negativas e
internalizando os custos sociais e ambientais que provocam. Animais
responderam à ausência de humanos, aparecendo nos ambientes dos quais fugiam
quando havia muitos turistas. Será
possível, necessário e desejável ecologizar o
turismo depois da pandemia?
Há quem preveja que o turismo
deverá se centrar em viagens domésticas e regionais e menos em viagens
internacionais. A indústria da hotelaria, incluindo o AirBnB terão que se reinventar.
Lisboa propõe usar os alojamentos de AirBnB como casas para profissionais de serviços essenciais que
vinham sendo expulsos para ceder lugar para turistas. O governo local arrendaria
os alojamentos dos proprietários e os subarrendaria para os moradores.
Os deslocamentos para viagens
de lazer e entretenimento depois da pandemia tendem a se reduzir drasticamente,
especialmente para os idosos e grupos de risco vulneráveis ao vírus.
Os deslocamentos para conferências
e eventos também se reduzem, com a proliferação de teleconferências e tele
eventos a distância.
Também as viagens de negócios
se reduzem com o tele comércio à distância, bem como as viagens para educação e
desfrutar de cursos em universidades estrangeiras.
O turismo internacional tende a ceder lugar a viagens mais locais depois da pandemia. |
Todos os usos que justificavam
viagens físicas dispõem hoje de alternativas mais econômicas e ecológicas para
se realizarem com conexões sociais via internet. Os rincões mais remotos do
mundo passam a dispor de conexões de qualidade que viabilizam viagens virtuais.
Uma das formas de atender à demanda por
conhecer novos lugares é o tele turismo. Viagens virtuais substituem viagens
presenciais. Não há o envolvimento sensorial do tato, do olfato e dos
movimentos, mas há sons e imagens por meio dos quais se visitam museus,
cidades, paisagens naturais. Até mesmo lugares inacessíveis presencialmente, como
por exemplo outros planetas e universos, estão disponíveis em vídeos e imagens
ao toque de um clique na internet. O tele
turismo leva mais longe do que o turismo presencial. A imaginação voa por
sobre as imagens. Além disso é mais barato e provoca menores impactos
ambientais do que o turismo presencial.
Meditação e vida contemplativa levam a ricas viagens para dentro de si em direção ao autoconhecimento. |
No mundo com pandemia, cuidados constantes para
reduzir riscos, novos hábitos de higiene, de distanciamento físico, de uso de máscaras,
ajudam a lembrar que a vida é perigosa. Todos os dias se noticiam muitas mortes e o cerco dela se aproxima, atingindo pessoas
próximas. A presença da morte induz a maior introspecção, questionamentos
do modo de vida anterior, opções por mudar de vida, adotar ritmo mais lento.
As quarentenas e o isolamento físico abriram tempos
para as viagens para dentro de si, o
silêncio. Meditação e contemplação, respiração consciente e atenção ao agora ganham tempos que eram gastos com agitação e
barulho. Sendo bem aproveitados, podem trazer um ganho evolutivo para cada
indivíduo e para a espécie, despertando o amor, a solidariedade, a fraternidade, o sentido
de unidade humana, uma economia minimalista do necessário, bem como uma recusa
ao supérfluo.Os sonhos se tornam mais frequentes e intensos e trazem à tona o que
está no subconsciente.
O freio de arrumação proporcionado pela
pandemia na compulsão por viagens para fora abriu oportunidades para as viagens
interiores, para a introspecção e o autoconhecimento. Elas facilitam a evolução
espiritual, ética e psicológica
necessária para a espécie humana sobreviver nessa mega etapa de transição em
que nos encontramos.
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