Todo produto da atividade humana tem um ciclo de vida. Um alimento é plantado na terra, irrigado, colhido, transportado, processado, comercializado, cozinhado, consumido e seus restos são descartados. Um bem mineral é extraído da natureza, transportado, transformado industrialmente, comercializado, comprado, consumido e depois descartado ou reciclado. Em cada etapa desse ciclo, do berço ao túmulo, da produção ao consumo e ao descarte, usa-se água. Ela não está necessariamente contida no produto final, mas foi usada nas várias fases do processo de produção.
A água virtual se refere à quantidade de água
utilizada durante as várias fases do ciclo de vida de um produto.
Países produtores e exportadores de mercadorias
primárias, como a soja, a carne, o açúcar e o ferro, usam muita água no
processo de produção. Há nisso um custo de oportunidade,
pois essa mesma água poderia ser usada de modo a beneficiar internamente a população.
“Todos os produtos
brasileiros que são exportados, sobretudo os produtos agrícolas, demandam um
volume de água para serem produzidos e essa água é "exportada"
juntamente com estes produtos (soja, carne ou cana-de-açúcar) sem que seja contabilizada.” [1]
A agricultura é uma das atividades humanas que mais consome água. Países com
pouca disponibilidade hídrica precisam importar alimentos e outros produtos de
países que tenham grande disponibilidade de água.
No Brasil, a exportação de commodities para gerar dívidas
internacionais e abastecer outros países, induz a se implantar a pecuária
bovina ou a plantar soja. A demanda alimentar por carne e soja para alimentar animais
pressiona pela devastação da Amazônia. Essa devastação enfraquece os rios
voadores, reduz os volumes de chuvas no centro-oeste e sudeste brasileiros e
prejudica a agricultura nessas regiões. Os custos ambientais se avolumam ao se
abastecer populações com alimentos que demandam muita água para serem
produzidos (carne bovina por exemplo). O Brasil
é competitivo porque exporta soja sem cobrar por água e biodiversidade
perdidas, diz cientista - BBC News Brasil
O Brasil tem um rebanho de 200 milhões de cabeças de gado
e exporta carne para 150 países. Isso é apresentado na mídia como um grande
feito. Mas numa perspectiva e visão crítica, pode significar o inverso: estamos
cevando no mundo e facilitando hábitos alimentares carnivoristas, na contramão
do que seria um hábito alimentar com menores impactos para o meio ambiente,
para o clima e para a água. O veganismo
e o vegetarianismo são hábitos alimentares menos consumidores de água, energia
e terra.
A água virtual contida num
produto pode ser reduzida quando se adotam tecnologias hidroeficientes, que
permitem produzir mais com menos água. Também pode ser reduzida por meio de
mudanças nos hábitos de consumo, substituindo-se produtos muito sedentos por
outros que precisam de menos água para serem produzidos.
No comércio internacional esse tema está
presente. O Conselho Mundial da Água e o
Instituto para a Educação da Água da Unesco, recomendam que a” água virtual tem
de ser uma opção de política, ou seja, pode aliviar a pressão sobre países com
pouca oferta de recursos hídricos, mas deve vir acompanhada de uma política de
conscientização para o uso de produtos que demandem uma quantidade de água
menor.”
David Pimentel[2] é um autor que estuda e
propõe modos de reduzir a demanda de água: “A questão central, defendida por
Pimentel (2004), é que o volume de água gasto em alguns produtos é muito
elevado, e que haveria possibilidades de diminuição significativa da demanda de
água a partir de modificações na dieta alimentar de várias populações. “ “Pimentel
(2004) afirma a necessidade de que se reestruture o cardápio, de maneira que
ele seja mais "sustentável", privilegiando os produtos que exigem menos
água para sua produção. Assim, um prato com batata e frango, por exemplo, exige
muito menos água para sua obtenção do que um prato com arroz e bife bovino.”
Produzir soja para alimentar animais que por sua vez alimentam os humanos não é
hidricamente eficiente e tampouco é eficiente na perspectiva da ecologia
energética.
Caso o comércio internacional contabilizasse
integralmente os custos, contribuiria para reduzir o desmatamento na Amazônia e
suas consequências negativas para o restante do Brasil.
O hidronegócio domina na área de produção de
alimentos, na mineração e na economia das commodities. É preciso fazer uma
contabilidade integral, incluir os custos não contabilizados do uso e exaustão
do patrimônio hídrico e encontrar modos de redirecionar a demanda para
privilegiar o consumo de bens pouco intensivos em água. A água virtual é um
conceito relevante para acertar essa contabilidade integral.
[1]
Citado em Carmo, Roberto Luiz; Andréa Leda Ramos de Oliveira Ojima;
Ricardo Ojima; Thais Tartalha do Nascimento - Água virtual, escassez e gestão: o Brasil como grande
"exportador" de água. Artigo • • dez • https://doi.org/10.1590/S1414-753X2007000200006
[2]
Citado em Carmo, Roberto Luiz; Andréa Leda Ramos de Oliveira Ojima;
Ricardo Ojima; Thais Tartalha do Nascimento - Água virtual, escassez e gestão: o Brasil como grande
"exportador" de água. Artigo • • dez • https://doi.org/10.1590/S1414-753X2007000200006
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