Maurício Andrés Ribeiro
A higienização se faz em várias escalas, do ser humano interior ao indivíduo, da casa ao bairro e à cidade, da região ao país e ao mundo. Figura: Pierre Dansereau
Higienizar
é um verbo que se tornou de uso corrente durante a pandemia. Lavar as mãos é
uma boa medida para evitar a propagação de várias doenças e da COVID-19.
A
pandemia explicitou a desigualdade social, com muita gente sem ter condições de lavar as mãos por falta de
saneamento. Bilhões de pessoas no mundo e 40
milhões no Brasil não dispõem de acesso a água em suas casas. Os pobres
são os mais duramente afetados pela doença. A doença
se espalhou com intensidade nas áreas com maior densidade de ocupação do solo e de população.
Além da água e sabão, o uso do álcool gel,
o distanciamento e uso de máscaras são medidas de higiene corpora. Nas escolas de arquitetura ensina-se a importância
da ventilação natural ao invés do ar condicionado, e da insolação natural para
matar as bactérias. A falta de
condições mínimas de distanciamento físico, de
higiene e ventilação adequada nas moradias em
favelas e comunidades densas e em cidades compactas induz às doenças do adensamento, como
tuberculose e pneumonia. No início do século XX os urbanistas higienistas as combatiam
por meio da renovação urbana e derrubada de edificações insalubres. A pandemia
do século XXI reacendeu a consciência sobre a importância do saneamento básico. Um ambiente doméstico insalubre adoece as pessoas que nele
vivem.
Na pandemia evidenciou-se a questão da saúde no urbanismo bem como a
relação entre saúde, água e saneamento. Constatou-se a presença de coronavirus
nos esgotos. Uma das principais estratégias para
evitar que as epidemias tenham um alto
custo em doentes e mortos é prover água e coleta de esgoto onde as pessoas
moram. Investir no saneamento ambiental
reduz a sobrecarga sobre os postos de saúde e hospitais.
A
drenagem é um tema do saneamento básico que se relaciona com a forma como se
usa o espaço. Manter áreas permeáveis para
infiltrar água de chuva reduz riscos de enchentes. A proteção dos mananciais de abastecimento de água envolve a
reposição de matas ciliares, a eliminação de atividades poluidoras e o controle
dos agrotóxicos. Investir em
infraestrutura é necessário
para reduzir os riscos associados
com a pandemia e com eventos críticos,
tais como enchentes e inundações. Universalizar
o saneamento básico é prioridade para evitar os custos sociais e humanos de uma
pandemia. É uma prioridade necessária, porém insuficiente. O saneamento
ambiental vai mais além e inclui a despoluição do ar, da água e dos solos e a
proteção da vegetação.
O
controle de zoonoses relacionado com animais como ratos, morcegos e outros animais transmissores de zoonoses, capivaras, escorpiões, é parte do saneamento
ambiental urbano. Durante
as quarentenas eles passaram a ser mais
vistos nas cidades, em busca de alimentos. A urbanização em áreas de grande
biodiversidade criou condições para doenças de origem nos animais silvestres e
domésticos se espalharem e facilitou o transbordamento zoonótico de vírus dos animais para os humanos.
A
higienização, a limpeza e o saneamento ambiental são básicos para se
enfrentar as crises sanitárias tanto no
âmbito pessoal, como nas habitações. A higienização ambiental mais ampla inclui
nova forma de relação dos seres humanos com os animais silvestres e com os
animais de produção.
Além desses aspectos ligadas à higiene corporal e
ambiental deve-se prestar atenção à higiene mental e emocional. Manter a paz
mental, reduzir a raiva, o medo e a ansiedade é necessário para se lidar com
situações externas turbulentas como uma pandemia.
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