sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

A Índia e a pandemia – vacinas e mortes por milhão

 

Maurício Andrés Ribeiro

 A Índia é o maior produtor mundial de vacinas e nessa pandemia recebe muitas demandas de todo o mundo para comprar as ali fabricadas. O Instituto Serum e a Bharat Biotech  são as duas principais empresas produtoras de vacinas. As duas empresas informaram em 5-1-2021  a “intenção de desenvolver a produção e fornecimento de vacinas contra a Covid-19 para a Índia e o resto do mundo.” Eles consideram que “vacinas são um bem de saúde pública mundial e têm o poder de salvar vidas e acelerar a retomada econômica”. As empresas consideram “nosso dever com a nação e o mundo garantir uma distribuição tranquila das vacinas.” A Fiocruz deve importar tais vacinas da Índia.

A Índia tem  grande capacidade industrial, de pesquisa em ciência e tecnologia e capacidade de fornecer produtos por baixo custo. Desse modo pode imunizar sua própria população e a de países em desenvolvimento que tem dificuldades de adquirir vacinas mais caras e que demandam uma logística de distribuição mais complexa por terem que ser mantidas em baixíssima temperatura. A Índia é grande fabricante de remédios alopáticos, ayurvédicos, homeopáticos.

Desde o início dessa pandemia a Índia apresenta números de mortes  por milhão de habitantes cerca de 9 vezes mais baixos do que aqueles que acontecem no Brasil. A Índia tem 108 mortes por milhão de pessoas,  enquanto o Brasil tem 922 mortes por milhão em 4-1-2021. Em números absolutos a Índia (150.151) tem menos mortes do que o Brasil (196.641). 

Quais os fatores e condições que contribuem para esse melhor desempenho indiano diante da pandemia? Quais as razões da Índia desde o início da pandemia e até o momento estar com números tão abaixo dos do Brasil em total de mortes por 1 milhão de pessoas?

Levantamos algumas hipóteses que envolvem tanto aspectos de gestão da pandemia como aspectos culturais e espirituais:

1.      Isso se deve a políticas dos governos federal,  estaduais e locais? Ao fato do governo da India ter sido radical em seu lockdown, enquanto no Brasil houve ambiguidade e posições divergentes das autoridades federais, estaduais e municipais? À melhor ou pior gestão da pandemia?

2.      À distribuição populacional e ao fato  de que a maior parte da população indiana ser rural e mais jovem (mais da metade da população com menos de 25 anos)?

3.      A razões comportamentais e ao fato de o povo indiano ser mais disciplinado e mais respeitoso em relação ao coletivo em comparação com o brasileiro, este mais individualista e mais propenso à transgressão?

4.      À milenar história indiana em que houve um aprendizado e know how de lidar com epidemias e o preparo para enfrentar adversidades e pestes tais como a cólera, peste bubônica e o desenvolvimento de mecanismos de defesa e anticorpos mais fortes e resistentes no sistema imunológico?

5.      A práticas alimentares tais como o uso da pimenta, cúrcuma, cominho e outros condimentos e especiarias fortalecedores da imunidade que atuam como remédios?

6.      Ao vegetarianismo e baixo consumo per capita de carne, que reduzem a existência de wet markets como os da China e daí reduzem o risco de produzir novas pandemias derivadas do relacionamento de humanos com seres não humanos, animais silvestres e outros?

7.      À menor prevalência de diabetes e obesidade que aumentam a vulnerabilidade, em comparação com outros povos?

8.       À consciência do corpo com respiração e posturas corporais adequadas, bem como ao hábito de tirar os sapatos ou sandálias antes de entrar em casa e lavar os pés, comer com a mão direita e fazer a higiene com a esquerda, ao uso disseminado de água sanitária?

9.      Se o contágio depende do estado imunitário e a primeira barreira contra a entrada do vírus no organismo é a mucosa, então a alimentação, respiração consciente ou exercícios posturais podem ter algum efeito nesse estado imunitário?

10.  A práticas e valores espirituais, a meditação, Yoga e crença,  o Namasté ao invés do aperto de mão,   que aumentam a imunidade? Calma, desestresse, coragem, confiança, valores espirituais e fé fortalecem o sistema imunológico?

11.  A fatores  genéticos? A imunidade inata dos indianos seria maior do que as dos brasileiros? Alguns artigos levantam a hipótese de que os indianos podem ter diferenças genéticas que os protegem contra os vírus. E a pandemia na Ásia em geral também intriga os cientistas.

12.   A uma cepa diferente do vírus, menos contagiosa e menos letal do que a que circula na Europa e no ocidente?

13.  À eficácia de medicina ayurvedica e outros modos tradicionais de prevenir e cuidar de doenças? À exposição a uma vacina contra tuberculose?

14.  A uma combinação entre várias dessas hipóteses acima? 

Não há respostas definitivas para essas questões. Continuar acompanhando comparativamente a evolução da pandemia no Brasil e na Índia ajuda a compreender o que nos diferencia e o que nos aproxima. Quando as populações já estiverem imunizadas pelas vacinas e os números baixarem no Brasil e na Índia, poderemos ter uma ideia mais segura sobre esses desempenhos e aprender com as lições da Índia, valiosas para lidar com a pandemia e para prevenir que outras aconteçam.

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