Maurício Andrés Ribeiro
A Índia tem grande capacidade industrial, de pesquisa em
ciência e tecnologia e capacidade de fornecer produtos por baixo custo. Desse
modo pode imunizar sua própria população e a de países em desenvolvimento que
tem dificuldades de adquirir vacinas mais caras e que demandam uma logística de
distribuição mais complexa por terem que ser mantidas em baixíssima temperatura. A Índia é grande fabricante de
remédios alopáticos, ayurvédicos, homeopáticos.
Desde o início dessa pandemia a Índia apresenta números de mortes por milhão de habitantes cerca de 9 vezes mais baixos do que aqueles que acontecem no Brasil. A Índia tem 108 mortes por milhão de pessoas, enquanto o Brasil tem 922 mortes por milhão em 4-1-2021. Em números absolutos a Índia (150.151) tem menos mortes do que o Brasil (196.641).
Quais os fatores e condições que contribuem para esse melhor desempenho indiano diante da pandemia? Quais as razões da Índia desde o início da pandemia e até o momento estar com números tão abaixo dos do Brasil em total de mortes por 1 milhão de pessoas?Levantamos algumas hipóteses que envolvem tanto aspectos de gestão da pandemia como aspectos culturais e espirituais:
1.
Isso se deve a políticas dos governos
federal, estaduais e locais? Ao fato do
governo da India ter sido radical em seu lockdown, enquanto no Brasil houve
ambiguidade e posições divergentes das autoridades federais, estaduais e
municipais? À melhor ou pior gestão da pandemia?
2.
À distribuição
populacional e ao fato de que a
maior parte da população indiana ser rural e mais jovem
(mais da metade da população com menos de 25 anos)?
3.
A razões
comportamentais e ao fato de o povo indiano ser mais
disciplinado e mais respeitoso em relação ao coletivo em comparação com o
brasileiro, este mais individualista e mais propenso à transgressão?
4.
À milenar história indiana em que houve um
aprendizado e know how de lidar com epidemias e o preparo para
enfrentar adversidades e pestes tais como a cólera, peste bubônica e o
desenvolvimento de mecanismos de
defesa e
anticorpos mais fortes e resistentes no
sistema imunológico?
5.
A práticas
alimentares tais como o uso da pimenta, cúrcuma, cominho e outros condimentos e
especiarias fortalecedores da imunidade que atuam como remédios?
6.
Ao vegetarianismo e baixo consumo per
capita de carne, que reduzem a existência de wet markets como os da China e daí
reduzem o risco de produzir novas pandemias derivadas do relacionamento de
humanos com seres não humanos, animais silvestres e outros?
7. À menor
prevalência de diabetes e obesidade que aumentam a vulnerabilidade, em
comparação com outros povos?
8.
À consciência do corpo
com respiração e posturas corporais adequadas, bem como ao hábito de tirar os sapatos ou sandálias antes de entrar
em casa e lavar os pés, comer com a mão direita e fazer a higiene com a
esquerda, ao uso disseminado de água sanitária?
9. Se o contágio
depende do estado imunitário e a primeira barreira contra a entrada do vírus no
organismo é a mucosa, então a alimentação, respiração consciente ou exercícios
posturais podem ter algum efeito nesse estado imunitário?
10.
A práticas e
valores espirituais, a meditação, Yoga e crença, o Namasté ao invés do aperto de mão, que aumentam a imunidade? Calma,
desestresse, coragem, confiança, valores espirituais e fé fortalecem o sistema
imunológico?
11. A
fatores genéticos? A
imunidade inata dos indianos seria maior do que as dos brasileiros? Alguns artigos levantam a hipótese de que os indianos podem ter diferenças
genéticas que os protegem contra
os vírus. E a pandemia
na Ásia em geral também intriga
os cientistas.
12. A uma cepa diferente do vírus, menos
contagiosa e menos letal do que a que circula na Europa e no ocidente?
13. À eficácia de
medicina ayurvedica e outros modos tradicionais de prevenir e cuidar de
doenças? À exposição a uma vacina contra tuberculose?
14. A uma combinação entre várias dessas hipóteses acima?
Não há respostas
definitivas para essas questões. Continuar acompanhando comparativamente a
evolução da pandemia no Brasil e na Índia ajuda a compreender o que nos
diferencia e o que nos aproxima. Quando as
populações já estiverem imunizadas pelas vacinas e os números baixarem no
Brasil e na Índia, poderemos ter uma ideia mais segura sobre esses desempenhos
e aprender com as lições da Índia, valiosas para lidar com a pandemia e para
prevenir que outras aconteçam.
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