sábado, 31 de outubro de 2020

Estado de alerta para lidar com a pandemia

 

Maurício A


ndrés Ribeiro

A pandemia foi como um terremoto que sacudiu a humanidade. Num terremoto, placas tectônicas subterrâneas submetidas a estresse subitamente se movem e provocam uma readaptação. Nesse movimento, provocam impactos na superfície, tsunamis ou ondas gigantes, destruição de cidades e construções, mortes e sofrimento.   A pandemia surgiu repentinamente e se alastrou, com consequências que foram comparadas a uma guerra. Ela acelerou a consciência sobre os perigos  que ameaçam a sociedade e os indivíduos.

No mundo atual acontece uma sucessão de desastres: num dia ocorre um ataque terrorista, em outro dia um furacão ou um acidente ambiental, noutro dia uma pandemia. Incertezas  crescentes e fatos inesperados perturbam as rotinas.

Vivemos na sociedade do risco, escreveu o sociólogo Ulrich Beck. Os riscos estão crescentemente associados a causas globais que inicialmente são invisíveis. A percepção do dia a dia é insuficiente para identificá-los. Por virem de dimensões pouco perceptíveis aos sentidos humanos (vírus, radiações atômicas) depende-se cada vez mais de ciência (matemática, química, física, biologia) e tecnologia (microscópios, radiômetros etc) para detectar tais ameaças. A vida prática real torna-se cega e incapaz de gerar as defesas necessárias diante deles. É necessário conhecimento técnico especializado para compreender o mundo e saber como lidar com ele.

Para proteger a população dos vírus os epidemiologistas, infectologistas, patologistas, imunologistas e profissionais da saúde foram convocados por governos. Eles detêm conhecimento especializado  para lidar com as situações, reduzir os danos à vida e orientar sobre as medidas de controle para evitar sua propagação. Revalorizou-se o conhecimento prático, como lavar as mãos e colocar máscaras. Medidas de isolamento físico e de higiene foram adotadas, aceleraram-se pesquisas e estudos para compreender a doença e para produzir vacinas.

A pandemia acelerou a reflexão sobre a ciência, os limites do conhecimento científico,  certezas e incertezas.

A ciência e os cientistas se alimentam das controvérsias e de aproximações sucessivas à verdade. Isso alimenta insegurança nas mentes das pessoas. Precisando de proteção, recorrem a lideranças que aparentemente lhes fornecem segurança e desacreditam da  ciência.

Em vários países os cuidados praticados no início da pandemia foram relaxados, com maior aglomeração e saída às ruas: "O vírus destruiu o significado antigo de segurança." O comportamento temerário facilita a circulação do vírus e o prolongamento da duração da doença em ondes sucessivas.

A vulnerabilidade e a exposição a riscos se distribuem desigualmente na sociedade,  prejudicando os menos capazes de se protegerem. Numa metrópole, pessoas nas periferias tem poucas condições de fazer quarentena e  isolamento físico, por necessidade de trabalhar e ganhar o pão de cada dia ou por falta de espaço.

A segurança foi  reconceituada e a biossegurança tornou-se um tema central, juntamente com as questões  de segurança ecológica, segurança climática, segurança hídrica, segurança alimentar, emergências que estão na origem e na raiz de outras formas de insegurança pública, econômica, social, política.

 

Reconhecer os perigos é um primeiro passo para prevenir outras pandemias. A percepção do risco acende luzes amarelas de alerta e de emergência e  desperta energias para enfrentá-lo. O aprendizado com a pandemia de 2020 pode deixar lições valiosas para se lidar com outras emergências e acender um sinal de alerta para se ficar atento e vigilante em relação a outros perigos e ameaças à segurança  que emergem no horizonte.

 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário