Maurício Andrés Ribeiro
No início de 2020 a pandemia provocou em todo o mundo a adoção de quarentenas e lockdowns, com redução drástica das atividades humanas. O vírus impôs, de fora para dentro, uma mudança de hábitos cotidianos que reduziu as poluições e emissões de gases de efeito estufa.
Nas primeiras semanas das quarentenas reduziu-se a poluição do ar, reapareceram paisagens que antes ficavam encobertas pela poeira, como os Himalaias; na Turquia foram redescobertos bens arqueológicos subaquáticos nas águas mais limpas; tartarugas e peixes voltaram a rios e baias. Reduziu-se a poluição das águas, como as do rio Yamuna na Índia. Esses resultados ambientais aconteceram rapidamente. Todos perceberam que o intenso ritmo de atividades humanas causa impactos negativos e adoece a natureza. A parcial hibernação provocada pela pandemia trouxe vários ganhos para o ambiente natural e social.
Tanto a saúde humana como a economia e as atividades que exerce foram profundamente afetadas por um vírus minúsculo que escapou do ambiente silvestre e se multiplicou entre os humanos. A pandemia explicitou que o ser humano não se descolou da natureza. O coronavirus mostra que não é assim. O que acontecer com ela repercute sobre os humanos. A pandemia ajudou a compreender a unidade humana com os seres vivos, superando a fantasia da separatividade e o dualismo que opõe natureza e cultura. Mas persiste o equívoco de considerar que somos animais que escapamos da natureza na forma de uma crença ideológica antropocêntrica com consequências perigosas que está na raiz de muitos problemas. Essa visão pré-ecológica é cega para a destruição ambiental que está na origem de muitas pandemias.
Ambientalistas denunciaram o déficit de consciência ecológica dos governantes e das populações, a arrogância, a avareza, a ganância e o egoísmo como atitudes que estão na origem de ações que agravam a injustiça social, a devastação ambiental e o risco de surgirem novas pandemias.
A pandemia realçou a importância de manter o cuidado com o meio ambiente. Em vários países se fortaleceram iniciativas para a restauração ambiental. Na quarentena no Paquistão, procurou-se gerar empregos com o plantio de milhões de árvores, com benefício econômico, social e ambiental ao mesmo tempo. Os alertas de cientistas relacionaram a pandemia com a destruição florestal e a relação pouco saudável com os animais. A Nova Zelândia reconheceu os animais como seres sencientes.
Retirar-se de ambientes ocupados e desmatados e deixar que se regenerem naturalmente ou por meio de restauração humana é atitude prudente e sábia para prevenir futuras pandemias. James Lovelock, o cientista que criou a teoria de Gaia, escrevera que não precisamos mais de desenvolvimento sustentável; precisamos de uma retirada sustentável. Precisamos exercer a arte de sair de cena.
Retirar-se de cena é meio caminho andado para promover a restauração ambiental. Quando se dá um impulso inicial, a natureza trabalha a favor de sua própria regeneração.
Restaurar é corrigir algo, depois que foi danificado ou degradado, proporcionando uma forma que se aproxime do original ou que permita o mesmo desempenho das mesmas funções que tinha antes de ser danificado.
A regeneração pode ser natural quando se deixa um ambiente ou paisagem sem uso ( o que ocorreu por exemplo em Chernobyl depois do desastre atômico, ou o que acontece na fronteira entre as duas Coreias, faixa não usada onde a natureza se regenerou. A Restauração pode se fazer a partir de um incentivo ou impulso humano deliberado. Projeto de restauração florestal no Rio de Janeiro em algumas décadas, com persistência, mostra bons resultados.
A proteção das florestas pode ser um modo eficaz de evitar o surgimento de novas epidemias danosas para a vida humana. O investimento nesse tipo de projeto gera empregos, recompõe a natureza ferida, melhora a qualidade do ambiente e o bem estar das pessoas. O Japão é um país que tem longa experiência de recomposição florestal noa Alpes japoneses anteriormente degradados e de restauração da natureza.
O ONU designou os anos de 2021 a 2030 como a década da restauração dos ecossistemas, chamando a atenção para esse tipo de ação prioritária e necessária.
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