Maurício Andrés Ribeiro
A história humana na espiral da evolução da história natural
Em
meio à neblina da pandemia é imprevisível o que está à frente. Prevalece a
sensação de que atravessamos uma zona de turbulência na mega história natural e na história humana,
nas micro histórias pessoais e nas histórias
das nações.
Esperar que tudo volte ao normal ou torcer
para que isso aconteça não parece ser realizável. Voltar
ao normal, não! escreve George Monbiot, mostrando os
custos da volta a uma normalidade que
expolia o planeta. Melhor é seguir em frente e mergulhar no
desconhecido. As histórias pessoais e familiares de cada um de nós estão sendo reescritas. Planos foram
alterados, opções de vida foram repensadas,
valores e atitudes foram revistos. Mudanças de ritmo na vida coletiva e na vida
pessoal induzida pela pandemia pode alterar o rumo da evolução caso seja
duradoura e caso a inércia do modo antigo não force um retorno à normose anterior.
Várias
análises focalizaram as mudanças na escala dos estados-nação. A pandemia acelerou
a história
e tornará o mundo diferente do que foi, com menor presença norte-americana,
mais desordem e mais desafios globais, menos dependência da China e da Índia
para as cadeias de suprimento de equipamentos de saúde e medicamentos, por meio
de produções em muitos outros países, bem como maior resistência a imigrantes,
possíveis portadores de vírus perigosos. Neil Howe periodizou os ciclos da história e identificou uma
grande crise no Estados Unidos a cada quatro
gerações, o que coincide com a pandemia de 2020.
Outras
análises foram mais longe e abordaram como a pandemia acelerou o aprendizado humano e com
isso impulsionou transformações no mundo e no rumo da evolução. Como um evento extremo e que tem seu lado trágico, acelerou mudanças na
história, relembraram
escritores. Bruno Latour escreveu que o vírus teve a capacidade de mudar
o mundo rapidamente, como uma guerra, e
que havendo visão, vontade política e ações aplicando os instrumentos
corretos, essas transformações podem
continuar.
Historiador
que em seus livros conectou a história natural e a história humana, Yuval
Harari constatou que para lidar com a
pandemia o maior perigo é o ódio, a ganância e
a ignorância.
A
antropóloga e historiadora Lilia
Schwarcz opinou que a pandemia vai
alterar a história e que tudo vai ser reinterpretado, em novas
narrativas. Spike Lee dividiu a história
em aC/dC-
antes e depois do coronavirus - e propôs apertar o botão de reiniciar e fazer
um reset.
O
evento do Covid-19 é pequeno diante da magnitude da ruptura trazida pelas
mudanças do clima e pela dinâmica planetária nesse estágio terminal da era
cenozoica.
Em transição para nova etapa, a humanidade entrou numa
mega crise da evolução. Vários pensadores propuseram nomes para ela: era
ecozoica, tecnozoica, eremozoica, psicozóica etc. Sugiro que pode ser a era da
consciência - a era noológica. Para
sobreviver nessa nova etapa, a espécie humana precisa se reinventar,
especialmente no campo da consciência: das ciências, das artes, das filosofias
e cosmovisões, do autoconhecimento, da
educação, da aprendizagem, da espiritualidade e das práticas de vida frugais.
A
pandemia criou oportunidade para refletir sobre o que já fez sentido, sobre o
que não faz mais sentido e sobre o que pode dar um propósito claro à vida humana individual e coletiva. Foi uma
oportunidade para a recriação e a autotransformação que ainda não se sabe se
será ou não bem aproveitada.
O
tempo dirá.
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