quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Mudar a relação com os animais para prevenir pandemias



Do morcego para a civeta e para os humanos


A prudência diante do coronavirus aconselha lavar as mãos, usar máscaras, fazer isolamento físico. Com isso reduzem-se os riscos de se contrair  a doença, ter sequelas e morrer. Atitude imprudente ou temerária vai no sentido inverso. Quando se reduzem os cuidados preventivos aumentam os riscos de contrair a doença. Quando se perde a paciência com os isolamentos e quarentenas e se transgridem os protocolos de segurança sanitária fica-se exposto aos riscos e à contaminação. Atitudes  prudentes na vida individual, baseadas em conhecimentos práticos de como se comportar, ajudam na sobrevivência e manutenção da saúde.

Na vida coletiva, atitudes preventivas baseadas no conhecimento podem reduzir os riscos da sociedade se expor a situações de insegurança biológica. Existe crescente quantidade de conhecimento à disposição da sociedade para orientar comportamentos prudentes.

Prevenir a sociedade contra a vinda de novas pandemias pode evitar mortes e sofrimentos, além de reduzir custos econômicos. Os  benefícios da prevenção são maiores do que os prejuízos causados por uma pandemia como a Covid-19. Proteger os habitats de animais silvestres e alterar o relacionamento humano com os animais são modos econômicos e ecológicos de prevenção de pandemias. A redução dos desflorestamentos e o controle do comércio de animais silvestres são mais baratos do que controlar uma pandemia depois que se instalou. O artigo Ecologia e economia para a prevenção das pandemias mostra que investimentos para prevenir o desflorestamento tropical e limitar o comércio de animais silvestres protegem contra futuras explosões de zoonoses (Science,  24-july 2020, vol. 369 issue 6502 p. 379 e seguintes.) Com o desmatamento, por exemplo na Amazônia, o contato de espécies de animais silvestres com animais domésticos e com humanos se intensifica e aumentam os riscos de transbordamento de vírus (spillovers). Prevenir pandemias pode custar 2% do custo da Covid-19. Postergar uma estratégia global para reduzir os riscos de pandemia pode levar a custos muitos altos.

Mudar a relação com a natureza, com os animais silvestres, evitar desmatar, desocupar áreas já ocupadas e deixá-las regenerar e se restaurar, são algumas ações para prevenir pandemias. Estão relacionados entre si os diversos aspectos  de uma saúde integral: humana, dos animais, saúde ambiental,  física, mental, emocional, espiritual. Doenças atingem os seres humanos com a destruição de habitats naturais em que vivem várias espécies de animais.

Mercados de animais silvestres são locais que facilitam a difusão de epidemias. Tais mercados precisam ser eliminados  e redes de implementação de vida silvestre precisam   ser implementadas. Hábitos de comer animais silvestres em larga escala facilitam a difusão de doenças.  Na China a criação de animais silvestres em cativeiro  foi banida em fevereiro de 2020.

A pandemia evidenciou a importância de tornar mais respeitosa a relação humana com os animais, e de reequilibrar a relação com a natureza. Ela chamou a atenção  para  a necessidade de reduzir a caça, a matança, bem como o tráfico de animais silvestres, que traz risco  ecológico, sanitário e humanitário.

Investir em prevenção das próximas pandemias requer conhecimento, capacitação e recursos financeiros. Exige prontidão para prevenir o alastramento de doenças e mortes, com pessoas capazes de atender prontamente a situações emergenciais. É sábio capacitar os agentes de defesa para lidar com a segurança biológica, ecológica, climática e ambiental e prover os recursos necessários para enfrentar os novos riscos a que estão expostas as populações.

O princípio da precaução presente na Declaração do Rio de 1992 afirma que, na ausência de certeza científica, o risco de um dano irreversível requer medidas que o previnam. Esse princípio garante contra riscos potenciais que  não podem ser ainda identificados por falta de conhecimento.  Defender-se de tais riscos, por meio de ações preventivas e não apenas reativas pode reduzir prejuízos econômicos e sociais.

Governos e populações locais têm um papel relevante para prevenir emergências.  

Ações preventivas podem evitar a ocorrência da tragédia. Num Titanic que afunda ou num avião em queda, o passageiro tem pouco a fazer para evitar o desastre. A prevenção de próximas pandemias  depende de uma mudança cultural e de consciência ecológica que torne menos cruel a relação dos humanos com os animais, que proteja habitats de espécies silvestres e reduza o carnivorismo.

A prudência é uma atitude ecológica que reduz custos sociais e econômicos.

 

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