terça-feira, 13 de setembro de 2022

Gestão transfronteiriça das águas na América do Sul

Numerosos corpos hídricos na América do Sul fazem fronteiras entre países ou nascem num país e passam para outro. O Brasil tem pelo menos 83 rios e 11 aquíferos transfronteiriços.

Na bacia Amazônica (figura 1) o Brasil recebe águas de países situados a montante, como a Bolívia, a Guiana Francesa, a Guiana, a Venezuela, a Colômbia e o Peru. Na bacia do Paraná-Paraguai-Prata (figura 2), águas brasileiras fluem para países situados a jusante, como  a Bolívia, o Paraguai, a Argentina e o Uruguai.

Figura 1 – Rios fronteiriços e transfronteiriços na Bacia Amazônica.  Figura 2- Rios Fronteiriços e transfronteiriços na Bacia do Paraná - Paraguai- - Prata.    Fonte: Guimarães, ANA, 2013.

Reservas  subterrâneas de água são compartilhadas entre os vários paíes.  Elas não respeitam fronteiras politicas nacionais. Os aquíferos subterrâneos têm fluxos em várias direções, cujo conhecimento ainda depende de estudos mais detalhados.

Na falta de cooperação e diálogo sobre as águas, ocorrem conflitos entre os países. Na América Sul, ficou conhecido o conflito sobre as papeleiras no rio Uruguai, que colocaram em campos opostos o Uruguai e a Argentina. Esse conflito foi resolvido pela Corte Internacional de Justiça em Haia mas deixou sequelas.

Melhor do que reagir a um conflito depois que ele ocorreu é agir preventivamente para que os problemas não surjam. Apesar de existirem acordos de cooperação técnica assinados pelo Brasil com todos os países fronteiriços, alguns ainda não saíram do papel ou contam com pouca participação nos processos de implementação.

Encontrar formas de atuar preventivamente para evitar conflitos pela água em rios transfronteiriços contribui para manter pacíficas as relações entre países.

O monitoramento hidrológico conjunto é uma forma de cooperação entre países, compartilhando dados e informações sobre a quantidade e qualidade das águas. Programas de capacitação e de cooperação técnica e científica para o planejamento de redes de medição de dados de chuva e vazão de rios; criação de bancos de dados compartilhados; estudos de sedimentometria, qualidade de água, medições hidrológicas, são valiosos para criar uma base de entendimento comum.

A cooperação internacional baseada na solidariedade entre vizinhos, sem ingerência em assuntos internos, sem condicionalidades, faz decrescer as tensões sociais e políticas e colabora para a segurança coletiva.

Regulações, normas e procedimentos comuns pactuados para monitorar as águas e para manter a sua qualidade reduzem os riscos de conflitos entre países.

Nesse contexto é inspiradora a experiência europeia que criou uma regulamentação comum para seus 27 países, expressa na Diretiva Quadro das águas.

A gestão integrada dos recursos hídricos e colaborativa entre os países poderá, um dia, apoiar-se em uma ainda inexistente, virtual e potencial  Diretiva-Quadro das Águas para a América do Sul.

 



[1] Agradeço a Luiz Amore por colaborações em versão  preliminar deste texto.

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